domingo, 2 de maio de 2021

A imagem do dia


Custa-me a crer, mas hoje passam 35 anos sobre o acidente mortal de Henri Toivonen e Sergio Cresto, durante o Rali da Córsega de 1986. Aquele acidente foi uma espécie de "dobrar de finados" sobre os carros de Grupo B. E tinha acontecido dois meses depois do acidente de Joaquim Santos no Rali de Portugal, que matou três pessoas e levou ao boicote dos pilotos de fábrica ao resto do rali, que classificou como "perigoso" por causa do delírio dos espectadores que adoravam ver os carros a passarem e centímetros dos seus corpos. 

E casos macabros, como dedos decepados encontrados pelos mecânicos quando abriam os capôs eram frequentes...

Sobre o acidente em si, a explicação mais convincente e mais lógica que ouvi foi há uns anos, quando Marku Alen e Juha Kankkunen, que andaram naqueles tempos a domar os carros do Grupo B, explicaram que ele pura e simplesmente estava esgotado de dirigir um carro sem direção assistida, e quando estamos fatigados, perdemos alguma concentração. E foi isso. 

Mas cerca de quatro meses antes, Toivonen conseguiu aquela que provavelmente foi a melhor atuação de sempre. Foi em Monte Carlo e ele estava com o Delta S4 na sua segunda prova, depois de ter estreado no Rali RAC do ano anterior... e venceu, na frente de Alen, em dobradinha da marca italiana.

Monte Carlo começou bem para Toivonen, que começou a liderar a partir da segunda especial, mas numa ligação entre a 12ª e 13ª classificativa, Toivonen viu pela frente um Ford Cortina e bateu forte. Felizmente, ninguém ficou ferido, mas o carro sofreu danos na suspensão frente esquerda e os mecânicos apenas podiam fazer reparos num curto espaço de tempo. E com isso, a concorrência aproximou-se, liderada pelo seu compatriota Timo Salonen, num Peugeot 205 Turbo.

Já agora, Salonen merece um dia uma história, porque era um verdadeiro anti-heroi: gordo, com óculos e fumante. E foi campeão do mundo!

Mas com o Peugeot em forma e o Lancia "coxo", deu um duelo inesquecível, que culminou no último dia, quando ambos andavam juntos e Toivonen começou a baixar até cerca de 30 segundos. Mas quando chegaram ao Col de Turini, noite cerrada, o diretor da Lancia, Cesare Fiorio, pediu para trocar de faróis, colocando um filtro amarelo em vez dos brancos. E porquê? Era assim que se identificavam os carros franceses à noite, e os espectadores adoravam atirar neve para o asfalto, para prejudicar os outros carros. Isso e a troca para pneus slicks em vez daqueles com pitons para a neve, fizeram com que Toivonen passasse definitivamente Salonen e vencer com quatro minutos de avanço. 

E isto até calhou bem: vinte anos antes, seu pai, Pauli Toivonen tinha triunfado no mesmo local com um Citroen DS19, mas foi uma vitória na secretaria, porque cruzara a meta no quarto posto e herdara a vitória quando os Mini Cooper S foram desclassificados devido a irregularidades nos faróis. Tovionen pai nunca gostou da maneira como ganhou, praticamente renegou essa vitória, apesar de ter sido um dos melhores dos anos 60 e campeão europeu em 1968. Quando ele viu o filho triunfar, disse algo como "agora a honra dos Toivonen foi reposta". Pois foi. 

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