Vamos começar isto com uma verdade inconveniente: as ordens de equipa existem desde o inicio do automobilismo. Começo por vos contar a "estória" do GP de Itália de 1956, onde a Ferrari tinha ordenado a Luigi Musso a ceder o lugar a Juan Manuel Fangio, e do qual o italiano... recusou. Para o argentino, o seu salvador foi o britânico Peter Collins, que cedeu de bom grado porque achava que "era demasiado novo para ser campeão".
Nessa altura, se um piloto desistisse de uma corrida, a equipa poderia ordenar a um dos seus pilotos para que cedesse o seu carro para que o outro piloto pudesse ter uma chance. E os pontos eram partilhados entre eles. Tony Brooks, por exemplo, teve a sua primeira vitória partilhada com Stirling Moss, no GP da Grã-Bretanha de 1957, a bordo de um Vanwall. A partilha de condução deixou de ser permitida em 1959.
Podemos continuar na história da Formula 1 para contar outra "estorieta" de ordens de equipa. Há 40 anos, quando Colin Chapman soube que que tinha um carro vencedor em mãos, decidiu que Mário Andretti seria o campeão do mundo, em detrimento de Ronnie Peterson. O sueco obedeceu ao contrato, e aos que dizem que, "ah, mas ele nunca deixou passá-lo", recomendo que vejam as primeiras voltas do GP da Alemanha de 1978. A corrida completa está no Youtube.
Chapman fez este arranjo depois das amargas lições de cinco anos antes, quando no GP de Itália desse ano, não ordenou a Ronnie Peterson para que abdicasse de vencer a corrida a favor de Emerson Fittipaldi, e com isso, "entregou" o título a Jackie Stewart, seu rival no campeonato desse ano. Comprar a paz para evitar uma guerra fratricida pode ser ótimo para o espírito, mas o que o fã deseja é ver o circo pegar fogo, como aconteceu em 1989 na McLaren, entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Mas mesmo assim, houve ocasiões onde se falou de ordens de equipa do qual os pilotos recusaram. No final de setembro de 1973, Ken Tyrrell e Jackie Stewart, já sabendo que o escocês ia embora, discutiram entre si sobre a possibilidade de entregar o GP dos Estados Unidos a Francois Cevért, caso ambos estivessem juntos na frente, como tinha acontecido várias vezes ao longo da temporada (GP's da Holanda e Alemanha, por exemplo). Stewart recusou a ideia de abdicar de vencer se não tivesse qualquer problema mecânico. A conversa ficou arrumada por ali, e o acidente mortal do francês, nos treinos de sábado, arrumou de vez a questão.
Mas mesmo assim, houve ocasiões onde se falou de ordens de equipa do qual os pilotos recusaram. No final de setembro de 1973, Ken Tyrrell e Jackie Stewart, já sabendo que o escocês ia embora, discutiram entre si sobre a possibilidade de entregar o GP dos Estados Unidos a Francois Cevért, caso ambos estivessem juntos na frente, como tinha acontecido várias vezes ao longo da temporada (GP's da Holanda e Alemanha, por exemplo). Stewart recusou a ideia de abdicar de vencer se não tivesse qualquer problema mecânico. A conversa ficou arrumada por ali, e o acidente mortal do francês, nos treinos de sábado, arrumou de vez a questão.
E é por isso que digo que fã da Formula 1 odeia ordens de equipa, como a que vemos hoje em Sochi, entre os pilotos da Mercedes. Não esqueceu os embaraços do GP da Áustria de 2002 e o GP da Alemanha de 2010. Soa a falso, soa a simulação, soa a Hollywood e no caso dos brasileiros, soa a humilhação e vergonha. Não é corrida de verdade, não é "raíz", é "Nutella", mas o fã desconhece - ou não quer saber - da história, desconhecendo que isto não foi uma invenção dos tempos de Michael Schumacher e do qual todas as equipas agora decidem usar.
Mas então... porque não se falava tanto disto no passado? Porque as quebras dos carros eram bem mais frequentes que agora, por exemplo. Hoje em dia, o uso de motores e caixas de velocidades são limitados, e se exceder, os pilotos serão penalizados por isso. Em 1978, por exemplo, era frequente ter quatro e cinco motores Cosworth V8 rebentados por fim de semana. E nem falo dos flat-12 da Alfa Romeo, que eram tão potentes quanto quebradiços, graças às "engenharias" do Carlo Chiti...
Se as pessoas odeiam as ordens de equipa, a solução mais simples seria fazer com que as equipas só alinhem com um carro. É muito mais barato em termos de motores, chassis, mecânicos, engenheiros, e salários. Mas é isso que o fã quer? Não. O que desejam é competição e "guerra", desejam ver mais o Sérgio Perez encostar o Esteban Ocon à parede, ou se preferirem, meio pelotão andar à guerra com outro meio. Mas depois, pensando bem, qual é a saúde mental do fã de automobilismo? Estará saudável o suficiente para que seja tido em conta? Ou não seria melhor não ouvirmos as suas queixas? Os tempos que correm, em que as pessoas ouvem toda a gente, em busca de uma unanimidade que roça o mito, parece roçar mais a esquizofrenia.
As ordens de equipa são uma chatice, mas temos de aguentar, especialmente nestes momentos decisivos. O fã até era capa de engolir isto, só não quer que o façam na frente de toda a gente, sob pena de passar vergonha.
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