Quando vês algo que impacta na tua vida, irás vivê-la por muito tempo. Mesmo pensando que aconteceu ontem, na semana passada, mês ou ano passado, descobres que já passou duas décadas. E só aí é que entendes que as fotos dessa altura já estão amareladas, que algumas vestimentas estão deslocadas no tempo, os objetos eletrónicos não são mais aqueles.
Há vinte anos, a 31 de outubro de 1999, dia de Halloween, em Fontana, e algumas horas depois de Mika Hakkinen ter vencido o bicampeonato no Japão, a bordo do seu McLaren, a CART ia fechar as suas atividades com um duelo entre Dario Franchitti e Juan Pablo Montoya, dois jovens lobos da competição. Mas outro jovem piloto do qual muitos gostavam de ver era o canadiano Greg Moore. Piloto da Forsythe, 24 anos de idade, desde 1997 na competição americana, e comparado a Gilles Villeneuve - curiosamente, o piloto que lá estava antes dele tinha sido Jacques Villeneuve, filho de Gilles.
Moore iria para a Penske no ano 2000 - no lugar dele acabou por ir Hélio Castro Neves - e tinha vencido a corrida de abertura, em Homestead, na Florida. Mas tirando outros dois pódios em Milwaukee e Detroit, não teve uma grande temporada. Provavelmente a ida para uma equipa maior lhe alargaria os horizontes. E aquilo que teve o brasileiro confirma isso.
O principio do fim é relativamente conhecido: Moore teve um acidente de scooter durante os treinos que magoou a sua mão direita. Ele insistiu em correr, apesar da equipa ter colocado Roberto Moreno de prevenção. Não tinha nada a perder ou a ganhar, apenas queria participar. E muitos culpam isso pelo seu acidente na volta nove da corrida.
Ao contrário do que aconteceu em Imola, cinco anos antes, eu vi este acidente. Não foi captado o seu inicio - claro, as especulações apareceram em catadupa - mas captou-se o seu choque no muro e o desintegramento do bólido. Quando a poeira se assentou e o carro parou de rolar, eu sabia que estava morto. Ninguém sobrevive incólume a uma acidente daquele tipo, simples. Demorou cerca de meia hora até meterem as bandeiras amarelas, colocar as bandeiras grandes da CART, dos Estados Unidos e do estado da California a meia haste, e depois as declarações do Dr. Steve Olvey, o mítico médico que tinha assistido a dezenas de acidentes bem feios, alguns deles milagres em quatro rodas, outras autênticos terrores humanos, para anunciar, pesaroso, que a vida do talentoso canadiano tinha ali terminado.
A corrida continuou - ao contrário de 2011, em Las Vegas, porque ali houve um "big one", a designação americana de carambola - e no fim, Adrian Fernandez ganhou (a sua primeira vitória na CART, em Toronto, em 1996, também acabou com a morte de outro piloto, Jeff Krosnoff), Franchitti e Montoya acabaram empatados, mas o colombiano foi o campeão, porque tinha sete vitórias contra os três do escocês. Mas ninguém queria comemorar. Nem isso, nem o Halloween, nem o raio que o parta porque o automobilismo, na sua periculosidade, tinha reclamado mais um dos seus filhos.
A vida continuou, é certo, outros triunfos e outras tragédias aconteceram, mas os que conhecem e adoram este desporto ainda se recordam certamente o que faziam neste dia, agora, vinte anos contados. É assim.
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