segunda-feira, 11 de setembro de 2023

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Se não fossem os acontecimentos de Monza, toda a gente saberia onde é que Ronnie Peterson iria correr em 1979: teria sido piloto da McLaren. A sua temporada de regresso à Lotus, em 1978, foi ao mesmo tampo fantástico e frustrante. Por um lado, estava de novo ao volante de uma máquina vencedora, por outro, o facto de Colin Chapman ter dito a ele que o primeiro piloto era o americano Mário Andretti - afinal de contas, estava há mais tempo na equipa, tendo até o substituído quando ele foi embora depois do GP do Brasil de 1976 - limitou as suas ambições ao título mundial. E quando soube que tinha nas mãos um "game changer" como o Lotus 79, mais frustrado ficou.

Apesar de tudo, existiram alguns lampejos de brilho. No inicio do ano, ainda com o 78, andou em duelo com o Tyrrell de Patrick Depailler na última volta no GP da África do Sul, em Kyalami - e triunfou! - e depois, à chuva, ao ganhar no Osterreichring, batendo... Depailler e o jovem Gilles Villeneuve, que conseguia ali o seu primeiro pódio na Formula 1 a bordo do seu Ferrari, demonstrou lampejos de velocidade e fome de vencer. 

Mas não queria ser segundo piloto, porque achava que isso o limitaria. No GP dos Países Baixos, duas semanas antes, Peterson andou colado ao carro de Andretti, com ambos a cortarem a meta com menos de um segundo entre os dois, só para mostrar que tinha ritmo para, não só o acompanhar, como também de o ultrapassar.

De uma certa forma, ele pagou para correr na Lotus. Tinha um patrocinador pessoal, o seu próprio fato de competição e no final da temporada, parecia que Chapman achou que ele tinha mostrado os seus serviços e não tinha muitos planos para ele. O sueco, que tinha então 34 anos, sabia que não restava muito tempo para se mostrar como bom piloto que era. A oportunidade da McLaren, de substituir James Hunt, era boa, mas se soubesse, provavelmente teria de procurar outros horizontes, porque a equipa estava muito mal preparada para o efeito-solo. 

Ou seja, ele, que passara por maus bocados em 1976 e 77, primeiro na March, depois na Tyrrell, iria ter mais complicações pela frente. E não sei se aguentaria esperar até 1981 para o carro feito em fibra de carbono, ou teria caído nas boas graças de Ron Dennis, o homem por trás do Project Four, na Formula 2... 

Em suma, tinha andado na sua última chance de ser campeão. 

Para piorar as coisas, na manhã da sua corrida fatal, no warm-up", Ronnie tinha se despistado no seu 79 e os estragos eram suficientemente grandes para que o carro não estivesse pronto a tempo de correr, logo, trocou pelo 78, o carro de reserva que estava nas boxes. Esse era um carro mais frágil, e o seu eixo da frente, a sua região de impacto, estava nas pernas do piloto. Quando ele foi tocado nos metros iniciais da corrida pelo McLaren de Hunt e pelo Arrows de Riccardo Patrese, e o seu carro foi direito ao guard-rail, sabia que o risco de ferimento grave era muito elevado. 

Anos depois, Syd Watkins, o médico que o atendeu naquela corrida, contou que tinha 27 fraturas em ambas as pernas. E fizeram de tudo para que não amputassem o seu pé direito, como aconteceu a Didier Pironi, quatro anos mais tarde. De qualquer maneira, a carreira de Ronnie estava acabada naquela tarde, isso era certo.

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