Já sabíamos de antemão que a temporada de 2014 seria diferente, onde passaríamos dos V8 de 2.4 litros para os V6 Turbo de 1.6 litros, e também sabíamos que os carros de Formula 1 seriam diferentes, com o bico mais baixo e um aumento de peso, devido ao novo conjunto propulsor, mas as decisões do passado dia 14, no conselho da FIA, liderados por Jean Todt, tiveram um efeito de choque.
Mais do que reduzir o peso do combustível a cem quilos, ou do numero de motores para cinco ao longo da temporada, o que mais chocou os puristas foi a introdução de uma norma que faz com que a última corrida do ano tenha os pontos a dobrar em relação às corridas anteriores. Em contraste, a fixação dos números por parte dos pilotos teve vasta aprovação por parte dos fãs.(...)
Hoje em dia, pode-se ver que a Formula 1 é uma competição crescentemente artificializada, e com uma restrição nas regras de tal forma que se está a chegar a uma padronização dos chassis. É diferente de uma IndyCar, onde todos os chassis são fornecidos pelo mesmo construtor, deixando às equipas a escolha do seu propulsor. Mas o “olhar americano” veria mais isso, caso viesse da boca ou da mente de Bernie Ecclestone, mas não de Jean Todt. Para mim, seria uma das últimas pessoas a ver tal coisa. E esta “nascarização” da Formula 1 acontece numa altura em que esta vive um novo domínio de um piloto e de uma equipa, respectivamente, Sebastian Vettel e a Red Bull.
O problema destas alterações de regras a cada cinco ou dez anos é que, mais do que confundir o espectador mais habituado a isso, é uma desvirtualização da Formula 1 que já vêm desde 2003, o ano em que alteraram o sistema de pontos, ao alargar dos seis primeiros para os oito primeiros, passando em 2010 para os dez primeiros. É certo que o sistema de pontuação necessitava de alterações, pois não era mudado desde 1960 – à excepção do ponto a mais dado ao vencedor em 1991 e a retirada do sistema de descartes – mas desde então, o sistema mudou demasiadas vezes para o gosto do fã mais conservador. É certo que os carros se tornaram mais resistentes, logo, mais carros chegam ao fim, mas “dar pontos a todos” como se faz na IndyCar, é demasiado.
E a história dos “pontos a dobrar” faz com que, pela primeira vez em 64 temporadas, se viole o principio da igualdade entre corridas. Ao colocar uma corrida acima das outras, em nome do espectáculo e da “emoção dos espectadores”, faz diminuir os outros, e isso não cai bem nos organizadores, que já têm de dar imenso dinheiro a Bernie Ecclestone para conseguir manter a sua corrida do calendário. Acaso os espectadores foram consultados? Não me parece. (...)
Este é um excerto do meu artigo do mês passado no site Nobres do Grid sobre as novas regras que Jean Todt aprovou e que vão entrar em rigor a partir da temporada de 2014. Esta crescente "nascarização" da Formula 1 demonstra que não só os "chefes" estão pouco preocupados com os espectadores ou a tradição e mais com a televisão, no sentido de criar equilíbrios artificiais para que os espectadores não saiam dos seus lugares ou adormeçam durante a corrida. Um pouco como acontece nos Estados Unidos.
Contudo, a história dos pontos a dobrar causou um precedente perigoso e potencialmente destruidor. Artificializando a luta pelo título, e colocando uma prova superior a todas as outras pode não ser do agrado dos outros promotores, que dispendem dezenas de milhões de euros por temporada para ter a Formula 1, apenas para verem uma prova ter mais atenção do que outras. E muitas poderão pensar porque andam a gastar tanto, se tornam numa corrida de "segunda divisão"...
Contudo, a história dos pontos a dobrar causou um precedente perigoso e potencialmente destruidor. Artificializando a luta pelo título, e colocando uma prova superior a todas as outras pode não ser do agrado dos outros promotores, que dispendem dezenas de milhões de euros por temporada para ter a Formula 1, apenas para verem uma prova ter mais atenção do que outras. E muitas poderão pensar porque andam a gastar tanto, se tornam numa corrida de "segunda divisão"...
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