quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A imagem do dia


Mauro Forghieri sempre disse que foi o seu carro favorito. Mas a história não é muito generosa para com ele porque chegou tarde para contrariar a força imparável dos Ford GT40, e o seu grande triunfo não foi em Le Mans, foi em Daytona. E como nunca bateu as criações de Detroit no palco devido, foi injustamente esquecido.

O Ferrari 330P4 é um bólido que, mais de 50 anos depois, pelas suas linhas, continua a ser moderno, passa futurismo. O seu motor de 3,3 litros, colocado atrás do condutor, era a quarta evolução da série P, que apareceu em 1962, com motores de entre 2,5 e 4 litros, para correr nas grandes provas de Endurance. Tiveram excelentes resultados, com o 250P a triunfar nas 24 Horas de Le Mans de 1963 a 1956, e com gente como Lorenzo Bandini, John Surtees, Jean Guichet, Ludovico Scarfiotti e Nino Vaccarella, entre outros. 

Quando foi desenhado, apareceu como reação ao 330P3, mas também foi a reação à derrota nas 24 Horas de Le Mans de 1966, onde os Ford conseguiram uma tripla, com Bruce McLaren e Chris Amon a triunfarem sobre Ken Miles e Dennis Hulme, numa chegada que foi bem polémica e atrapalhada, mas serviu bem o marketing da marca de Dearborn, no Michigan. Ferrari, no limite monetário e pouco capaz de bater os milhões de dólares injetados por Henry Ford II - mais de 60 milhões, segundo consta - tentou recuperar o cetro perdido com esta evolução. 

As diferenças eram as cabeças modificadas e um sistema de injeção no motor que elevou a potência para 415 cavalos. Foram construídos quatro - três deles de raiz e outro uma modificação do P3. alinharam nas 24 Horas de Le Mans de 1966, mas nada puderam fazer contra os Ford, mas a seguir, participaram mais corridas. As vitórias nos 1000 km de Monza desse ano foram um bom começo - repetiriam em 1967 - mas outra vitória importante foi nas 24 Horas de Daytona, no início do outro ano.

Nesse ano, o duelo Ford-Ferrari continuava. A marca americana tinha desenvolvido a versão J, cujo desenvolvimento tinha sido atribulado - Ken Miles sofreu o seu acidente mortal quando o testava em Riverside, em agosto de 1966 - e tinham inscrito seis carros, mais três inscritos por equipas privadas. Do lado de Maranello, havia um 330P4 Berlinetta para Chris Amon e Lorenzo Bandini e um 330P4 Spider para Mike Parkes e Ludovico Scarfiotti. Havia também outros modelos, como o 412P que era guiado por Jean Guichet e Pedro Rodriguez.  Ainda habia um Chaparral e Porsches, mas não tinham grandes chances, neste duelo muito forte entre ambas as marcas.

A pole foi feita por um Ford GT40, pilotado por Dan Gurney, com o melhor Ferrari a ser o 412P guiado por Guichet/Rodriguez, com um dos 330P4 logo a seguir. 

Na partida, o Chaparral de Phil Hill partiu bem e liderou nas primeiras horas. Contudo, um despiste na volta 88 o fez ir às boxes para as reparações, perdendo o comando para o Ferrari de Amon e Bandini. Os Ford ainda tinham uma palavra a dizer, mas com o passar das horas, tinham problemas e paravam nas boxes para reparações demoradas. Os novos carros sofriam com a sua juventude, e para piorar as coisas, os Chaparral, que poderiam complicar a coisa, também desistiam. Pelas nove da manhã, a Ferrari estava nas quatro primeiras posições, e com imensa vantagem sobre a concorrência. Os únicos Ford que os ameaçavam era o pilotado pela dupla Bruce McLaren e o belga Lucien Bianchi. Mas problemas de sobreaquecimento foram tais que os fizeram atrasar, acabando em sétimo. 

A 30 minutos do fim, com o pódio garantido, os carros de Maranello começaram a andar juntos, fazendo um desfile perante os americanos, imitando o que tinham feito meio ano antes em Le Mans. Era uma vingança na casa do adversário, quase a roçar o humilhante, especialmente porque tinham trazido o dobro dos carros. 

E foram assim até à meta. Tinham liderado em 20 das 24 horas da prova, sem sinal dos GT40. Era o auge - e a vingança - de Maranello nas terras do Tio Sam.

Ferrari não foi a Sebring, alegando que estavam a preparar-se para Le Mans, e pensavam que tinham uma chance bem real de regressarem às vitórias. Mas a primavera foi trágica: Bandini sofreu o seu acidente mortal em maio, no Mónaco, Parkes teve o seu acidente grave algumas semanas depois, em junho, e em La Sarthe, foram batidos pelo GT40 dos americanos Dan Gurney e A.J. Foyt, que inauguraram a cerimónia do champanhe.

Quanto aos carros, três dos chassis sobrevivem hoje, um no museu da Ferrari, os outros dois em coleções privadas, um deles pertencente a James Glickenhaus.

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