Sobre a pergunta do título, a resposta é esta: matematicamente não, mas em termos de espírito, sim. Toda a gente entendeu ontem, no meio do aborrecimento, que o título de 2018 não vai escapar a Lewis Hamilton. Agora tem 40 pontos de diferença, mas desses, 25 foram alcançados na Alemanha, quando Sebastian Vettel abandonou a corrida, estando ele na liderança. Esse foi o momento decisivo do campeonato, ainda por cima numa altura em que a Formula 1 ia de férias. As vitórias do inglês em Monza e agora, Singapura, foram uma mera confirmação.
Escrevi isto ontem, logo após a corrida, na página do blog no Facebook:
"Digam o que disserem, para mim, Hamilton já é 'penta'. Penta no espírito, faltando apenas a matemática. E se não existirem tropeções - em termos de 'milagres', desculpem-me, mas sou 'ateu' - o inglês conquistará tudo isso em Interlagos, senão na corrida anterior, na Cidade do México, caso Vettel tropece de novo. E a tudo isso deve-se a aquele momento na Alemanha, quando Vettel tinha tudo controlado e despistou-se, sozinho, na zona do Estádio. Com isso, o inglês venceu e viu cair do céu 25 pontos dos quais o alemão nunca conseguiu recuperar. Tanto que agora, o inglês tem uma vantagem de 40.
A culpa é de Vettel e da Ferrari? Ou Hamilton e a Mercedes conseguiram dar a volta de uma desvantagem que tinham inicialmente? É um pouco ambas as coisas, mais a ideia de que o alemão quer tanto vencer pela Ferrari que quebra sob pressão. Se for essa última parte, então poderemos dizer que a a minha teoria sobre a Scuderia, do qual escrevi há umas semanas [na realidade foi depois de Monza], é verdade: é uma sepultura de carreiras. E Vettel, apesar de dar tudo, vai ter mais um ano em que vai ver os rivais comemorar. E se calhar deve estar agora a calçar os sapatos de Alonso, que andava sempre frustrado na Ferrari quando via Vettel a vencer tudo na Red Bull. Se sim, deve entender as suas frustrações.
Vamos a ver como será o final da história, mas se Hamilton decidir ir embora da Formula 1 com seis ou sete títulos e fazer uma de Rosberg, ou seja, sair com o título de campeão no bolso, então, o alemão ficará duplamente frustrado. O de não conseguir títulos pela Scuderia como o de não bater Hamilton na luta pelo campeonato. E aí, poderemos dar razão a Vettel, mas alargar à equipa: a pior inimiga da Ferrari é a Ferrari. E se qualquer piloto querer ir para lá, que vá por sua própria conta e risco."
Claro que, com isto, há quem aproveite o momento para se gabar. Basta ver os comentários no Facebook a seguir a este post, de algumas pessoas gabando-se - provavelmente no alto da sua arrogância - hiperbolizando os feitos de Hamilton, quase deificando, e tentando "bater" em Vettel, tentando até humilhá-lo. Contudo, falamos de um punhado de pessoas que não são amantes do automobilismo, apenas querem estar do lado dos vencedores. A enorme maioria entende que ambos os pilotos são bons, e ambos têm qualidades e defeitos, e que na Mercedes houve trabalho e sorte, algo que não aconteceu na Ferrari.
Mas se é assim, qual é a solução para os vencidos? Despedir todos e colocar tudo de novo? E se falharem, volta tudo à estaca zero? Ano após ano, até acertarem? Não creio que seja a solução, as pessoas que estão por dentro entendem isso. Os que defendem tal coisa acho que só o fazem porque desejam ver o circo a arder, e quem lê esse tipo de comentários nota isso. Cheguei a ler comentários de pessoas que rejubilavam o fracasso da Ferrari porque "tinham tratado mal os brasileiros". Mais uma vez, como disse no parágrafo anterior, não são amantes do automobilismo.
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Para mudar as coisas, será necessário uma mudança nos regulamentos. É o que se prevê em 2021, e fala-se na retirada de um dos sistemas de recuperação de energia, para simplificar as coisas, mantendo, porém, o motor V6 Turbo. Não vai ser uma alteração profunda, e é provável que a Mercedes não perca a sua hegemonia, mas se isso acontecesse, aí sim, teria isso em perigo, porque essas coisas acontecem quando se faz bem o "trabalho de casa". E em muitos aspectos, era assim que a Ferrari ganhava, ao longo da história. Em 1952 e 1961, por exemplo, quando houve mudança nos motores, o trabalho de casa por parte dos engenheiros de Maranello, em paralelo com a "persuasão" de Enzo Ferrari, fazia com que a Scuderia fosse a melhor pelo menos no primeiro ano dos regulamentos, antes da concorrência ficar a par.
Mas numa altura em que é cada vez mais dificil "contornar o regulamento", mais parece que a Mercedes vai ser a favorita ao campeonato. E claro, quem aguentará a pressão.
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