terça-feira, 25 de abril de 2023

A imagem do dia


Passaram ontem 40 anos sobre o acidente mortal de Rolf Stommelen. Um "all-rounder" que andou na grelha da Formula 1 entre 1970 e 78, por equipas como Brabham, Surtees, Hill e Arrows, entre outros, era bom na Endurance, especialmente a guiar Porsches. Conseguiu um pódio e 14 pontos, e na Endurance, apesar de nunca ter ganho as 24 Horas de Le Mans - foi segundo em 1979, partilhando o carro com... Paul Newman! - ganhou Daytona por quatro ocasiões - 1968, 1978, 1980 e 1982 - e triunfou na Targa Florio de 1967. Ou seja, teve uma carreira longa e triunfante em três décadas diferentes.

Quase ganhou o GP de Espanha de 1975, num Hill GH1, numa inesperada liderança de uma corrida polémica, mas a sua asa traseira desprendeu-se e no acidente, matou cinco pessoas, entre fotógrafos e jornalistas, num local onde não deveriam estar ali.

O seu último momento na Formula 1 também foi interessante. Aconteceu no GP da Alemanha de 1976, quando se inscreveu pela equipa RAM, com um Brabham BT44 de fábrica, antes de, na sessão de sexta-feira, os carros terem sido apresados por uma ordem do tribunal para que John McDonald pagasse umas dívidas passadas. Ele, que corria ao lado da italiana Lella Lombardi, queria correr "em casa", e pediu a Bernie Ecclestone se não poderia correr com o seu terceiro carro oficial, ao lado de Carlos Reutemann e José Carlos Pace. Ele acedeu, colocou mais um 7 no carro - ficou 77 - e na corrida, depois do acidente de Niki Lauda, acabou por conseguir um sexto lugar e um ponto. E ainda conseguiu mais uma corrida, em Itália, porque Reutemann se fartou no fraco motor Alfa Romeo e aceitou o convite da Ferrari, com Maranello e o Commendatore convencidos que Lauda não correria mais naquela temporada.

Mas a história de Stommelen conto hoje, também é de 1976, e também aconteceu no Nordschleife. Mas uns tempos antes, a 4 de abril. Era a corrida dos 300 km, e a Porsche decidiu que seria a estreia do modelo 936, que pretendia usar no ano seguinte. Mas era um modelo primitivo, que, por exemplo, não tinha a entrada de ar. E estava apenas pintado de negro. Quando apareceu, com Stommelen ao volante, logo o chamaram de "Viúva Negra". E tinha concorrência forte, com os Renault A442 de Patrick Depailler e Jean-Pierre Jabouille, já com os Turbo. Conseguiu o segundo lugar na qualificação, logo atrás do Renault, e no dia da corrida, a chuva fazia a sua aparição na pista, que adicionava mais perigo ao Inferno Verde. 

A corrida começou com Stommelen a largar melhor e passar o Renault, para mais adiante, no Nordkehre, travar mais tarde e deixar passar o Renault, que ia na sua perseguição, porque queriam ganhar na casa da Porsche. 

Na realidade, o que Stommelen começou a fazer foi um jogo do gato e do rato com o Renault. A travagem tinha sido proposital, e queria caçá-los de modo implacável, no circuito mais difícil do mundo, e na pior das condições possíveis. Ele passou-os de novo, e o Renault, na pressa de o apanhar, passou em cima das poças de água e bateu nos rails de proteção, ficando fora de combate ainda antes do final da primeira volta!

Stommelen parecia ir para uma vitória quando na sexta volta, o seu acelerador ficou preso. Em vez de encostar o carro nas boxes, decidiu que a melhor maneira de contornar o problema era... desligar o carro nas travagens. Por pura inércia, o carro fazia as curvas sem bater, e quando saía delas, ligava o carro e acelerava, aproveitando o pedal na posição de "aberto". E chegou ao fim, na segunda posição, mesmo com o problema que tinha no carro. 

Só mesmo alguém genial, como ele. 

Aliás, depois dessa demonstração, os jornalistas começaram a afirmar: "se travas mais tarde que o Stommelen no Norschleife, acabas mal!"    

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