A primeira corrida que aconteceu após o meu nascimento foi a 273º da história, e ficou na memória como uma das mais interessantes e polémicas. Por muitos motivos. Primeiro, a BBC não a transmitiu nem passou o sinal para a Eurovisão por causa de uma picuinhice: uma das equipas, a Surtees, tinha como patrocinador a marca de preservativos Durex, que consideravam como sendo "imoral". Era o tempo onde o sexto era seguro e o automobilismo perigoso... e outras equipas tinham tabaco e uma delas, a Hesketh, era patrocinada por uma revista erótica rival da Playboy, a Penthouse.
Foi a 18 de julho de 1976, seis dias depois do meu nascimento. Por causa do cérebro pequeno dessa gente, eles não viram a corrida que foi: duas partidas, a polémica sobre o carro de James Hunt, e a reação de 80 mil pessoas que "assavam ao sol" - estava um calor anormal para julho - que assobiaram, gritavam "nós queremos Hunt! nós queremos Hunt!" e atiravam garrafas de cerveja para a pista, o que poderia causar furos a alta velocidade. No final, os comissários cederam, deixaram-no participar, largou, passou Niki Lauda na Druids, a meio da corrida, e acabou por vencer. A Ferrari protestou o resultado, e dois meses depois, deram-lhe razão. E pelo meio, houve o acidente do austríaco em Nurburgring e a aproximação de Hunt, que deu o que deu na última prova do ano, no Japão.
E tudo isto a BBC não transmitiu para o resto do mundo por causa de decisão mesquinha.
Mas foi por causa de todos estes episódios que referi agora, digo a toda a gente que a temporada do meu nascimento deu um filme de Hollywood. E é verdade.
Mas foi por causa de todos estes episódios que referi agora, digo a toda a gente que a temporada do meu nascimento deu um filme de Hollywood. E é verdade.
Digo esta história porque no sábado, andei à conversa com o Antti Kalhola. Ele comentou o facto de ter nascido precisamente uma corrida após o 500º Grande Prémio, em Adelaide, em 1990. E que ele tinha havido tantos Grandes Prémios antes de nascer do que depois do seu nascimento. Claro, tem 28 anos, menos 14 que eu, que já aconteceram mais de 750 corridas desde o meu nascimento. Mas o meu primeiro que assisti, do qual me lembro, foi o de Las Vegas, em 1981, a corrida que deu o título a Nelson Piquet. Logo, devo ter assistido a mais de 600 corridas na televisão, já que pelo meio mudei de país e não vi a temporada de 1983 e parte da temporada de 1984.
Ele falou que no tempo dele estava a apanhar um pelotão cheio, com pré-qualificação, motores de V8, V10 e V12, Ferrari, Lamborghini, Honda, Judd, Ford Cosworth, Renault, Yamaha, entre outros. Equipas saiam e outras entravam - a Jordan estava prestes a entrar, por exemplo. E ele falava do contraste que havia nesse tempo - e que tinha pilotos como o Nigel Mansell, Ayrton Senna, Alain Prost e Nelson Piquet, com secundários como Riccardo Patrese, Thierry Boutsen, Gerhard Berger, entre outros. E não faltava muito para chegar Michael Schumacher.
Eu apanhei coisas... mais interessantes. Apanhei os Turbo, vi corridas do Gilles Villeneuve, Keke Rosberg, Alan Jones, Carlos Reutemann, René Arnoux, Elio de Angelis. Os anos 80 foram super-interessantes, mas infelizmente apanhei algumas mortes na Formula 1, como a de Villeneuve ou do Riccardo Paletti. Esse úlitmo lembro-me bem.
Contudo, na conversa que tivemos, eu disse que apesar do passado, estava curioso sobre o futuro do automobilismo, como o WRC e a coisa totalmente nova que é a Formula E, por exemplo. Ele acabou por concordar, quando me falou os desenvolvimentos no WRC, que tem a Toyota que pretende voltar a dominar os ralis e tem na figura do estónio Ott Tanak de ser o primeiro não-francês a poder ser campeão desde 2003.
Mas não falei na altura de algo do qual muitos consideram como sacrilégio: a Roborace, por exemplo. De quanto a tecnologia está a invadir os carros, acabando a mecânica para ser dominado pela tecnologia. Já mostrei por aqui: um carro sem condutor alcançou os 300 km/hora em linha reta. E sei que há milhares de engenheiros que trabalham no sentido de os carros serem cada e mais autónomos, poderem conduzir sem condutor, trabalhar em algoritmos que façam diminuir imenso a sinistralidade rodoviária.
E foi isso que lhe disse. Apesar da minha idade, não choro pelo passado. Já disse ontem: a Formula 1 comporta-se como um nobre à beira da decadência, que ainda julga que tem uma superioridade moral, que pouco ou nada vê o que se passa à sua volta. Que os seus fãs estão cada vez mais velhos, que choram por algo que definitivamente não é tecnológico. Não querem saber disso, querem entretenimento. Não querem saber, e quando sabem, desprezam coisas como a Formula E. Que tem nove construtoras, algo do qual a Formula 1 nunca teve. Que muitos ainda acham que os carros elétricos são uma fraude, que ainda acham que isso não passa de carrinhos de golfe. Que preferem gozar e hostilizar uma competição que em cinco anos já conseguiu atrair imensa gente, uma legião de fãs.
