Alberto Ascari (na foto de Bernard Cahier, a receber os louros de vencedor do GP da Suiça de 1953) deve ter sido um dos melhores pilotos do seu tempo. E era um homem tremendamente supersticioso. Toda a gente conhece a história das incríveis coincidências entre ele e o seu pai Antonio. Nascidos com 30 anos de diferença, morreram também com 30 anos de diferença, num dia 26, e ambos tinham 36 anos de idade, quatro dias depois de sobreviverem a acidentes similares. A diferença foi no local e o carro que guiavam: António morreu a bordo de um Alfa Romeo, no circuito francês de Montlhery, Alberto num Ferrari, em Monza.
A superstição de Ascari era que só corria com azul marinho. O seu capacete era dessa cor, e usava uma camisa dessa cor, mesmo nos tempos da Ferrari e da Lancia. Nesse dia fatídico, Ascari estava "à civil", em Monza, a ver apenas Eugenio Castelotti a testar no Ferrari 750 Monza. Não se sabe se queria apenas mostrar que não tinha medo de voltar a pegar num carro após o seu acidente no Mónaco, ou apenas tinha vontade de correr, que entrou no carro por volta da hora do almoço. Pediu o capacete emprestado a Castelotti, entrou no carro, saiu dali, despistou-se no Vialone e morreu.
Como já disse na altura, Ascari despistou-se no Mónaco, tendo ido parar ao fundo da baía com o seu Lancia. Mas exatamente dez anos depois, outro piloto iria acabar no fundo da baía, o australiano Paul Hawkins. O australiano, na sua segunda corrida da sua carreira na Formula 1, perdeu o controlo do seu Lotus 33 e acabou no fundo da baía, sem ferimentos de maior. E como isto tudo é uma coincidência, ele acabou por morrer a 26 de maio de 1969, em Ouilton Park, quando se despistou no seu Lola T70, acabando por se incendiar.
Apesar de a morte rondar frequentemente o automobilismo, o acidente mortal de Alberto Ascari teve impacto em Itália. Tinha sido bicampeão com a Ferrari, em 1952 e 53, o primeiro de uma longa lista de campeões pela Scuderia, e era um dos mais queridos, para contrabalançar com o argentino Juan Manuel Fangio, que ora corria com um Maserati, ora corria com um Mercedes. Acabaria depois por vencer pela Ferrari, mas apenas porque era o carro mais veloz do momento.
Mas a morte de Ascari também iria contribuir para o final da aventura da Lancia na Formula 1. Endividada, Gianni Lancia, o filho de Vicenzo Lancia, o fundador e um dos melhores pilotos italianos do seu tempo, precisava de que o projeto D50 fosse bem sucedido para manter a marca à tona, daí a contratação de Ascari. Mas a Mercedes dominava tudo e isso não ajudava muito à sorte das equipas italianas. Com o desaparecimento de Ascari, Lancia baixou os braços e entregou os chassis a Enzo Ferrari. Iriam ser campeões em 1956, com Juan Manuel Fangio ao volante.
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