quinta-feira, 6 de setembro de 2012

5ª Coluna: Velocidades a mais e proteções a menos

Os eventos do GP da Belgica, neste domingo que passou, e especialmente na carambola da curva La Source, em que Romain Grosjean destruiu mais três carros - Fernando Alonso, Lewis Hamilton e Sergio Perez - fizeram despertar a discussão sobre duas matérias: os pilotos demasiadamente "sangue na guelra", e a proteção dos cockpits dos pilotos.

Sobre o primeiro caso, dei a minha opinião num outro artigo que vai ser publicado na revista Speed deste mês, algures na semana que vêm, e do qual coloco aqui uns extratos:

"Que desde há algum tempo temos pilotos demasiado novos na Formula 1, é verdade. Ao longo da década anterior, devido a fenómenos como Fernando Alonso e Sebastian Vettel, a obsessão das equipas foi o de tentar encontrar algum génio precoce, em detrimento de pilotos experimentados. Chegamos a ver pilotos de 17 anos, que tinham pouco mais de uma temporada em monolugares, a experimentarem máquinas de 850 cavalos em vários testes. Isso foi assim até meados de 2009, altura em que as restrições de custos, pelo menos no campo dos testes, onde os veteranos voltaram a ter uma chance de brilhar, dado o seu conhecimento dos carros. Michael Schumacher, Pedro de La Rosa são dois bons exemplos, e podemos dizer que Rubens Barrichello ganhou mais um prolongamento da sua carreira devido a isso.

Mas será que é a excessiva juventude o unico grande culpado? Ou haverá mais razões atrás disso? Acho que a mentalidade é uma delas. Toda esta geração nasceu em meados ou finais dos anos 80, altura em que as mortes estavam a diminuir drasticamente na categoria máxima do automobilismo. O máximo que viram – se conseguiram ver, claro – foram os acontecimentos de Imola, em 1994. Tivemos até agora dezoito anos sem mortes na Formula 1, tempo suficiente para ver crescer uma geração. E curiosamente – ou quase ironicamente – viram e admiram os feitos de Ayrton Senna, cuja frase mais famosa é “se não aproveitares a oportunidade para ultrapassar, não és um piloto suficientemente bom”. Vi isso quando em junho li o tweet do russo Dimitri Suranovich, piloto da GP3, quando quis justificar o acidente com Conor Daly no Mónaco, que destruiu totalmente o carro do piloto americano, num vôo tão assustador quanto espectacular.


Grosjean e Maldonado devem ter Senna como seu modelo, daí a sua velocidade. Mas o facto da Formula 1 – ou do automobilismo em geral, se preferirem – tenha tornado uma competição onde o risco de morte ficou reduzido a quase zero faz com que possam arriscar ainda mais." (...)


É que estes pilotos demasiadamente de “sangue na guelra” fazem levantar outros problemas. Como os dos chassis abertos. Não é nada de novo, falei disso na edição anterior da revista Speed, com o projeto do Ubiratan, mas o facto do carro de Grosjean ter passado a menos de trinta centímetros do capacete de Fernando Alonso fez despertar de novo o problema, numa Formula 1 obcecada por uma segurança a cem por cento.

Sei que existem muitos céticos sobre essa ideia de colocar uma cobertura nos carros de Formula 1. É algo que tem sido testado de vez em quando, ao longo dos últimos 60 anos, e os resultados não são satisfatórios. Digo isso porque todos chegam à solução de que um cockpit aberto é o mais prático. Mas com acidentes como o de Felipe Massa e Henry Surtees, em 2009 e a tal obsessão da segurança, já se está a ser feito o debate. Martin Whitmarsh, na segunda-feira, já admitia a hipótese do cockpit aberto em declarações à Autosport britânica, talvez porque um dos seus pilotos tenha estado envolvido no acidente.

Já começo a pensar desde há muito que provavelmente, um arco de segurança semelhante ao que o Ubiratan propõe, é a melhor solução, desde que se elimine o problema da visibilidade que tal arco proporciona. Mas novas estruturas não podem ser só a solução para diminuir o potencial de um acidente fatal. Também se deve pensar seriamente em educar os pilotos nas categorias de formação. Quem assite as corridas da GP2, GP3 ou a World Series by Renault, assiste a muitos acidentes causados pelos excessos de pilotos com 16, 17 ou 18 anos, e as penalidades não são tão duras como acontece na Formula 1. Acho que os ex-pilotos que são convidados pela FIA para fazerem de comissários nos Grandes Prémios, deveriam também andar nas categorias de base, para educar e punir os prevaricadores.

Creio que já é altura de muitos desses rapazinhos começarem a ser ensinados e respeitarem-se uns aos outros na pista e largar a cultura do ultrapassar a qualquer custo. É que a Formula 1 começa a ficar incomodada com essa gente. 

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