Até Bernie Ecclestone reconhece que a Formula E é uma força a ter me conta e não se importaria de gerir, se tivesse menos 30 anos. Ele que não se preocupe: A Formula E tem o seu Ecclestone, é o espanhol Alejandro Agag. E aprendeu muito com o anão.
E mesmo com coisas dos quais não gosto muito e dou alguma razão aos detratores - só circuitos urbanos, chassis iguais e os carros têm menos potência que os Formula 1 - eles têm sete vencedores diferentes em sete corridas, e a diferença entre o "top ten" a meio da temporada é menos de 12 pontos. Vencerá quem for mais regular. Há uma década, sabiam o que existia? Nada. Até os carros elétricos eram uma curiosidade. Hoje, a Tesla vai fazer cinquenta mil carros por mês numa só fábrica, e se calhar vai fazer o dobro quando a fábrica em Xangai estiver pronta, no final deste ano.
O carro mais veloz no Pikes Peak é elétrico. E a industria automóvel está a reagir, porque está a ser ultrapassada. Mas enfim, nada que não saibam, já avisei por aqui vezes sem conta, e já ando a desviar-me do assunto.
O que quero dizer é que nada é imutável. O automobilismo vai mudar. A Formula 1, por muita luta que haja no meio do pelotão, os favoritos são sempre os mesmos. Aliás, vivemos uma era onde os Flechas de Prata dominam. Não poderemos ter muita esperança de uma mudança, venha ela da Ferrari, da Red Bull ou da Renault. Oitenta por cento dos fãs sabe ou acredita que Lewis Hamilton será campeão. A Formula 1 teve imensos períodos de domínio, é verdade. Faz parte do ADN, tudo terá um começo e um fim. Já vimos a Ferari dominar, a Red Bull, a Williams, a McLaren... todos tiveram o seu periodo de domínio. E a Formula 1 manteve-se. Mas agora, as coisas começam a ser diferentes. As alternativas existem, e começam a incomodar, por muito que digam o contrário.
O que digo é isto: é bom ver o passado, mas não choro "paraísos perdidos". As coisas evoluem, é bom ver alternativas. Os verdadeiros automobilistas são os que vêm tudo e apreciam. E sabem que, dê no que der, no panorama geral, irá continuar. Está mais forte e saudável que nunca. Continuamos a gostar de ver e sonhar com ela. Se alargarem os horizontes, verão isso.
E isso tem um nome: evolução.
E foi isso que lhe disse. Apesar da minha idade, não choro pelo passado. Já disse ontem: a Formula 1 comporta-se como um nobre à beira da decadência, que ainda julga que tem uma superioridade moral, que pouco ou nada vê o que se passa à sua volta. Que os seus fãs estão cada vez mais velhos, que choram por algo que definitivamente não é tecnológico. Não querem saber disso, querem entretenimento. Não querem saber, e quando sabem, desprezam coisas como a Formula E. Que tem nove construtoras, algo do qual a Formula 1 nunca teve. Que muitos ainda acham que os carros elétricos são uma fraude, que ainda acham que isso não passa de carrinhos de golfe. Que preferem gozar e hostilizar uma competição que em cinco anos já conseguiu atrair imensa gente, uma legião de fãs.
Até Bernie Ecclestone reconhece que a Formula E é uma força a ter me conta e não se importaria de gerir, se tivesse menos 30 anos. Ele que não se preocupe: A Formula E tem o seu Ecclestone, é o espanhol Alejandro Agag. E aprendeu muito com o anão.
E mesmo com coisas dos quais não gosto muito e dou alguma razão aos detratores - só circuitos urbanos, chassis iguais e os carros têm menos potência que os Formula 1 - eles têm sete vencedores diferentes em sete corridas, e a diferença entre o "top ten" a meio da temporada é menos de 12 pontos. Vencerá quem for mais regular. Há uma década, sabiam o que existia? Nada. Até os carros elétricos eram uma curiosidade. Hoje, a Tesla vai fazer cinquenta mil carros por mês numa só fábrica, e se calhar vai fazer o dobro quando a fábrica em Xangai estiver pronta, no final deste ano.
O carro mais veloz no Pikes Peak é elétrico. E a industria automóvel está a reagir, porque está a ser ultrapassada. Mas enfim, nada que não saibam, já avisei por aqui vezes sem conta, e já ando a desviar-me do assunto.
O que quero dizer é que nada é imutável. O automobilismo vai mudar. A Formula 1, por muita luta que haja no meio do pelotão, os favoritos são sempre os mesmos. Aliás, vivemos uma era onde os Flechas de Prata dominam. Não poderemos ter muita esperança de uma mudança, venha ela da Ferrari, da Red Bull ou da Renault. Oitenta por cento dos fãs sabe ou acredita que Lewis Hamilton será campeão. A Formula 1 teve imensos períodos de domínio, é verdade. Faz parte do ADN, tudo terá um começo e um fim. Já vimos a Ferari dominar, a Red Bull, a Williams, a McLaren... todos tiveram o seu periodo de domínio. E a Formula 1 manteve-se. Mas agora, as coisas começam a ser diferentes. As alternativas existem, e começam a incomodar, por muito que digam o contrário.
O que digo é isto: é bom ver o passado, mas não choro "paraísos perdidos". As coisas evoluem, é bom ver alternativas. Os verdadeiros automobilistas são os que vêm tudo e apreciam. E sabem que, dê no que der, no panorama geral, irá continuar. Está mais forte e saudável que nunca. Continuamos a gostar de ver e sonhar com ela. Se alargarem os horizontes, verão isso.
E isso tem um nome: evolução.
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