As noticias sobre o despedimento de Dany Bahar não surpreenderam ninguém. Aliás, como se sabe, quando as noticias sobre a sua venda da Proton à DRB-Hicom, no inicio de março, sabia-se que os dias de Bahar à frente da direção da Lotus Cars estavam contados. As centenas de milhões de euros que foram gastos em projetos sem nexo e sem resultados visiveis, para não falar da personalidade do próprio Bahar, levaram a este desfecho.
A razão porque volto a bater no ceguinho é devido ao post que o Joe Saward escreve hoje no seu blog, a partir de Montreal, onde anda a acompanhar o GP do Canadá. Ele afirma, provavelmente com uma ponta de pena, que Bahar pode passar à história como "o homem que matou a Lotus", comparando-o a Lee Harvey Oswald, o homem que estourou os miolos a John Kennedy, em Dallas, naquele já distante 22 de novembro de 1963. E mesmo que Saward seja uma personalidade suspeita - Bahar acusava-o de ter interesses na Caterham - não deixa de ser certeiro e cruel na sua análise:
"Suspeito que quando se fizer a História deste período, ele [Dany Bahar] assegurou para si mesmo o papel do homem que matou a Lotus - uma nota de rodapé na História como Nathuram Godse [o homem que matou Mahatma Ghandi a 30 de janeiro de 1948] ou James Earl Ray. Talvez o mais adequado seja dizer que foi 'o homem que ajudou a matar a Lotus', porque atrás da personlidade de Bahar estiveram pessoas que deveriam conhecê-lo melhor, que tinham responsabilidades aos contribuintes malaios, que veiram o seu dinheiro desperdiçado em esquemas manhosos.
E foi um esquema manhoso desde o seu começo. Para mim, Bahar foi um Ícaro automotivo, que voou inconscientemente para o Sol com um balão de ar quente rodeado por bandos de "yes-men". As asas desde veículo irreal derreteram-se e como seria de esperar, esmagou-se contra o chão. Resta saber o resultado deste impacto no solo. O seu contrato era um paraquedas de milhões, mas tenho a sensação de que também irá falhar. Se ainda pensa que irá ser pago, é melhor permanecer quieto...
As más noticias disto tudo é que Bahar causou danos irreparáveis à marca Lotus, que se tornou numa anedota nos circulos automotívos. Os malaios pensam que ainda vão a tempo de a salvar, mas agora creio que já seja demasiado tarde. Tony Fernandes, que lutou pelo seu nome há cerca de um ano, já não quer mais, pois decidiu seguir um caminho diferente para alcançar os seus fins. O mais estranho é que agora, existem diversas entidades que tem o direito - e a licença - de usar o nome da Lotus. Talvez Gerard Lopez pode pegar na marca e transformá-lo em algo credível, mas creio que o melhor que pode esperar é transformar em marketing para a sua equipa."
O que Joe Saward escreve hoje é absolutamente verdadeiro: não me recordo de ler em parte alguma, ao longo destes dois anos e pouco, qualquer nota positiva sobre Bahar. E li diversas fontes e publicações do mundo automóvel, quer em termos de corridas, quer em termos de comércio e industria, onde todos falavam da estranha personalidade de Bahar e dos seus comportamentos excêntricos. A americana Jalopnik, por exemplo, contou em novembro de 201o a história de um "encontro imediato do terceiro grau" com Bahar num salão automóvel em Los Angeles e a sua reação extemporânea quando lhe criticaram o facto de ter mandado às malvas o conceito do seu fundador, Colin Chapman: de acrescentar leveza à simplicidade.
Para não falar de, claro, daquele desastre de relações públicas que aconteceu no Facebook há dois meses. Ainda hoje tenho a certeza que foi ele que escreveu aquele malfadado comunicado. Acho que tenho de concordar com toda a gente que, de facto, Dany Bahar vai passar à história como o homem que matou a Lotus. Seria cómico, se não fosse trágico.
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