domingo, 7 de abril de 2013

Jim Clark, 45 anos depois

Hoje faz 45 anos que Jim Clark morreu. Já falei sobre esse assunto ao longo da história do meu blog, e sobre isso, vou recuperar o testemunho de um dos que viveu esse dia, o do jornalista português Francisco Santos, que estava em Brands Hatch em 1968, para assistir às 500 Milhas dessa pista, onde Clark deveria ir num Ford, numa das raras aparições num carro sem ser num Lotus:

"Estava eu sentado na primeira fila da sala de imprensa das '1000 Milhas BOAC' em Brands Hatch. O grid era aliciante e a corrida emocionante. Jim Clark deveria correr no novo P68 Ford preparado por Alan Mann para o Mundial GT desse ano e para uma vitória em Le Mans. Clark aceitou o convite, já que esse carro era apadrinhado por Walter Hayes, a quem o escocês devia bastante do seu sucesso graças ao motor DFV. Segundo o seu amigo Gerard Crombac, desagradou ao piloto que Alan Mann não tivesse confirmado o convite e decidiu pilotar o Lotus F2 em Hockenheim no mesmo dia. (...) 

 As 'BOAC 1000' estavam emocionantes. Ao meu lado, um colega puxou o telefone directo para a redação do 'Daily Mail' e eu senti um vazio, um longo silêncio entre o ronco dos V8. Perguntei 'o que se passa?', e meio gaguejado, respondeu-me 'Clark acaba de morrer'. De repente, toda a sala parou. Em estado de choque."

Naquela corrida fatal estavam pilotos como Henri Pescarolo e Jean-Pierre Beltoise, Clay Regazzoni e Piers Courage, Graham Hill e um jovem piloto de 28 anos chamado Max Mosley. A Lotus estava lá devido a obrigações com a Firestone, e foi algo irónico saber que Clark morreu devido a um furo a alta velocidade, que causou o despiste e subsequente embate contra duas árvores, que desfizeram o carro, matando-o de imediato.

O tal silêncio que se viveu e o impacto que a morte de Clark teve só pode ser comparado - e com justiça, diga-se - à morte de Ayrton Senna, 26 anos depois. E deixou a comunidade da Formula 1 em transe. Um bom exemplo foi o que disse o neozelandês Chris Amon: “Muitos de nós achávamos que éramos inatingíveis, e isso acabou aí…”. Amon tinha razão. Por exemplo, um ano antes, no Mónaco, tinha passado nos restos carbonizados do seu companheiro de equipa, Lorenzo Bandini. E para piorar as coisas, nos três meses seguintes, outros três pilotos iriam perder a vida, todos num dia 7: Mike Spence em Maio, Ludovico Scarfiotti em Junho e Jo Schlesser em Julho… 

O impacto de Clark teve sobre todos nós, "petrolheads", é tal que mesmo os que nunca viram correr ao vivo o colocam entre os grandes. Esta tarde, por exemplo, o meu amigo Daniel Médici escreveu a seguinte frase na sua página do Facebook:

"Há 45 anos, Jim Clark largava em Hockenheim para nunca mais voltar. Foi um gênio. Certa vez, ele passou tão à frente dos demais em frente aos boxes na primeira volta que a organização achou que um acidente tivesse bloqueado a pista. Ninguém que assistiu corridas como o GP da França de 63, o da Holanda em 66 ou o da Itália em 67 jamais esqueceu do talento do escocês -- e, pasme, ele nem sequer as venceu! Ainda assim, ele subiu 25 vezes no alto do pódio em GPs do Mundial, e morreu recordista. Mas continua a viver um pouco em cada bandeira quadriculada, em cada gota de champagne."

Aquela "certa vez" que o Daniel fala em cima era uma corrida em Spa-Francochamps, circuito onde Clark nunca escondeu que detestava... e venceu por quatro vezes seguidas, entre 1962 e 1965. Ganhou à chuva, daquela forma tão convincente que ele refere.

Deixa-me acrescentar mais umas pinceladas a essa genialidade que Daniel fala. Ele vencia em todas as máquinas que ele entrava. Seja num carro nas Tasman Series, seja num carro de Turismo, seja quando ele atravessava o Atlântico e ia para as provas americanas mostrar aos locais como se guiava. E muitas das vezes, vencia. A sua vitória nas 500 Milhas de Indianápolis de 1965 foi marcante, porque foi o primeiro carro com motor traseiro a vencer no "Brickyard" e foi uma demonstração não só da sua pilotagem mas da tecnologia que já se desenvolvia na Europa, o do motor traseiro. A partir dali, graças a Clark e a Chapman, nunca mais um carro com motor à frente venceu em Indianápolis.

O mais interessante disto tudo é que Clark fez tudo sendo fiel a uma marca: a Lotus. E o seu fundador - e alma da equipa - Colin Chapman, estava tão dependente de Clark que pensou seriamente em abandonar tudo quando Clark teve o seu acidente fatal em Hockenheim. Foi Graham Hill que ajudou a colar a equipa e a levá-la aos títulos de pilotos e Construtores. Um titulo que tudo parecia ser de Clark, para que ele pudesse retirar-se e passar o resto dos seus dias na sua quinta escocesa. Para ser agricultor, como gostava de se afirmar.

Jim Clark foi um dos grandes. Mas demonstrou de uma forma que muitos não conseguem imaginar. Não correu por outras marcas, como fez Fangio, não empurrou alguém para a berma para vencer, como fez Schumacher, não precisou de politicagem para levar a sua avante, como fez Prost. Não precisou de vencer pela Ferrari ou BRM para mostrar ser alguém, e não precisou de ser fiel à Formula 1 e deixar as outras competições de lado, como muitos são obrigados a fazer agora. Bastou ele guiar e Chapman desenhar. E era uma parceria perfeita, como provavelmente não existirá mais na Formula 1 ou no automobilismo.

2 comentários:

  1. Ainda hoje me emociono ao lembrar daquele dia, tinha 15 anos e era fã dele, como ainda sou.

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  2. Não tinha muito conhecimento desse monstro do automobilismo até 2010,onde pesquisando sobre Senna achei um artigo que falava da similaridade entre os dois acabei me apaixonando por Jim ,da mesma maneira que ja era por Senna.Hoje tenho a certeza que é impossivel falar de um sem lembrar do outro,inclusive existe um fato misterioso ,da visita de Senna ao museu de Clark pouco antes de sua morte,gostaria que o site fizesse uma materia sobre isso.Saudações Mario Matias

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