Enquanto assistia no final de semana que passou às 24 Horas de Le Mans, no descanso da minha sala, vi pela televisão - espero um dia ver tudo isso ao vivo - para além das aventuras da Audi, que mais uma vez venceu na prova rainha da Endurance, a estreia do Toyota híbrido, que deu nas vistas nas primeiras horas, antes dos acidentes de Anthony Davidson e de Kazuki Nakajima, que o coloaram fora de combate antes das nove da noite, seis horas depois do começo da prova.
Mas eu estava também ansioso por ver o como se comportaria o projeto da Delta Wing em pista, saído da Highcroft Racing e construido na garagem de Dan Gurney, da All American Racers. Apadrinhado pela Nissan, que lhe forneceu um motor 1.6 Turbo, e pela Michelin, que lhe ofereceu pneus especiais pela ocasião, não deslumbrou, mas não foi assim tão mau. Só que teve vida curta quando Satoshi Motoyama foi vitima de um excesso do Kazuki Nakajima, perto da zona das boxes. Embateu na parede e apesar dos melhores esforços do piloto japonês, ficou-se por ali.
Contudo, o que me desgostou no meio disto tudo foram as muitas reações das pessoas, algumas delas que julgava serem entendidas disto e que os respeito nesta matéria, sobre a aparição do Delta Wing. Não deixei de ler e ouvir vozes de desaprovação sobre o carro, alguns deles expressando alívio e dizendo que esperavam não mais ver tal "bicho" - ou o Batmobile - na pista. E tinha ouvido vozes semelhantes quando dias antes, foi apresentado o projeto do Green GT, um carro híbrido entre a eletricidade e o hidrogénio. Sobre estes dois projetos, defendo-os fortememente pelo facto de estes os fazerem voltar à essência do automobilismo: como laboratório de experiências.
Reparem, nós vivemos uma era de transição. Desde há mais de uma geração que nos têm dito que os combustíveis fósseis são um bem finito e que as suas reservas estarão mais ou menos esgotados em cinquenta ou cem anos. Para piorar as coisas, a libertação do dióxido de carbono na atmosfera em quantidades quase industriais desses combustíveis fósseis - carvão, petróleo e gás - causam o aquecimento global da atmosfera, tornando-a quase insuportável para o clima, e em consequência, para a vida humana. Sendo assim, há duas alternativas: ou melhorar a eficiência dos nossos motores, no sentido de consumir menos, ou então encontrar fontes de energia infinitas, como o sol e o vento, ultrapassando os obstáculos e diminuindo os seus custos.
E também é uma forma do automobilismo retornar às suas origens: as pistas e as competições eram um laboratório ideal para testar novos componentes e novas formas de propulsão. Foi assim que apareceram coisas como os travões de disco ou o chassis de fibra de carbono, apenas para apontar dois exemplos. E hoje em dia essa parte da experimentação está totalmente afastada para dar lugar ao "espectáculo". Isso já é óbvio na Formula 1, onde as "grid girls" tem tanto tempo de antena como os carros de Formula 1. Nada contra as meninas - gosto de coisas belas e bonitas - mas o que quero ver são os bólidos.
E para mim, inicativas como o "Box 56" e carros como o Delta Wing e o Green GT para mim são absolutamente bem-vindas. Simbolizam o regresso ao experimentalismo e também serve para estimular a nossa imaginação, especialmente os mais novos, que são precisos para que se renove o gosto pelo automobilismo. Todas estas "estranhezas", mesmo que queriam torcer o nariz, no futuro poderão ter contribuído para um planeta mais saudável e uma nova geração de espectadores.
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