Este era um rali condenado à partida. Nos bastidores, a FIA tinha decidido que precisavam de ralis de asfalto, e a Alemanha mostrava argumentos irresistíveis. Mas como fazer isto de forma a que não fosse uma decisão já tomada? A tempestade que abateu durante aquele inverno procedeu a cobertura ideal, se quiserem. E ainda por cima, alguns dias antes da prova, a 4 de março, a queda da ponte de Entre os Rios, que arrastou para o rio Douro um autocarro cheio de excursionistas, matando 59 pessoas, de um certa maneira colocou um ar fúnebre ao ambiente daquele final de inverno.
O rali de Portugal de 2001 - que faz esta semana vinte anos - foi o último durante muito tempo a fazer parte do Mundial de Ralis. Era já um dos clássicos do automobilismo, a par de Monte Carlo, Sanremo, Córsega, Acrópole ou Finlândia, mas o calendário era curto e para entrar mais um, tinha de ser excluído outro. E como a prova até era bem organizada, não poderia ser por ali que iriam excluir. O mau tempo foi o pretexto ideal, a organização nem teve chances de se defender.
Pior ainda: um dos seus maiores defensores, César Torres, tinha morrido em 1997. Ele que ajudara a organizar a prova e por causa disso, tinha subido na hierarquia até ser um dos vice-presidentes da FIA, não estava mais para fazer valer a sua força junto de Max Mosley e outros, porque a prova era ainda popular entre o público.
O rali foi difícil. As estradas de terra estavam cheias de lama, o frio não ajudou muito, mas os pilotos nem se queixavam muito, porque contra o tempo, não havia muito a ser feito, e já tinham lidado com ralis piores na Grã-Bretanha, por exemplo. Mas esse tempo praticamente arrasou com os carros de ruas rodas motrizes, do qual poucos chegaram ao fim.
Mas isso era atrás, porque na frente, havia competição entre o Mitsubishi de Tommi Makinen e o Ford Focus de Carlos Sainz, no qual o finlandês levou a melhor sobre o espanhol por meros 8,6 segundos. E foi mesmo até ao fim, na classificativa de Ponte de Lima Sul, onde Makinen, depois de ter feito a sua parte, dentro do seu carro, contava os segundos até ver chegar o piloto espanhol para saber se tinha ou não ganho a prova. E conseguiu, uma das últimas da sua carreira, que terminou em 2003.
Depois disto, o WRC foi-se embora, indo para outras paragens. o Automóvel Clube de Portugal, que organiza a prova, lambeu as feridas e decidiu que iria trabalhar para tê-lo de volta. Mas para isso, tinha de aceitar as condições que a FIA exigia para o seu regresso. E queria que fossem para o sul, ao Algarve. E foram. Tanto que em 2006 e 2010, o rali apanhou tempestades e continuou sem qualquer problema, sem qualquer reparo por parte da FIA...
Em suma, o que acabou em 2001 foi um certo tipo de rali. Quando ele regressou ao calendário, um outro tipo de prova foi implementado.
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