A carreira de Phil Hill na Formula 1 (aqui, em 1960, nesta foto de Bernard Cahier) terminou quando foi campeão do mundo, em 1961, nas circunstâncias que todos conhecemos, quando o seu rival Wolfgang Von Trips acabou por sofrer um acidente mortal na segunda volta do GP de Itália de 1961. Quem leu o livro "Go Like Hell", há a cena em que Hill após ser campeão do mundo numa corrida onde o seu rival, Wolfgang Von Trips, se despistou e morreu, arrastando mais catorze espectadores para a morte.
Mal acaba a corrida pergunta pelo resultado e a situação do seu rival e Carlo Chiti:
- E o Trips - perguntou Hill - está morto?
O rosto de Chiti é solene:
- Anda - disse - querem-se para a cerimónia de entrega de prémios.
Na manhã seguinte, num hotel de Milão não muito longe do autódromo, um novo campeão do mundo descia um lance de escadas para o lobby, Hill deparou-se com uma multidão em redor da única televisão do hotel. Estavam a assistir ao acidente de Von Trips, que estava a ser assistido repetidamente. Imagens do piloto a ser transportado de maca, o braço a pender de lado, atraiu suspiros. Um comentador prosseguiu lamentos em italiano, O Conde Wolfgang von Trips e catorze espectadores tinham sido mortos.
Hill encontrou um sitio para se sentar e um amigo avisou-o:
- Vais desistir, Phil?
- Não sei - respondeu, filosófico - Afinal - disse - toda a gente morre. Não é excepcional que o Von Trips tenha morrido algo que amava, sem qualquer sofrimento, sem aviso? Acho que o Von Trips preferia estar morto a não correr, não achas?
- O que vais fazer, Phil?
Hill ponderou por um momento. Em seguida, disse:
- Quando amar menos as corridas de automóveis, a minha própria vida será para mim mais valiosa e estarei menos disposto a arriscá-la.
O momento de Hill foi o maior da sua carreira. A partir dali, saiu da Ferrari no final de 1962 e começou a andar em carros da ATS, que resultou num fracasso total, e depois da Cooper, onde apanhou um enorme susto durante o GP da Áustria de 1964. E provavelmente foi nessa altura em que começou a amar mais a vida e menos os carros, embora ache que esse momento foi alcançado quando foi campeão do mundo.
E pensamos no seguinte: numa era em que poderias morrer e qualquer corrida, a qualquer curva, o topo do mundo era ser campeão, nem que fosse uma vez. E ao alcançar, o maior triunfo passa a ser a sua própria vida, sair da carreira sem ter de a abandonar, de a colocar em jogo a cada prova. Para Hill - que morreu faz hoje dez anos, aos 82 anos de idade, na Califórnia - aquele foi o seu maior momento de uma carreira que durou dez anos e tornou-se no primeiro campeão do mundo americano. E sabia muito bem, provavelmente até ao final dos seus dias, que mais do que ter sido campeão, ter saído das corridas vivo e saudável.
E é isso que deveria ser celebrado.
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