terça-feira, 6 de maio de 2014

Os Pioneiros: Capitulo 15, as primeiras corridas em solo português

(continuação do episódio anterior)



AS PRIMEIRAS CORRIDAS EM SOLO PORTUGUÊS


Enquanto corridas deste tipo aconteciam um pouco por toda a Europa no inicio deste século, Portugal não escapava à febre automobilistica de então. Já havia entusiastas pelo automobilismo, uma delas bem ilustre: D. Afonso de Bragança, o popular "Arreda", que gritava enquanto circulava com o seu Fiat nas ruas de Lisboa. Com o proliferar dos automóveis um pouco por todo o país, principalmente nas grandes cidades, um grupo de jornalistas entusiastas teve a ideia, em meados de 1902 de promover corridas nos moldes do que acontecia em França, com um objetivo: fundar uma associação automobilística nacional semelhante ao ACF.

A primeira corrida, ao contrário do que aconteceu em muitos lados, foi de circuito: A 17 de agosto de 1902, no Hipódromo de Belém e na sequência de um aliciante programa desportivo - que incluiu um jogo de futebol entre uma equipa de portugueses e outra de ingleses, várias corridas de bicicletas e uma de motos - acontecia a primeira competição oficial reservada a automóveis. Três concorrentes estavam presentes: Albert Beauvalet participava num Panhard, o americano H. S. Abbott, num Locomobile e Alfredo Vieira em Darracq. A corrida consistia em dez voltas ao traçado, num total de 12.200 metros.

No final dessa curta corrida, a vitória caberia ao americano Abbott, ao volante do seu Locomobile a vapor. Este condutor profissional encontrava-se então na Europa, ao serviço da marca americana, que era na altura a líder de vendas nos Estados Unidos, como consequência da sua estratégia de implantação no lado de cá do Atlântico, que passava por inscrever viaturas suas nas competições que se disputavam nos diferentes países do Velho Continente.

Depois deste evento, Zeferino Cândido, diretor do jornal "A Época", decidiu reunir um conjunto de jornalistas entusiastas na sala de redação do seu jornal, a 6 de setembro de 1902, para discutir a prova e os seus moldes. À reunião compareceram nomes como Anselmo de Sousa, Álvaro de Lacerda, Carlos Calixto, Júlio de Oliveira, Eduardo Noronha e Henrique Anachoreta. Ali, decidiu.se que a prova aconteceria entre as cidades de Figueira da Foz e Lisboa, numa distância de 150 quilómetros. Os concorrentes teriam de pagar uma taxa de dez mil reis (para os carros) e de cinco mil réis para as motos, e não podiam passar pelas cidades a mais de dez quilómetros por hora.

Os concorrentes ficaram distribuídos por três categorias: carros com mais de 650 quilos, carros entre 250 e 650 quilos e motocicletas. Houve 14 inscrições: Benedito Ferreirinha (Bólide), H. S. Abbot (Locomobile), S. Camargo (Locomobile), Eugénio de Aguiar (moto Werner), A. Martins (Clement), Giuseppe Bordino (Fiat), António Paula de Oliveira (moto Buchet), Francisco Martinho (Richard), Baptista (moto Heresta), Afonso de Barros (Darracq), Trigueiros de Martel (moto Werner), Dr. Tavares de Melo (Darracq), José Bento Pessoa (moto Werner), e o francês Edmond (Darracq). Os carros pertenciam ao Infante D. Afonso, a César Marques, ao Dr. Egas Moniz, a Eugénio de Aguiar e a Trigueiros de Martel.

A organização marcou a prova para o dia 26 de outubro, um domingo, mas cedo eles foram alertados sobre a possibilidade das várias cidades organizarem as suas feiras nesse dia, logo, com imensa gente ao longo do percurso, e isso faz com que adiassem para o dia seguinte. Houve quem quisesse que a chegada acontecesse em Cascais, mas porque na altura a estrada estava pejada de passagens de nível, isso foi logo colocado de parte.

A partida começou com dez dos catorze inscritos presentes, com o sr. Edmond a chegar atrasado para a corrida. O Dr. Tavares de Melo, proprietário do Darracq, pretendia correr com ele até Coimbra, onde entregaria o carro ao piloto francês, mas os organizadores decidiram que isso não seria autorizado. Assim, o proprietário escolheu participar "por fora", com o seu tempo a não contar para a classificação geral.

A passagem dos carros foi recebida por grande entusiasmo pelas cidades e aldeias do qual passaram os carros, sem incidentes durante o percurso, aparte de "apenas alguns cães mortos e um ou dois abalroamentos sem importância", como seria escrito depois no relatório oficial. Como seria de esperar, o primeiro carro a chegar à meta, no Campo Grande, foi o do dr. Tavares de Melo, já com Edmond a bordo, com o tempo de doze horas, 24 minutos e cinco segundos. Uma hora depois entrava o italiano Giusseppe Bordino, conduzindo o Fiat do infante D. Afonso, sendo assim o vencedor oficial da corrida. Afonso de Barros foi o segundo, no seu Darracq, na frente de antónio Paula de Oliveira, na sua moto Buchet. Estes três foram os únicos a chegar à meta no tempo establecido, que eram de dez horas.

Contudo, apesar de tão poucos a chegarem, a iniciativa foi um sucesso. No inicio de 1903, esse grupo foi contactado pelo conselheiro Carlos Roma du Bocage, que estava na frente de outro grupo de entusiastas, no sentido de fundar uma clube automobilistico. Entabulam negociações e a 15 de abril de 1903, na sede da Real Sociedade Portuguesa de Geografia, é aprovado o projeto de Estatutos e fundado o Real Automóvel Clube de Portugal (depois Automóvel Clube de Portugal), cujo simbolo é desenhado pelo próprio Rei D. Carlos e cuja direção seria ocupada por Carlos Roma du Bocage, com o Infante D. Afonso como o presidente da Assembléia Geral e Carlos Calixito seria o primeiro secretário-geral.

(continua no próximo capítulo)

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