Todos os anos, a vinte voltas do fim, mais coisa, menos coisa, as câmaras de televisão viram-se para a tribuna, onde toda a hierarquia da Formula 1 está à porta do circuito para receber o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O czar dos tempos modernos tem à sua espera, dependendo do ano, Chase Carey, Ross Brawn ou Bernie Ecclestone. Mas Bernie, agora "chairman emeritus", está lá sempre, ficando a seu lado e a falar com ele. E claro, é Putin que vai sempre ao pódio entregar os prémios.
Esta descrição é para verem até que ponto é este GP da Rússia. Não adianta mudar de calendário, de abril para setembro, e de novo para abril. É uma corrida aborrecida num lugar que o regime alterou profundamente para fazer dele a sala de visitas da Rússia para o mundo, mas não conquista o coração de ninguém fora das suas fronteiras. Ainda por cima, quando a corrida foi previsível, onde tivemos ordens de equipa, defesas musculadas de posição e onde Max Verstappen brilhou enquanto pode, em dia do seu aniversário.
E claro, agora com 50 pontos de avanço, queremos mas é que acabe a temporada, porque já sabemos quem vai ganhar e isto tem mais cara de tortura, porque faltam cinco corridas e os níveis de saturação já são grandes. E para piorar as coisas, a cena de Bottas com Hamilton passou para a história como mais uma cena embaraçosa. As ordens de equipa sempre existiram, mas o problema é que moralmente, não cai bem entre os fãs. E as caras deles, bem como as suas linguagem corporais, explicam tudo: no mínimo, um embaraço.
A corrida começou com Bottas a conseguir aguentar as pressões de Hamilton e Vettel, mantendo-se na primeira posição. E atrás, no fundo da tabela, Max Verstappen começava a ganhar lugares atrás de lugares para ver se conseguia chegar à frente o mais depressa possível, apostando num pneu duro, para que a sua corrida durasse mais. E deu certo: na terceira volta, já estava nos pontos, e na nona, era quinto, precisamente na mesma altura em que os Toro Rosso desistiam por causa dos travões.
Bottas foi às boxes na volta 13, seguido por Vettel e Hamilton. Na saída, Vettel fez o que pode para se defender do inglês, no limite quase da legalidade. Mas depois, não resistiu e o inglês ficou com o segundo lugar. Na frente, Raikkonen, e depois Verstappen, ficaram com a liderança. E o holandês pretendia ficar na frente o mais tempo possivel, e aguentava os Mercedes, que por seguinte, aguentavam Vettel.
Sentindo-se ameaçados, decidiram jogar a cartada das ordens de equipa. E Bottas, aluno obediente, cumpriu, julgando que dariam o lugar de volta. Ledo engano, como sempre soubemos. Mas Bottas perguntou na mesma. A confirmação apareceu, numa frieza germânica.
Não é uma corrida "infame", porque não foi em cima da meta. Mas o fã de Formula 1 odeia até à medula este tipo de ordem, pois faz passar a ideia de que tudo isto é "fake", uma falsificação. Mas isto já acontece desde sempre, e nesta altura, os estatutos dentro das equipas são assim. Nenhum segundo piloto poderá ter uma chance de vitória enquanto o primeiro ter uma chance de vitória. É assim enquanto as equipas de Formula 1 tiverem dois pilotos. Quando diminuírem para um, as ordens de equipa terminarão.
Agora, é contar as corridas até tudo acabar. E neste momento, estamos dependentes da matemática, porque há muito sabemos quem é o campeão. E a nossa ansiedade é tal que poderemos comparar isto a uma tortura.
Que acaaaba este modelo de F1, entediante sempre, bons tempos ondo tinhamos corridas de verdade, e com som de motores de verdade.
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