Caro Dan:
O tempo voa, meu caro. Mal se pode acreditar que passou um ano desde que desapareceste, sem avisar, numa grande carambola do qual muitos dos pilotos no passado acabaram por desaparecer, de súbito, no meio de uma grande bola de fogo, ou debaixo de uma vedação qualquer, ou cortado ao meio por uma árvore que teve o azar de aparecer pelo caminho.
Ao olhar para as fotos daquele dia, e o teu objetivo para aquela corrida, via que era uma hipótese do qual irias arriscar e do qual estavas otimista para o alcançar. Mas a vida, como sabias de antemão, é uma roleta, e a hipótese de tudo acabar muito mal era real. Mas também sabias, por experiência própria, que tudo podia acabar em bem, como aconteceu uns meses antes, em Indianápolis, quando tu, com um carro que tinha sido feito para um "one-off", conseguiu aquela que foi provavelmente a mais inesperada das vitórias da história de Indianápolis, precisamente no ano do seu centenário.
E Dan... como merecias aquela vitória! Num ano sem um lugar para ti, e vendo a lenta decadência da tua mãe, aquela que te carregou durante nove meses e que te criou nos primeiros anos da tua vida, vítima de uma maldita doença com um nome estranho, esquecendo-te de quem tu eras, aquele dia, fruto do Acaso, caído do céu aos trambolhões, do qual nem um mau argumento de um filme de Hollywood faria melhor. Mas aconteceu, e merecias tanto como o J.R. Hildebrand, que teve naquele momento todo o azar do mundo, no pior momento possivel.
Nós, os adeptos, dizemos sempre que não merecias aquilo que te aconteceu em Vegas. Mas também muitos lamentaram o facto de não teres tido um lugar decente em 2011, depois de uma temporada de 2010 desapontante. Parecia que não havia lugar para ti, mas provaste em Indianápolis que estavam todos errados. E parecia que as coisas estavam a correr bem para ti, pois em 2012 irias correr na Andretti Autosport, no lugar da Danica Patrick. Parecia que a tua carreira iria renascer, e se ganhasses aquela imensa soma de dinheiro que estava reservada em Las Vegas, irias ser provavelmente o homem mais sortudo do automobilismo.
Mas estava tudo desenhado para que isso não acontecesse. Como disse Graham Hill: "Se algum dia o pior me acontecer, então estou apenas a pagar o preço pela felicidade na vida". E como todos sabíamos, estavas num momento muito feliz, o teu sorriso e a tua atitude nesses dias antes de Vegas expressava isso mesmo.
No final, por tudo que fizeste, serás sempre um campeão. As pessoas, os teus amigos e os teus adversários, te lembrarão de ti dessa forma. Disso... e do teu sorriso Pepsodent, mas não importa. E quando olharem para o mais importante troféu de todos, em todos aqueles finais de maio, te recordarão do facto de teres sido o melhor do "brickyard" por duas vezes, e também que o carro que eles guiam foi aprimorado por ti. Esse deve ser, provavelmente, o teu melhor legado.
Vá em paz, Dan. Fizeste o teu melhor. Um dia, a gente vê-se por aí.
Tocante. valeu mesmo.
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