"Eu realmente queria vencer Le Mans em 1967, por Lorenzo [Bandini]. Eu estava partilhando um P4 com Nino Vaccarella, o professor vindo da Sicília, um piloto bom, muito competente. Ia ser difícil porque a Ford teve o MkIV e estávamos mais lentos em 32 km/hora, pelo menos. Mas nós pensamos que se nós fossemos a fundo, nós ainda iríamos terminar, enquanto Ford poderia ter que controlar a sua velocidade e favor da fiabilidade".
"Pouco antes da meia-noite eu estava a passar nas boxes quando senti o pneu traseiro direito a furar. O pior lugar - uma volta inteira para voltar para as boxes. Eu diminuí imediatamente, mas você acha que está a andar devagar, mas provavelmente ainda está fazendo 160 por hora. No Mulsanne havia faíscas a saltar [das rodas], e eu pensei, 'eu vou ter que mudar esse pneu'. As Ferraris carregavam uma roda de reserva e um kit de ferramentas com macaco pneumático, martelo e tocha, então no meio da reta, eu encostei. Eu estava na parte de trás com os carros a passar a duzentos e tal milhas por hora. Eu tenho a traseira aberta, encontro a tocha - e a bateria estava flat. Então, eu só tinha os faróis [dos carros] que passam para poder ver. Eu tenho o martelo e esperei por algumas luzes e, em seguida, um golpe arrancou a calota e a cabeça do martelo desapareceu. Então eu pensei que eu ia começar a coisa levantar e tirar a roda fora dali com uma das chaves inglesas. Então eu descobri que tinha esquecido de colocar a dita...
"Então, eu tive que dirigir de volta às boxes. Tentei andar com cerca de 90 km/hora, mas o pneu quebrou uma linha de combustível, e de repente a coisa toda estava em chamas. Saltei e rolei para uma vala. O P4 andou mais um pouco e depois caiu para a vala mais abaixo na estrada, o chassis a pegar fogo. Os comissários e os gendarmes correram para ali, e eles estavam perguntando onde estava o piloto. Eu apareci e toquei num deles no ombro..."
Este é o relato que Chris Amon faz das 24 Horas de Le Mans de 1967, uma edição marcada por mais uma vitória dos Ford GT40, face aos Ferrari e os Porsche, com os 908. A aparição de Amon, na sua primeira temporada da Ferrari, foi complicada: em pouco mais de um mês, Lorenzo Bandini esta morto, e Nino Vacarella iria correr no seu lugar, pelo menos na clássica de La Sarthe. Dali a alguns dias, Mike Parkes terá em Spa-Francochamps o acidente que iria terminar a sua carreira, e Ludovico Scarfiotti decidiria sair da Scuderia.
Mas a edição de 1967 deveria ser aquela em que a Scuderia reagiria à vitória da Ford no ano anterior. Para além de Amon/Vacarella, e Parkes/Scarfiotti, havia um terceiro carro para Peter Sutcliffe e Gunther Klass. Ambos conseguiram levar o carro longe, mas desistiram na 19ª hora, quando o seu motor rebentou. Parkes e Scarfiotti acabou a corrida no segundo posto, a quatro voltas do Ford vencedor, com A.J. Foyt e Dan Gurney.
Aquele resultado nem serviu para apagar o péssimo ano da Scuderia: Klass acabaria por morrer numa subida de montanha em Mugello, a 22 de julho, a bordo do modelo Dino 206SP. Para o seu lugar apareceu Jonathan Williams, que no final do ano, faria a sua única aparição na Formula 1.
No fim, apesar dos azares dos outros, pode se dizer que teve mais sorte do que pensava, pois sobreviveu para contar esta história.
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