segunda-feira, 9 de julho de 2018

G.O.A.T.

O Grande Prémio da Grã-Bretanha, em Silverstone, foi um dos melhores dos últimos anos. Lewis Hamilton fez a pole-position, julgando que no dia seguinte iria ser um passeio para ele, a caminho de uma vitória sem contesação para ele e para a Mercedes. Contudo, partiu mal, foi batido por Sebastian Vettel sem pelo nem agravo e ainda foi tocado por Kimi Raikkonen na curva 3, tendo caído ao final do pelotão. Mas teve tempo para recuperar até ao segundo posto, vendo o seu rival ultrapassar Valtteri Bottas na volta 47, depois de duas entradas do Safety Car e com a equipa anglo-alemã a não parar nas boxes para trocar de pneus. Claro, ambos foram "comidos" pelos carros de Maranello.

Resultado final: Vettel vencedor, Kimi terceiro, com Hamilton "ensanduichado", mas a controlar os prejuízos. No final, a atitude do piloto britânico foi de lamentar: primeiro, não falou com Martin Brundle nas entrevistas rápidas, e depois, na conferência de imprensa, acusou os pilotos da Ferrari - e em especial, Kimi Raikkonen - de causar uma colisão para beneficiar Sebastian Vettel. Claro, Kimi recusou as acusações e a Ferrari defendeu o seu piloto. Mais tarde, Hamilton reconheceu que aquilo que tinha dito foi um exagero.

Estamos a meio da temporada. Daqui a duas semanas, teremos a corrida na Alemanha, antes de quatro semanas de férias. E este é um campeonato bem equilibrado, entre a Ferrari e a Mercedes, com a Red Bull à espreita. E se calhar, até incomodaria mais se não fosse a inconstância de Max Verstappen. Agora, são oito pontos de diferença entre Hamilton e Vettel, mas sabemos que haverá muitos outros incidentes até ao final do ano, e nada será decidido até à última prova do ano, em Abu Dhabi.

Desde 2014 que a Mercedes domina, especialmente Lewis Hamilton. Aos 33 anos, e desde 2007 na Formula 1, é um piloto excepcional. E vivemos uma era excepcional, onde temos uma excelente safra de pilotos. Sabemos que, quando o filho de Jos Verstappen começar a pensar pela sua própria cabeça, será campeão. E Daniel Ricciardo terá tudo para ganhar, quando se sentar num Ferrari ou numa Mercedes. Mas há dois que estão nas luzes da ribalta, neste momento: Lewis e Sebastian. Lewis, o mediático. Sebastian, o discreto. E ambos a quererem ser GOAT. Greatest Of All Time.

A minha posição sobre o GOAT é simples: é como o sexo dos anjos, não existe. Pode haver os melhores da geração, e é assim que se deve medir. Não se pode comparar Senna com Fangio, Clark com Schumacher, Stewart com Nuvolari. Máquinas diferentes, épocas diferentes, tempos diferentes. E é assim em todas as modalidades, desde o futebol ao atletismo. Mas as pessoas querem entrar nesse jogo, como que a querer algo do qual desejam mostrar às pessoas que é uma discussão encerrada. Nunca será encerrada, porque as próximas gerações querem ter uma palavra a dizer.

Mas no mediático Lewis, há o desejo de ser o melhor de todos. Quase uma obsessão, diga-se.

Lewis Carl Hamilton quer ser o Muhammad Ali do automobilismo. Quer todos os títulos, ser o melhor em todas as corridas, e num país onde ele é levado ao colo. Nesse campo, ele parece ser mais vulnerável do que outros. Tem tudo a seu favor: três campeonatos nos últimos quatro anos (2014-15, 2017) numa Mercedes que parecia ser superior à concorrência. Mas desde 2017 que a Ferrari responde, e este ano, a equipa tem um chassis melhor que o da marca de Brackley. Há uma imagem que vi do fim de semana do GP da Áustria, na semana passada. Tinha a ver com a degradação dos pneus traseiros, importantes para a tração do carro. Na Red Bull, a degradação era mais veloz do que na Mercedes, mas no chassis da Ferrari, até parecia que tinham acabado de trocar de pneus, mas após vinte voltas, o carro poupa melhor os pneumáticos da Pirelli. Que é... italiana.

Mas colocando as teorias da conspiração de lado, a Vettel não lhe importa muito ter uma quantidade enorme de títulos, importa a ele ser campeão pela Ferrari, como foi Schumacher. Aliás, está a dar esses mesmos passos. E não ficaria admirado se, caso quebre a Mercedes e a Red Bull, partir para uma era de domínio, como aconteceu no inicio do século a Schumacher. E até seria uma segunda era para o piloto de Heppenheim, depois dos quatro anos de domínio na Red Bull (2010-13), e de onde os detratores diziam que só era isso porque tinha um carro desenhado por Adrian Newey, como disse Fernando Alonso num treino durante o fim de semana do GP da India, em 2012, creio eu.

O problema dos detratores do Vettel é que ele é demasiado discreto, demasiado certinho. Tão certinho que irrita. E para piorar as coisas, foi ele que estragou a trajetória de outro candidato a GOAT, Fernando Alonso. Muitos "alonsistas" acham que ele deveria ter muitos mais títulos daqueles que tem agora. E concordo com eles. Só que deveriam saber que antes de Vettel estragar-lhes os planos, outro piloto também fez a sua interferência. Em 2007. Era um garoto então com 22 anos, chamado... Lewis Hamilton. Que quase foi campeão no seu ano de estreia, na McLaren. E isso, poucos já se lembram. Preferem dizer que o Vettel o impediu de ganhar títulos na Ferrari.

Em suma, o que acho fascinante nos dois é que tem duas atitudes na vida para o mesmo objetivo. Lewis, o mediático que deseja as câmaras e as redes sociais para mostrar ao mundo que é bem sucedido, e Sebastian, o discreto pai de familia, sem redes sociais por perto, que se algum dia bater os títulos de Schumacher, encarará isso mais como consequência do que um objetivo. Ambos são felizes dessa maneira, nenhum deles é melhor que o outro. Até direi que ambos enriquecem a elite do automobilismo. Mas eu fico com a impressão que 2018 pode ser o ano em que Vettel poderá bater os - até agora - imbatíveis Mercedes. E isso também marcaria a história.

Mas até lá, muita água correrá debaixo das pontes. Agora, está a ser uma temporada interessante.

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