Há meio século - faz hoje cinquenta anos - o Brasil descobria, espantado, que tinha um piloto na Formula 1. E que tinha vencido, aproveitando a oportunidade que se tinha aberto na equipa mais importante de então. E conseguiu vencer na corrida mais importante de então, com o prémio mais rico de então, porque tinha o melhor carro, a melhor equipa... e teve sorte. Porque o piloto que deveria ter ganho, não conseguiu porque ficou sem gasolina.
A chegada da Lotus em Watkins Glen foi a sua primeira aparição desde os eventos de Monza, que resultaram na morte de Jochen Rindt. Sem líder, a equipa recebeu ainda a noticia de que John Miles decidira pendurar o capacete a ter de guiar um carro que consideravam perigoso e radical. Miles não quis guiar o carro sem asas na pista italiana, e - ou se despediu, ou foi despedido - uma coisa é certa: ele largara a Lotus e a Formula 1, sem alguma vez ter olhado para trás.
Sem dois pilotos, Chapman confiou a sua sorte em Emerson Fittipaldi, que tinha se estreado dois meses e meio antes, em Brands Hatch, com o modelo 49, e iria estrear a sua condução no 72 na pista italiana. A estreia ficou adiada por duas corridas, pois também não correram em Mont-Tremblant, no Quebec canadiano. Um segundo carro era preparado para o sueco Reine Wissell, que iria se estrear na Formula 1 nessa mesma corrida.
No meio isto tudo, a Ferrari aplicou-se fortemente para alcançar a Lotus. Vencera no Canadá, depois de Clay Regazzoni ter conseguido vencer em Monza, e o belga Jacky Ickx estava ao alcance de uma vitória no campeonato do mundo, bastava vencer as suas corridas que se seguiam e seria campeão com um ponto de diferença. E foi o "poleman", com Fittipaldi em terceiro.
Ickx e o brasileiro não tiveram boas partidas, beneficiando Jackie Stewart, que andava com o seu novo chassis Tyrrell, e ficou assim até à volta 76 onde, com um minuto de vantagem sobre o segundo classificado, começou a ter problemas no seu motor, acabando por desistir. um pouco antes, tinha sido Ickx, que, com um problema no tubo de combustível, caia para o fundo do pelotão e provavelmente tinha deitado fora as suas chances de campeonato, se não fizesse uma corrida milagrosa.
Com isto, era Pedro Rodriguez que comandava, mas o V12 era glutão e na volta cem, a oito da meta, viu que não tiha combustível até ao fim e reabasteceu, perdendo 38 segundos e via Fittipaldi na sua frente. E foi assim até ao fim.
Tempos depois, Emerson contou o que sentiu quando viu a bandeira de xadrez: "Quando passava pela linha de meta, na banderia de xadrez, e via Colin Chapman saltar e a aturar o seu chapéu, algo que tinha visto por Jim Clark, Graham Hill e Jochen [Rindt], dizia para mim mesmo: 'Está a fazer por mim, ganhei a corrida, ganhei o GP dos Estados Unidos!' Era inacreditável." E para além disso, 50 mil dólares de prémio e, mal ele sabia, o inicio de uma carreira e a da reputação de desbravador.
Naquele dia, o brasileiro comum descobria a Formula 1. Dali a menos de dois anos, a 10 de setembro de 1972, também descobriria que poderiam ter campeões do mundo.
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