quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O desejo e a realidade num eventual regresso da Formula 1 a Portugal


Desde a inauguração do Autódromo do Algarve, em novembro de 2008, que se fala na ideia de um regresso da Formula 1 a paragens portuguesas, dada a qualidade do circuito e os inúmeros elogios feitos à pista por parte de pilotos, por exemplo. E nesta semana, na inauguração de um dos hotéis do complexo existente à volta do circuito, a presidente da câmara municipal de Portimão, Isilda Gomes, afirma que é altura do governo tentar o regresso da Formula 1 a Portugal, vinte anos depois da última corrida. 

"Está na altura de começarmos a pensar na Fórmula 1 automóvel", começou por dizer, afirmando que trazer a mais importante prova automobilística para a pista algarvia não é “uma corrida de 100 metros, mas uma corrida de fundo”. “A aposta vale a pena”, concluiu.

Em resposta, no seu discurso, o primeiro ministro António Costa falou na necessidade de "assumir novos desafios" e, voltando-se para a presidente da câmara, disse: "Aquilo que aqui nos propôs é bastante aliciante, bastante empolgante, vale a pena prosseguir o trabalho". Na assistência, o ministro da Economia e a secretária de Estado do Turismo ouviram e sorriram.

A noticia é interessante e até vem numa altura em que tudo está a abrir-se na Formula 1. A compra pela Liberty Media e as ideias que têm, de alargar o calendário a novos territórios, especialmente na Europa, calharia ótimamente para um país que acolheu a categoria máxima do automobilismo entre 1984 e 1996, ainda mais com um circuito que foi inaugurado em 2008 com esse objetivo em mente, no médio prazo.

Contudo, tem de se dizer que é algo que deve ser encarado com ceticismo. O autódromo do Algarve foi inaugurado na pior altura possivel, em cima de uma das piores crises financeiras - foi financiado com dinheiro de bancos irlandeses, que faliram em 2008-09 - e só agora é que conseguiu equilibrar as finanças, com a inauguração do hotel de cinco estrelas e do respectivo alojamento turístico. E para além disso, a câmara de Portimão é uma das mais endividadas do país, devido ao investimento em obras públicas, uma delas teve a ver com o próprio autódromo... contudo, hoje em dia, o circuito dá lucros, graças aos "track days", testes feitos pelas marcas de automóveis, etc... nem tanto pelas provas que se realizam por lá (em 2017, receberá a Le Mans Series)

Ver este governo investir entre quinze a vinte milhões de euros por ano para ter a Formula 1 por cinco ou dez anos seria relativamente oneroso para os cofres do Estado, apesar dos inúmeros lucros que calharia na economia algarvia, totalmente virada para o turismo. Portugal está a ser um país que cresceu imenso em termos de turistas ao longo destes últimos anos, e o Algarve é um destino bem conhecido pelos europeus - ingleses, alemães, holandeses, nórdicos em geral... - ter mais uma fonte de receitas seria uma boa ideia, sabendo que poderiam gastar aqui mais de cem milhões de euros por ano. Aliás, o Rali de Portugal gerou receitas diretas na ordem dos 127,4 milhões de euros, fora as indiretas...

Estou cético, mas veremos. A Formula 1 é exigente, é cara, mas esta gente gostaria de ter mais corridas na Europa, em vez de irem para paragens asiáticas de aspecto duvidoso. Mas as oposições a ela tem também a ver com o facto de ser uma coisa privada, do qual o estado não deveria gastar um unico tostão, e sim lucrar com os impostos indiretos, por exemplo. 

Mas que existe um autódromo pronto para isso, lá existe!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...