Em meados dos anos 70, existiam competições - especialmente no Reino Unido, com a Aurora Series - onde os carros de Formula 1 com pelo menos um ano eram entregues aos cuidados de equipas cliente, que davam a outros a possibilidade que experimentarem um carro de Formula 1 para saber qual era a sensação, sem ter de passar pelo crivo de uma qualificação, porque sabiam que contra tubarões, o risco de não-qualificação era bem grande.
Mas, pilotos pagantes ou não, equipa cliente ou não, todos no pelotão desejavam uma coisa: ter um Lotus, para acompanhar os carros de fábrica, que voavam na pista e se mostravam imbatíveis. E contudo, existia um privilegiado que tinha isso tudo. Era o terceiro melhor piloto do pelotão? Depende... se quiser contar a partir do fim.
A partir de agora, falo de um rapaz, então com 22 anos, chamado Hector Rebaque.
Nascido a 5 de fevereiro de 1956, na Cidade do México, cresceu a ouvir e ver os relatos do seu compatriota Pedro Rodriguez na Europa, e muito cedo, aos 16 anos, começou a tentar a sua sorte no automobilismo. Em 1974, com 18 anos, correu nas 24 Horas de Le Mans, num Porsche 911 Carrera RS, numa equipa que tinha construído parcialmente com Memo Rojas Sr. Eles desistiram ao fim de 60 voltas.
No ano seguinte, foi para a Formula Atlantic e a Formula 2, neste último com um Chevron, inscrito pela equipa de Fred Opert, onde conseguiu um quarto lugar em Thruxton. Continuou na Formula Atlantic em 1976, com resultados modestos, ao mesmo tempo que um canadiano chamado Gilles Villeneuve mostrava-se perante o mundo. Mas isso não impediu de comprar um chassis Hesketh, e aos 21 anos, em 1977, lá estava na Formula 1, onde em seis tentativas, só se qualificou no GP da Alemanha.
Em 1978, fez melhor: comprou um Lotus 78. Até houve uma melhoria nos resultados, mas não o "terceiro melhor piloto do pelotão". O carro já era obsoleto para a concorrência, ele não conseguira melhor que um décimo lugar na África do Sul, e cinco não qualificações. Poderás ter bom material, mas se não souberes andar nele, não passa de um brinquedo caro.
Na Alemanha, Rebaque sujeitou-se a uma pré-qualificação, ao lado de Keke Rosberg, Arturo Merzário, Brett Lunger - que tinha um McLaren M26 adquirido - e René Arnoux. Debaixo de chuva, e com apenas três a passarem, ele foi o terceiro, meio segundo mais rápido que o francês. Sorte a dele.
E mais sorte teve quando no final da qualificação, conseguiu um digno 18º tempo, dois lugares acima do estreante do dia, um brasileiro chamado Nelson Piquet.
A corrida viu os Lotus de fábrica irem embora sem olhar para trás. A concorrência tentava acompanhá-los, mas muitos viam os seus motores esfumarem-se no ar, não aguentando o esforço das longas retas que entravam floresta alemã dentro. Quando a Rebaque, a corrida até teve momentos atribulados, quando se despistou na vota 24, depois da terceira chicane, mas conseguiu regressar à pista.
No fundo do pelotão, começou a acreditar na sorte para chegar ao fim e conseguir algo com isso. Por incrível que pareça, sobrevive e consegue contra todas as expectativas, um sexto lugar na frente de gente como John Watson, no seu Brabham, e Gilles Villeneuve, piloto da Ferrari, e Riccardo Patrese, que está na Arrows, e tinha um segundo lugar no seu palmarés, conquistado na Suécia.
E foi assim que consegue ser o primeiro mexicano a pontuar em seis anos. E praticamente dos últimos privados a pontuar num Grande Prémio. Dois anos depois, será piloto da Brabham e no final de 1981, ruma à América, pilotando na CART.
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