quarta-feira, 14 de julho de 2021

A imagem do dia


É certo que passam 70 anos sobre aquele dia em Silverstone, onde o argentino Froilan Gonzalez fez história ao ser o primeiro piloto sem ser da Alfa Romeo a ganhar um Grande Prémio oficial, marcando o final da primeira era de domínio na Formula 1. Mas hoje, pretendo ser diferente, e para isso vou ao outro lado do Atlântico. Para Toronto, e que, há um quarto de século, terminava a vida de duas pessoas, um acidente muito bizarro, para dizer o mínimo.

O americano Jeff Krosnoff não teve uma carreira convencional entre os pilotos da nação dos livres e da casa dos bravos. Estudou Gestão na California, e quando acabou, decidiu rumar para o Japão, entrando na Formula 3000 local, onde correu durante seis temporadas, o que é bastante. Ele chegou lá numa era em que a competição foi invadida por gente que queria acima de tudo, ser bem sucedido para chegar à Formula 1 ou no caso dele, para a CART. Entre seus rivais e companheiros de equipa, correu contra Ukyo Katayama e Shinki Nakano, mas também com e contra Heinz-Harald Frentzen, Johnny Herbert, Mika Salo, Eddie Irvine, Tom Kristensen, Roland Ratzenberger e muitos outros. Nunca venceu corridas - a sua melhor classificação foi um sétimo posto na temporada de 1990 - mas conseguiu alguns pódios e a sua presença foi o suficiente para, por exemplo, correr no campeonato de GT local, e em 1994, teve a oportunidade de correr nas 24 horas de Le Mans, a bordo de um Toyota, onde conseguiu um honroso segundo lugar, ao lado de Irvine, agora piloto da Jordan na Formula 1, e de Mauro Martini, num carro que também teria sido corrido por Roland Ratzenberger, se não fossem os acontecimentos de Imola.

A aspiração de Krosnoff era de correr na CART, mas nunca teve muito dinheiro para isso. E talento... digamos que não era propriamente um Greg Moore, por exemplo. Assinado pela Arciero-Wells, Krosnoff teria, certamente, a experiência de guiar em monolugares, mas aquele era um "bicho" bem diferente, e teve muita dificuldade em se adaptar. Até chegar a etapa de Toronto, no Canadá.

Com André Ribeiro como "poleman", a corrida começou com Alex Zanardi a liderar durante boa parte da prova, sedo depois passado por Greg Moore. Mas na volta 78, o mexicano Adrian Fernandez conseguiu manobrar o canadiano e ficou com a liderança. 

Atrás, numa luta por uma posição sem importância - não daria pontos - Krosnoff lutava com dois ex-pilotos de Formula 1, Emerson Fittipaldi e Stefan Johansson. Ambos viam-se na frente de outro brasileiro, Gil de Ferran. E quando o sueco, ex-Ferrari e ex-McLaren, quis passar De Ferran, ele fechou a porta ao americano, que acabou por voar e bater fortemente a uma árvore e um poste de iluminação. E ao lado disso tudo estava um posto de comissários. E ali estava Gary Arvin.

Ele era um de nós, que deu o passo de ir para os circuitos e ajudar no bom desempenho da corrida. Como comissário, mais do que dar bandeiras e alertar para os perigos, ter extintores à mão e ser treinado para poder retirar os pilotos dos chassis danificados, em caso de acidente, de uma certa maneira estava tão perto daquelas máquinas em todo o seu esplendor e força. Mas também estaria na primeira linha, quase desprotegido, caso as coisas corressem muito mal. Como acontecera naquela tarde em Toronto. Quando o carro bateu contra a árvore e o poste, este se desintegrou em vários bocados, e a parte da frente caiu no posto dos comissários, onde Arvin lá estava. Quando tudo acabou e se verificou a gravidade da situação, tanto Krosnoff e Arvin estavam mortos. Tinham desaparecido num instante.

O automobilismo é perigoso, sempre foi, por muito que a tecnologia avance. Temos de agradecer à tecnologia por ter evitado dezenas de mortes em acidentes potencialmente fatais, como aconteceu ao Romain Grosjean, no Bahrein. Mas... reduzir as mortes a zero? Não acontecerá, provavelmente nunca. E coisas como aquilo que aconteceu há precisamente 25 anos serão sempre lembrados não só pela periculosidade da modalidade, mas pelo facto desta gente pagou o preço mais alto pela sua paixão.   

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