O regresso da Formula 1 a
paragens europeias, quase dez meses depois de Monza, faz alegrar um pouco os
adeptos mais “tradicionais” da categoria máxima do automobilismo, pois é aqui
onde estão grande parte dos seus adeptos, apesar de, claro, existirem muitos
fãs nas Américas e no Japão. Mas com a tradição desta categoria ser
essencialmente do Velho Continente, onde até há pouco mais de dez anos ficavam
grande parte das corridas do calendário, onde os adeptos podem ver as corridas
a “horas decentes” – ou seja, a hora do almoço – está lentamente a ser perdida
a favor da opção de Bernie Ecclestone em ir onde está o dinheiro.
Mas vamos aos factos: Barcelona é
a porta de entrada na Europa. Um circuito que nunca caiu no goto dos adeptos,
pela sua fama de aborrecida, mas que sempre encheu por causa da “afición” por
Fernando Alonso, provando que em todo o lado é assim: só gostam de corridas
porque há um dos seus na frente. Mas com Alonso a fazer “das tripas coração”
com um mau carro, eles acreditam sempre num milagre. E na qualificação não
andou longe disso.
Mas vamos a ela: debaixo de um
tempo de verão mediterrânico – sol e vento – máquinas e pilotos prepararam-se
para a qualificação, onde a temperatura do asfalto provou ser um fator decisivo
para marcar tempos, especialmente nos momentos em que a temperatura descia e o
asfalto – que andou sempre a rondar os 40ºC – arrefecia. Mas na Q1, o
importante foi marcar um tempo para fazer rodar um jogo de pneus, e onde os do
costume ficaram por lá, mas o pobre coitado a quem lhe saiu a fava. Mas antes
de falar dele, refiro os três do costume, com o HRT de Narain Kathikeyan a não
conseguir fazer um tempo suficientemente decente para estar dentro do limite
dos 107 por cento. Em principio, não deveria alinhar, mas os comissários podem
conceder-lhe um favor pois já andou dentro dele num dos treinos livres.
Veremos.
Quanto ao pobre azarado, calhou a
Bruno Senna, com o seu Williams-Renault. O sobrinho andou com dificuldades para
controlar o seu carro, devido à subviragem, e numa das voltas, queimou até a
travagem por causa disso. Pressionado para marcar um tempo que o colocasse na
Q2, na sua última tentativa que teve, saiu mal de uma das curvas, pisou a zona
suja, despistou-se e entrou na gravilha. Em suma, não aguentou a pressão e cometeu
um erro. Acontece. Em claro contraste, o seu companheiro de equipa, Pastor
Maldonado, era o melhor da tabela de tempos.
Na Q2, o mais interessante foi
ver que durante a parte final dessa sessão, o sol ficou encoberto e a
temperatura do ar – bem como da pista – arrefeceu o suficiente para que os
pilotos entrassem em pista e começassem a fazer baixar os seus tempos quase uns
atrás dos outros. E isso apanhou desprevenido pilotos como Mark Webber, que
teve alguns problemas com o jogo de pneus, e Jenson Button, que sempre se
queixou da eficácia dos seus travões, do desgaste prematuro dos seus pneus e da
subviagem do seu carro. Resultado final: 11º posto e a não-entrada na Q3. Outro
que não entrou na Q3 foi Felipe Massa, e foi vítima do melhoramento dos tempos
dos seus adversários. Largará apenas de 17º na grelha.
E se houve surpresas negativas,
houve surpresas positivas. Se ter os dois Sauber e os dois Lotus na Q3 já
começa a ser habitual, surpreendentemente foi Pastor Maldonado, que colocou-se
no topo da tabela de tempos no ultimo momento dessa sessão, fazendo com que se
começasse a pensar numa surpresa no topo, num inesperado “poleman” num dos
circuitos mais previsíveis do campeonato.
E assim havia alguma expectativa
para a Q3, que não iria contar com Kamui Kobayashi, que tinha tido problemas
hidráulicos no final da Q2 e tinha garantido o décimo melhor tempo. Essa foi
uma sessão de anti-climax, porque todos decidiram aproveitar os primeiros
minutos para... ficarem nas boxes. Alguns não saíram, outros somente marcaram
uma volta burocrática, como se fosse para “picar o ponto” e apenas Lewis
Hamilton marcou um tempo nos primeiros minutos, e parecia que iria ser o único
piloto a fazer uma pole-position por desistência da concorrência.
Mas os últimos três minutos da
sessão foram os mais movimentados. Todos saíram para a pista e usaram o jogo de
pneus mais adequado para ser veloz… ou para ser mais inteligente. Romain
Grosjean, Fernando Alonso, Lewis Hamilton ou Pastor Maldonado queriam o seu
momento de glória e deram o seu melhor, e por muito pouco não tivemos nova
surpresa neste ano surpreendente. É que Pastor Maldonado esteve muito perto de
uma pole-position, a primeira da história para a pátria de Simon Bolivar, e a
primeira de uma Williams desde 2010. Maldonado marcou um tempo para pole, mas
logo a seguir, foi a vez de Lewis Hamilton a fazer um pouco melhor e a
conseguir a sua terceira pole-position da temporada, dando à McLaren a sua 150º
da sua história.
Ao seu lado na primeira linha da
grelha estará Maldonado, que dá à Williams a sua primeira tarde de glória desde
2010, quando Nico Hulkenberg foi “poleman” no Brasil. E a primeira demonstração
da equipa do Tio Frank desde que tem os motores Renault, demonstrando que o
FW34, um carro de desenho simples, é uma boa máquina nas mãos de alguém veloz.
Fernando Alonso foi o terceiro classificado, mostrando mais um milagre nas mãos
do piloto das Asturias, contra um carro que, apensar de ser melhor, continua
desfasado das equipas da frente.
Os Lotus-Renault continuam a
estar em boa forma, com Romain Grosjean a ser um pouco melhor do que Kimi
Raikkonen, mas não estão muito distantes um do outro. Sebastian Vettel foi um
burocrático oitavo posto, mas provavelmente ele hoje poderá ter sacrificado a
rapidez para ter um jogo de pneus mais duradoiro na fase inicial da corrida,
para depois poder atacar a liderança na segunda parte. Veremos se a tática
resultará.
E da qualificação, passamos para
a corrida. Fala-se que amanhã poderá haver ameaças de chuva, o que a
concretizar-se, poderá baralhar todos os dados, e colocar o elemento surpresa
em destaque, tal como aconteceu na Malásia. Veremos.
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