Vinte e quatro horas depois de sabermos do acordo entre Bernie Ecclestone e a justiça alemã, em que o "anãozinho tenebroso" pagou cem milhões de dólares (cerca de 75 milhões de euros) para que este desistisse das acusações de corrupção contra Gerhard Gribowsky, o mundo inteiro (para além da Formula 1, claro) reage a tudo isto das mais diversas formas. Se Niki Lauda já disse que estava feliz, pois achava que seria uma catástrofe para a Formula 1 se ele fosse condenado a dez anos de prisão - o que para a idade que ele têm, seria uma sentença de morte - outros afirmam que isto só mostra que na vida, tudo têm um preço. Basta saber quanto é, que se passa o cheque e pronto.
No fundo, tenho pena. Não só pelo facto de a justiça alemã não ser muito diferente das que andam por aí - neste caso foi um "passe um cheque ou senão vai para a prisão" - mas também porque eles poderiam ter sido implacáveis e fazer dele um exemplo aos que corrompem e os que são corrompidos. No final é isso que vai acontecer: o corruptor paga uma pesada multa, mas não fica na cadeia, enquanto que o corrompido, a pessoa que começou esta bola de neve, vai ficar na prisão e não vai ver o dinheiro. Em suma, a justiça alemã fica mais rica em 150 milhões de dólares, mais ou menos cem milhões de euros.
Para Ecclestone, tudo isto não é mais do que a sua comissão de... meia temporada de Formula 1? Talvez mais, dado que ele recebe cerca de 15 por cento da metade que é depositada na CVC Capital Partners. e como essa metade anda à volta de 500 milhões de dólares, talvez ele tenha pago o equivalente a um ano de salário. É muito dinheiro, é verdade, mas Bernie têm uma das maiores fortunas britânicas, a ronda as quatro mil milhões de libras (cerca de 6,5 mil milhões de dólares).
Mas mais do que punir Bernie, perdeu-se uma oportunidade de ouro para começar a discutir a Formula 1 "pós-Bernie". As pessoas no meio tinham (e têm) medo disso, pois sabem que não só Ecclestone é "a cola que une tudo isto", como também graças a ele, isto se tornou na "galinha de ovos de outro", apesar de nos últimos anos esta estar a tornar o berço de negócios cada vez mais obscuros, com a o calendário a ir para paises cada vez mais duvidosos, em busca de cada vez mais dinheiro. De uma certa forma, a Formula 1 vive numa bolha e a sua estratégia passa cada vez mais para uma "fuga para a frente", não querendo discutir o futuro "pós-Bernie".
E entende-se que não se queira discutir isso, para além do dinheiro que entra: são as figuras que lá estão. Estão ali há mais de 30 ou 40 anos, e andam todos na casa dos 60, 70 anos. Luca di Montezemolo, por exemplo, está na Formula 1 desde 1973, e claro, nunca escondeu o desejo de mandar, no sentido de alterar as regras a favor da Ferrari, como fazia o velho Enzo nos anos 50 e 60. E todos eles há muito perderam o contacto com a realidade. Vivem como reis, são recebidos como realeza e perderam o "cheiro do povo", esse povo que mantêm a Formula 1 viva. E quando recentemente, as pessoas mais entendidas no assunto começam a falar de que a Formula 1 está a perder espectadores e a renovação do público já não está a ser feita, e a reação é nula ou não vai no sentido indicado, é sinal de que as campainhas de alarme começam a ser tocadas.
Creio que ainda é cedo para chegar a conclusões, mas a sensação de que se perdeu uma hipótese de encarar o problema de frente é bem forte. Acho que só quando o inevitável acontecer é que as questões serão debatidas. Resta saber se isto terá de ser - ou merecerá ser - resgatado.
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