Em 2018, "Bullit" faz meio século. O filme de Peter Yates, com Steve McQueen no principal papel, ficou famoso pela sua icónica cena de perseguição automóvel, que se tornou no modelo para todas as cenas de automóvel que aconteceram desde então. Ao longo das décadas seguintes, a reputação do filme e do ator cresceu fortemente, bem como o carro que fez parte da cena de perseguição: o Ford Mustang hatchback verde-escuro.
Ao longo dos anos, sabia-se que foram usados dois carros para o filme, comprados pela Warner Bros e que depois foram vendidos. Durante muito tempo, não se sabia onde estavam e quem os tinha. De um, sabia que era pertencente a uma pessoa que o tinha guardado numa garagem e rechaçou a oferta de compra do próprio McQueen. E de outro, perdeu-se o rasto.
Pois bem, nos últimos dois anos, descobriu-se o paradeiro de ambos. Um, foi encontrado numa sucateira em Tijuana e depois de ser autenticado, foi restaurado para estar mais próximo do original. E agora, surgiu o outro exemplar, que estava na garagem no Kentucky, longe dos olhares do público por 40 anos. O dono chamava-se Robert Kiernan e foi a ele que McQueen escreveu uma carta, datada de 14 de dezembro de 1977, quase dez anos depois de "Bullit" e pouco menos de três anos antes da sua morte.
Na carta, dizia assim:
"Mais uma vez, gostaria de ter de volta o meu Mustang de 68. Gostaria de o ter de volta na minha familia na condição em que estava no filme, em vez de o restaurar. É uma questão pessoal.
Ficaria encantado em encontrar um Mustang semelhante, caso não fique muito caro. Caso contrário, creio que temos de deixar isso para trás.
Com os melhores cumprimentos
Steve McQueen"
A carta indicava que não foi a primeira vez que o ator tentou ter a posse do carro. Contudo, o seu proprietário simplesmente recusou-o.
A história é simples: em outubro de 1974, um anuncio caiu na página dos Classificados da revista Road & Track, dizendo que estava à venda pela melhor oferta. Uma pessoa de Nova Jersia comprou o bólido, um Mustang 390 GT Fastback de cor verde, com os documentos em dia para autenticar a sua proveniência, por seis mil dólares. Até então, já tinha passado por dois donos, um deles um detetive de Nova Iorque, que o vendeu porque a sua familia precisava de um carro mais adequado para uma familia então em crescimento.
Kiernan comprou o carro em 74, rechaçou a oferta de McQueen em 77 e em 80, no mesmo ano em que o ator morria, vitima de cancro, o carro sofreu uma avaria na embraiagem e ficou na garagem por muito tempo. Em 1984, o carro foi para Cincinatti com ele (trabalhava na área dos seguros) e dez anos depois, o carro foi para o Kentucky, onde a familia se relocalizou, e Bob Kiernan decidiu dedicar-se a criar cavalos numa quinta que tinha comprado com a familia.
Por essa altura, o carro tinha sofrido com o tempo e ele queria renová-lo com o seu filho, Sean. A ideia era revelá-lo, depois de uma renovação total. Contudo, a Bob descobriram-lhe Parkinson e em 2014, acabaria por morrer, sem ver o seu projeto concretizado. O seu filho, Sean, acabaria por herdar o carro, que tinha sido parcialmente desmontado para que as peças pudessem ser restauradas.
Por esta altura, o seu patrão queria meter-se no negócio dos filmes e tinham feito um argumento sobre a caça de amantes de automóveis por um "barn find" que seria o carro de Steve McQueen. Quando soube da história, ele revelou que tinha o carro e os documentos que atestavam a sua história.
O carro foi usado como isco para atrair dinheiro para o filme que pretendem fazer - cerca de 15 milhões de dólares - e até atraiu a atenção da Ford, que ficou interessado. E claro, foi colocado no National Historic Vehicules Association, que é uma espécie de "Biblioteca do Congresso", mas para automóveis. E tudo isto aconteceu em março de 2017, altura em que o segundo carro usado no filme emergiu, na California, e que estava a ser restaurado.
Contudo, depois de saber que o carro seria melhor valorizado como está do que totalmente restaurado, o proprietário não mexeu mais do que o necessário para o fazer andar. E janeiro de 2018, em Detroit, o carro original apareceu ao lado da versão que a Ford irá fazer para este ano, a terceira versão do carro, para comemorar os 50 anos do filme. E claro, já apareceu nas mãos de Jay Leno, que o filmou para o seu canal de Youtube.
No final, Sean Kiernan espera ter o dinheiro para fazer o filme, e construir algumas réplicas do Mustang "Bullit". E ficar com o original por mais uma geração, pelo menos.
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