Será este momento o princípio do fim?
Para algumas coisas, eu creio que sim. Mas pessoalmente, acho que o princípio do fim foi mais tardio - sobre isso falarei mais tarde. Bem vistas as coisas, creio que deve ter sido ali que a sua confiança foi abalada.
A Ferrari é um sonho. Mas também é um Saturno devorando os seus filhos, como Francisco Goya bem pintou nos seus pesadelos, num dos quadros mais impressionantes que já vi da história da pintura. Se no tempo do "Coomendatore" Enzo Ferrari, os pilotos pagavam com a vida, agora, eles pagavam com a carreira e o prestígio abalado, senão destruído. Poucos são os que voltam a vencer depois de passarem por Maranello. Lá, deixas a alma.
Há alguns anos, li uma entrevista que o Chris Amon fez à Motorsport britânica, que contou sobre a sua incapacidade de triunfar numa corrida de Formula 1, e falou da sua performance no GP de França de 1972, em Charade, com o seu Matra, onde fez tudo bem e ia ganhar... se não fosse um furo, que o relegou para o terceiro lugar. Todos consideram que foi o seu melhor desempenho na sua longa carreira na Formula 1. Amon contou nessa entrevista que esse foi o momento em que fez acreditar que não seria bem-sucedido. Isso e outras razões.
Não ficaria admirado se um dia, mais tarde, numa entrevista qualquer, se lhe perguntarem ao Vettel sobre essa corrida, se calhar terá uma resposta semelhante. Ou esse, ou o GP do Canadá de 2019.
Mas falemos dessa corrida. Quando todos chegaram a Hockenheim, Vettel vinha de um triunfo em Silverstone, que o deixou na frente do campeonato, com oito pontos de vantagem sobre Lewis Hamilton. E para melhorar as coisas, na qualificação - mais especificamente na Q1 - Hamilton sofreu um problema hidráulico, significando que ele iria partir de 14º, com a pole nas mãos de Vettel.
Ele tinha tudo para alargar a liderança.
O dia da corrida começou com ameaças de chuva, mas isso não acontecia quando partiram, quando Vettel largou bem e começou a alargar a liderança para Valtteri Bottas, o segundo classificado. O alemão controlava a corrida até à volta 26, quando foi às boxes e trocou de pneus, deixando a liderança para Bottas e regressando em quarto. Vettel começou a subir na hierarquia e na volta 39, depois de passar Kimi Raikkonen, começou a queixar-se do sobreaquecimento dos seus pneus. Hamilton, entretanto, tinha metido ultra-moles. E havia uma razão para isso: iria chover.
Os primeiros pingos de chuva caíram na volta 44, e Vettel, que agora liderava, começava a ter problemas. Primeiro, uma pequena saída de pista. E depois, na volta 52, quando era o líder, não travou a tempo na curva interior do Estádio, acabando na gravilha. Era a catástrofe, ainda por cima, no seu GP caseiro!
O resto acabou por ser marcante. Mesmo com o britânico a atravessar a linha antes das boxes na volta 53, porque o chamaram tarde demais para fazer uma entrada como todas as outras, o britânico triunfou, e para melhorar as coisas, tinha sido um maná dos céus, porque deve ter sido das vitórias mais improváveis e mais imprevistas da sua carreira. E aqueles 25 pontos, com o alemão a conseguir zero, num campeonato até ali bem disputado, era um maná do qual não poderia desperdiçar.
Mas a partir dali, a sorte de Vettel descambou. Apesar da vitória na Bélgica, por exemplo, os erros em Monza, e sobretudo em Singapura, onde ele e Raikkonen foram eliminados à partida pelo Red Bull de Max Verstappen, deram o caminho do triunfo ao britânico. Tirando 2016, com Nico Rosberg, aquele tinha sido, até então, o ano onde Hamilton sentiu mais dificuldade em alcançar o título.
E a Ferrari não iria ter mais chances nos próximos tempos. Agora, sabemos, este pode ter sido o começo do fim na Scuderia, o momento em que sentiu ser devorado pela máquina de Maranello.
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