quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

A imagem do dia


Na minha recordação de Philippe Streiff, que morreu na antevéspera de Natal, aos 67 anos, lembro do seu maior feito após o acidente que o deixou paralisado do pescoço para baixo: o Masters Karting de Bercy, um encontro entre pilotos, que recordavam os seus dias na modalidade que os fez entrar em contacto com o automobilismo. 

E a primeira ocasião, as pessoas não esquecem.

Em 1993, a primeira edição trouxe um bando de pilotos muito bons, provavelmente a melhor de sempre. Lá estavam Alain Prost, acabado de retirar da Formula 1, e Ayrton Senna, que tinha acabado de sair da McLaren e ficado com o lugar do piloto francês para 1994. Mas naquela ocasião, andou com um fato totalmente branco e com os seus patrocinadores pessoais, num duelo muito engraçado e emocionante, mas na realidade, foi uma brincadeira levada muito a sério, como Senna sempre foi. E Prost sabia disso.

Toda a gente sabe que Senna nunca foi campeão do mundo de karting. O melhor que conseguiu foram dois segundos lugares, em 1979, no Estoril, e no ano seguinte, em Nivelles, na Bélgica. Lidou com pilotos bem melhores como Terry Fullerton, que nunca quis uma carreira nos monolugares, e sempre disse que o karting era uma forma pura de conduzir, sem interferências politicas. 

Quando se soube que ambos os pilotos estariam nesse Masters de Karting, foi o suficiente para ofuscar os outros convidados - desde Johnny Herbert a Andrea de Cesaris, passando por Damon Hill - e foi transmitido em direto pelo canal de desporto pan-europeu Eurosport. Há vídeos no Youtube onde se pode ver na íntegra, deixo um link aqui.

As coisas foram levadas a sério: Prost testou exaustivamente, Senna trouxe o seu karting pessoal. E eles lá estavam, como consagrados, perante muitos pilotos jovens, campeões da modalidade. Tinha, feito equipas de três, em conjunto com um jovem promissor. No final da corrida, nem Prost, nem Senna, ganharam: foi Pierluigi Martini o vencedor. 

Uma corrida final tinha emparelhado os consagrados, onde um terceiro piloto interferiu no seu duelo: Andrea de Cesaris. Pouca gente sabe que o italiano, então com 34 anos e tendo acabado de ser piloto da Tyrrell, tinha sido um excelente piloto de karting e deu água pela barba a Prost e Senna. Tinha os conseguido bater e corria pela vitória, ofuscando até o embate do qual todos tinham pago o bilhete. No final, o italiano desistiu devido a uma abaria do seu karting, deixando a vitória para Prost. 

Tudo ficou em casa, mas todos ficaram satisfeitos com o espetáculo que tinham dado. Muitos sabiam que era das últimas ocasiões em que os dois estariam juntos, mas que dentro de alguns meses, tudo seria diferente. Bem diferente.

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