O GP da Rússia é mais um daqueles eventos que, como todos sabem, apareceu nesta nova vaga de circuitos e de expansão da Formula 1 para sitios de "novos-ricos" onde os direitos humanos são um capitulo secundário, se é que existe capítulo nesse campo nesses países...
Contudo, no ano em que a corrida de Sochi passou de outubro para maio, para um mês mais agradável, parece que isso não atraiu mais gente, quer dentro da Rússia, quer fora dela. O Joe Saward conta hoje no seu blog que em termos de imprensa, o campo era bem mais pequeno do que o habitual. Ele fala que os "objectores de consciência" existem dentro do corpo jornalístico, mas ele fala de outras coisas...
"Uma outra razão pelo qual a corrida não é popular é porque você tem que saltar através de obstáculos para obter um visto de media (na verdade, é muito mais difícil em alguns países do que noutros). Quaisquer que sejam os detalhes, o paddock em Sochi sempre se sente um pouco vazio. As pessoas estavam lá apenas se eles tinham que estar lá. Este ano houve um pouco de uma escassez de chefes de equipa, bem como meios de comunicação, sem nenhum sinal dos chefes da Force India, Vijay Mallya e Bob Fernley, Monisha Kaltenborn, da Sauber, também estava ausente (embora foi porque o seu filho teve apendicite). Nem Frank nem Claire Williams estavam presentes. Nem estava Ron Dennis, da McLaren, Cyril Abiteboul, da Renault ou Stephen Fitzpatrick, da Manor."
E pelo que conta o titio Joe, as coisas para a corrida de Baku, a capital azeri, parecem ser bem mais negras, pelo menos em termos de VIP's. Poderão aparecer muito menos do que agora em Sochi...
Agora pergunta-se: que raio é que a Formula 1 anda a fazer por ali. É muito simples: dinheiro. E mercado, no caso russo. Falamos de um país com 142 milhões de habitantes, com um PIB per capita anual semelhante ao de Portugal: 23.700 dólares. Mas o resto está lá, em ambos os casos: o (muito) dinheiro que esses governos pagam para ter a Formula 1, mostrar os seus países e os seus líderes de forma positiva e aproveitar as infraestruturas feitas entretanto. No caso de Sochi, os Jogos Olímpicos de inverno de 2014 (o circuito fica no meio do parque Olimpico) e no caso de Baku, o "makeover" que o centro da cidade sofreu nos últimos anos. E no ano passado, recorde-se, recebeu os primeiros Jogos Europeus, com a curiosidade de que a próxima edição poderá ser... em Sochi.
E claro, se na Rússia, o titio Bernie deu acesso total a Vladimir Putin - o novo líder ao qual adora lamber as botas - imagino só se o sr. Alliev, o presidente azeri, terá o mesmo tratamento. Vou apostar que sim.
Mas há outras coisas do qual se pode justificar tão poucos convidados estrangeiros: a politica de vistos. Quem corre mundo fora com um passaporte, poderá ver que, dependendo do país, tem portas abertas em até dois terços dos países reconhecidos internacionalmente. Um passaporte português, por exemplo, não necessita de vistos em cerca de 170 países. Mas a parte chata tem a ver nos países onde precisa mesmo de visto para entrar. E a maior parte dos países onde corre a Formula 1 necessita de visto para entrar, como a China, a Rússia e o Azerbeijão. E só lá ficam porque os mercados são importantes. A Índia, por exemplo, também necessita de vistos para entrar, mas foi o excesso de burocracia e taxas que minou a permanência da corrida no subcontinente.
Num continente onde a livre circulação de pessoas é um dos seus maiores feitos - embora isso esteja a ser contestado neste momento - ir a uma embaixada ou consulado e perder o seu tempo pedindo por um visto qualquer, seja turista ou outro, por uma estadia de quatro ou cinco dias, é algo do qual poucos o fazem mais do que uma vez, e se calhar fazem ou por muito gosto, ou por masoquismo.
Em suma, a sensação que se fica é de que, se quisessem, isto poderia ser um circo sem espectadores, pois a televisão mostraria tudo. Sem espectadores, sem jornalistas, sem nada. Já não falta muito para o dia em que isto seja uma bolha, onde só os que vivem nela é que o vêem.
agora vcs sabem como se sentem os brasileiros nao???....heheheh
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