(...) "A primeira corrida da temporada [de Formula 2 de 1968] foi em Montjuich, em Espanha, no 1º de abril. Não foi uma boa prova para o escocês, que não terminou a corrida, devido a um toque na suspensão do seu carro. A seguir, o motorhome da marca rumou à Alemanha, para aquilo que era chamado de “Deutschland Trophae”. A Lotus estava lá devido a compromissos com a sua marca de pneus, a Firestone, e para os pilotos, era uma oportunidade para passar mais dias fora da Grã-Bretanha, para evitar pagar mais impostos sobre o rendimento, e ambos tinham os dias contado para testes e corridas. Daí que Clark tinha declinado o convite para correr nesse dia em Brands Hatch, numa prova de Endurance, ao volante do novo Ford P68. Iria ser o Brands Hatch BOAC 500, e das poucas ocasiões onde não iria guiar um Lotus.
As coisas estavam tão calmas que Chapman sequer estava presente na pista alemã. Tinha tirado férias nos Alpes suíços, porque, de uma certa maneira, a equipa funcionava como um relógio. E a corrida era algo menor, comparado com a Formula 1, que só retomaria um mês depois, no circuito de Jarama, em Espanha.
A lista de inscritos era bem interessante. Para além de Clark e Hill, estavam os Matra de Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo, o Ferrari de Chris Amon, dois Brabham inscritos por um jovem chamado Frank Williams, para Derek Bell e Piers Courage, e uma série de privados, incluindo um futuro construtor, o francês Guy Ligier, e um futuro presidente da FIA, Max Mosley, que corria num Brabham inscrito pela London Racing Team. A corrida seria uma combinação de duas mangas, com 20 voltas cada um, e o vencedor seria encontrado na soma dessas duas mangas.
Contudo, nesse fim de semana, Clark estava a ter um momento difícil. O seu Lotus 48 de Formula 2 era um carro pouco equilibrado e ele andou o fim de semana a tentar encontrar a afinação ideal para poder andar entre os da frente. Provavelmente, ainda sofria com o acidente da semana anterior, em Espanha, e as reparações não foram feitas a tempo ou de forma conveniente. Mas para além disso, existia outro factor importante: estava muito frio, com temperaturas pouco acima dos zero graus, o que, por exemplo, entupia os fluxos de combustível, devido do risco de congelamento. (...)
(...) Os mecânicos da Lotus, comandados por David “Beaky” Sims, lutavam com problemas de difícil resolução, pelo menos por ali. E claro, Clark tinha consciência que não iria ser uma corrida fácil.
Sims contou depois que o tempo nesse dia estava horrível: 'Estava muito frio, tão frio que tínhamos problemas para medir o combustível, porque tínhamos componentes a quebrar devido ao estado do tempo, pois congelavam'.
Clark, pensando nos prós e contras, sentenciou a Sims: 'Da maneira como este carro está, não contes comigo no pódio'. Iriam ser as suas últimas palavras conhecidas.
O dia 7 de abril de 1968 é um dos mais negros da história do automobilismo. Numa prova relativamente menor, num circuito perdido na Alemanha Ocidental, morria o melhor piloto de então e um dos melhores da história, o escocês Jim Clark. O choque foi tal que no Reino Unido, o público ficou em silêncio quando se deu o anuncio do seu acidente fatal nos altifalantes do circuito de Brands Hatch, durante as BOAC 500, corrida de Endurance onde se esperava a sua presença.
Alguns dias depois, a fina flor do automobilismo se despedia de Clark e colocava-se em dúvida sobre se poderia passar pelas corridas de forma incólume. O neozelandês Chris Amon, então piloto da Ferrari, disse depois o que muita gente pensava: “Acho que ninguém passou a andar mais devagar depois da morte de Jimmy, mas todos pensávamos que se poderia acontecer com ele, poderia acontecer a qualquer um. Muitos de nós achávamos que éramos inatingíveis, e isso acabou ali…”
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