terça-feira, 14 de novembro de 2023

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Adelaide, quando era o lugar onde a Formula 1 encerrava as suas atividades, era um lugar divertido e descontraído quando as decisões nos campeonatos estavam feitos. E em 1988, não era excepção.

Mas nesse ano, o GP da Austrália, em Adelaide, tinha um significado simbólico. Sendo a última corrida do ano, era também a última da era turbo, onde a partir da corrida seguinte, eles seriam trocados poe uma era onde os aspirados dominariam, com motores de 8, 10 ou 12 cilindros. E já se esperava imensa gente na grelha de partida.

E claro, esperava-se que em 1989, não acontecesse o domínio que a McLaren estava a ter nesta temporada. Em 15 corridas, tinham ganho 14, e estiveram a uma volta de ganhar todas as corridas desse campeonato. E esperava-se que iriam ganhar a corrida australiana, pois a primeira linha era para os McLaren, com Ayrton Senna e Alain Prost.

Mas a grande história dessa corrida não foi Senna ou Prost. Foi Gerhard Berger

Nesse GP australiano, a Scuderia decidiu fazer uma gracinha uma temporada que não foi muito boa, ainda por cima, o Commendatore tinha morrido no verão. A vitória em Itália, embora celebrada com dobradinha, não foi mais que um milagre. E agora, nos antípodas, queriam outro. Apesar de largar de quarto, atrás dos McLarens e do Williams de Nigel Mansell, na sua última corrida pela equipa antes de ir para a... Ferrari, o austríaco largou bem, passando Mansell e ficando atrás de Senna, na luta pelo segundo lugar. Em contraste, Michele Alboreto, na sua última corrida pela Scuderia, andava poucos metros por causa de uma colisão com o Dallara de Alex Caffi.

Berger começou a cavalgar, e na 13ª volta, apanhava Prost e passava-o. E a partir dali, começou a afastar-se do francês, ganhando tempo. Parecia que poderia haver mais. Mas era a última corrida do ano, já tudo estava decidido, pilotos e construtores, é só para a honra e glória. 

Contudo, na volta 23, Berger apanhava o Ligier de René Arnoux, prestes a levar com uma volta. O piloto francês, já a caminho dos 40 anos, tinha fama de não facilitar a vida a ninguém, e tinha-se tornado numa chicane móvel. No final da reta Brabham, Berger preparava para dar uma volta ao francês, e as bandeiras azuis já tinham sido mostradas. 

Quando ambos ficaram lado a lado... colidiram. O pneu frente esquerdo tocou no traseiro direito do Ligier e ambos abandonaram, com o Ferrari a sofrer danos na sua suspensão.

Anos depois, Berger contou outra história: na realidade, o carro tinha ficado leve, sem combustível para ir até ao fim - aquele motor era beberrão - e para evitar a inevitável desistência, tinha de se arranjar algo mais... plausível. E com Berger a saber o que se passava, tinha de arranjar um bode expiatório. E quando viu Arnoux na sua frente, foi uma questão de oportunidade. 

Cheguei a dois carros atrasados, e o que estava mais à frente era o Ligier azul de René Arnoux. Era perfeito, pois Arnoux era um dos pilotos mais inoportunos, do tipo que nunca olhava nos retrovisores e estava sempre no caminho de alguém. Assim, passei pelo primeiro carro e por Arnoux também, numa só manobra um tanto ambiciosa em que o pneu traseiro do Ligier entrou em minha frente, uma pequena batida, acabou, finito.

A primeira era Turbo acabava há 35 anos. 

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