Na segunda parte da matéria sobre a Gold Leaf e como o seu patrocinio alterou a Formula 1 há meio século, fala-se sobre o poder da televisão e como a Imperial Tobacco conseguiu criar impacto na modalidade, mudando as coisas como eram antes, de um tempo onde as equipas ocnstruiam chassis para vender e ter dinheiro para completar uma temporada, para outro onde o fluxo de dinheiro era tal que começaram a alargar as suas equipas para serem as melhores, desde pagar a pilotos a contratar mecânicos, projetistas, bem como fazer testes, mudando o pelotão da Formula 1.
Para além disso, nesse final dos anos 60, a televisão já tinha poder, graças à publicidade. E com as corridas a serem transmitidas em direto pelos canais televisivos, especialmente na Grã-Bretanha, Europa e Estados Unidos, o impacto era enorme, muito além dos espectadores presentes na pista. E o dinheiro dado inicialmente pela Imperial Tobacco, cerca de cem mil libras em 1968, à Lotus, era uma soma bem grande na altura.
"Isso trouxe para a equipa uma garantia de renda para todo o ano", começou por dizer Hadfield, antigo executivo de Imperial Tobacco. "Então eles poderiam pagar os pilotos, provavelmente pagá-los tão bem ou melhor do que qualquer outra pessoa. [Antes], eles poderiam dizer à Shell que temos patrocínio suficiente para comprar combustível, mesmo com os pneus. É como ter uma grande conta bancária. Isso significa que você pode fazer coisas que você pode estar fazendo de qualquer maneira, mas colocar todo o processo sob algum tipo de tensão."
"Pagamos aos pilotos, ao Chapman, à equipa, ao camião, e isso deu a ele total liberdade financeira para fazer o que ele queria fazer. Para dar uma ideia dos custos, eu acho que quando estávamos a patrocinar a Fórmula 3, 2 e 1 com a Gold Leaf, gastávamos certamente não mais do que cem mil libras por ano, que eram migalhas", concluiu Hadfield
O filho de Colin Chapman, Clive, disse também que a chegada da Gold Leaf foi oportuna em termos de desenvolvimentos na tecnologia. "Os motores [tinham ficado] mais caros [com o] Ford Cosworth DFV a entrar no automobilismo. E a tecnologia estava a se desenvolver de maneira mais geral. Na Fórmula 1, se você tivesse mais dinheiro, poderia ir mais rápido, ter mais mecânica, melhor equipamento, mais testes. Foi outro elemento importante".
Contudo, com os patrocínios, vieram outras coisas como os eventos de relações públicas, que muitas das vezes pedia aos pilotos para aparecerem em eventos organizados por eles. Contudo, a Imperial Tobacco (Gold Leaf e a partir de 1972, a John Player Special), pouco ou nada fazia nesse campo.
"Nós raramente pedíamos aos pilotos que fizessem algo além de competir. Porque a ideia de levar Ronnie Peterson a um jantar dançante em Londres, onde poderia haver 60 ou 600 pessoas, você estaria convencendo 600 ou 60 - [e isso] não estamos interessados. Estamos interessados em convencer centenas de milhares de pessoas, através dos jornais e da TV. A John Player nunca se esforçou, ou manobrou, ou tentou ter pilotos britânicos em qualquer um dos seus carros, só estávamos interessados em ganhar. E ganhamos muito", disse Hadfied.
"E não tivemos absolutamente nada para fazer com a política. Se alguém dissesse 'você sabe que não deveria estar a fazer isso ou aquilo', respondíamos: 'não temos nada a ver, estamos apenas pagando pelos carros, fale com Colin Chapman'".
Os patrocínios, contudo, anunciaram uma mudança completa na maneira como a Lotus arranjava dinheiro para correr, como diz Clive Chapman.
"Até então a Team Lotus havia se financiado principalmente vendendo carros a clientes num volume bastante grande para competirmos. O patrocínio da Gold Leaf foi o início da mudança [nesse tipo de] financiamento da equipa de fábrica. Gradualmente, nos quatro anos seguintes, a Team Lotus parou de fabricar carros para clientes e seu financiamento veio inteiramente dos patrocinadores. Ele cresceu ao longo do tempo, foi mais um fator [a ter em conta] quando foi criada a marca John Player Special, para ser promovida na Fórmula 1, que tinha uma abordagem conceitual muito mais ativa em termos de promoção e media, briefing packs e press releases e todo esse tipo de coisas".
"Eu acho que a Imperial Tobacco trouxe um nível de idéias e profissionalismo para esse aspecto que realmente não tinha sido relevante antes.", concluiu Chapman.
Em 1972, a Marlboro entrou em força na Formula 1, primeiro para patrocinar a BRM, antes de em 1974 ficar com a McLaren, numa parceria que durou por 22 anos, passando depois para a Ferrari, onde está agora. Com eles, veio um outro tipo de profissionalismo em termos de relações públicas, que colocou a Formula 1 no patamar atual. Quanto a Imperial Tobacco, tirando uma interrupção entre 1979 e a primeira metade de 81, foi fiel à Lotus até 1986, quando se retirou de cena e no seu lugar apareceu a R.J. Reynolds, dono da marca Camel, que ficou na equipa até ao final de 1990.
Hadfield, em jeito de balanço, orgulha-se do percurso que fizeram e o que foram capazes de trazer para a Formula 1, e como isso mudou para a posteridade.
Hadfield, em jeito de balanço, orgulha-se do percurso que fizeram e o que foram capazes de trazer para a Formula 1, e como isso mudou para a posteridade.
"Mesmo antes da Marlboro, fomos os primeiros a competir na Fórmula 1 e demos a eles o que precisávamos, que era dinheiro para que eles pudessem contratar os melhores pilotos, os melhores designers, os melhores. No longo prazo, moldamos o automobilismo britânico - o que é muito, muito - para iniciá-lo no caminho certo. Nós realmente acendemos a indústria automobilística britânica e nos orgulhamos disso, fizemos acontecer."
"Já me falaram que na Mercedes eles têm uma folha de pagamento com mais de mil pessoas e tudo acontece no Reino Unido. Bem, nossa folha de pagamento [na altura] era de oito pessoas!
"Hoje [em dia] você ainda vê pessoas andando nos anoraks pretos e dourados, e eu tenho orgulho delas. Tenho muito orgulho do que o John Player fez. Nós conquistamos o mundo."
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