E claro, tal como Jos Verstappen, é o caso do filho conseguir ser melhor que o pai.
Mas nestes tempos que correm, com o mundo inteiro em cima de alguém ao alcance de um ecrã, e as pessoas viverem nesse mundo de manhã à noite, quase 24 horas por dia, 365 dias por ano, Kalle deve ter visto que, agora que os objetivos foram alcançados, não teve uma vida para viver. E decidiu que em 2024, iria fazer outras coisas, resolver assuntos pendentes, explorar uma vida para além dos ralis. E por causa disso, por incrível que pareça, esta temporada do WRC poderá ser uma das mais competitivas de sempre.
É que todos reconhecem que ele é o "extraterrestre", como foram Sebastien Loeb, no inicio do século, e Sebastien Ogier, há uma década. E sem ele, a luta pelo título será entre o galês Elfyn Ewans, o belga Thierry Neuwille e o estónio Ott Tanak, o campeão de 2019, o último "humano" a ganhar um título do WRC, digamos assim.
Primeiro, o impacto da sua ausência nos outros. Sebastien Ogier, que como sabem, irá partilhar o carro com Kalle em 2024, vê a coisa pelo lado positivo e numa entrevista feita esta semana ao Dirtfish.com afirmou que "não se devem tirar conclusões precipitadas ao afirmar que o título do próximo ano terá menos valor."
O francês adianta ainda que o facto de Kalle não estar em todas as provas "retira um grande candidato ao título e isso faz do Elfyn o candidato da Toyota. Provavelmente a maior competição virá de Thierry Neuville e Ott Tanak. São três mas isto pode ser uma luta, não vamos tirar conclusões precipitadas."
Andrew Wheatley, responsável pelos ralis da FIA, afirmou que "as perspetivas de outro entusiasmante e memorável temporada não será impactada pela decisão de Kalle Rovanpera, temos esperança de outro ano com as lutas em aberto."
Bem se sabe que a Hyundai esteve nestes tempos em renovação, com o seu novo diretor, Cyril Abiteboul, a organizar a equipa, mas agora tem de lidar com os egos de Neuwille, agora com 35 anos e sempre a mostrar-se como a esperança que nunca se concretiza, e Tanak, que regressa à Hyundai depois de um ano na Ford, e depois de ter saído da marca coreana de forma tempestuosa, queixando-se de não ser o piloto prioritário na equipa. E com um terceiro carro a ser dividido entre o norueguês Andreas Mikkelsen, o espanhol Dani Sordo e o finlandês Esapekka Lappi, a equipa sediada em Alzenau, na Alemanha, poderá ser uma cacofoia que nem o experiente Abiteboul poderá acalmar as tensões que surgirão, inevitavelmente.
E também em 2024, é muito provavelmente que ninguém consiga mais que duas ou três vitórias no campeonato. Ogier adora Monte Carlo, Kalle a Finlândia, e eles tentarão ganhar um ou outro rali para o seu palmarés, e pouco ou nada estão a querer saber dos planos das equipas para deixar passar este ou aquele piloto. Ou seja, o duelo a três que se perspetiva será decidido pelos resultados de um sistema de pontos que fará a sua estreia em 2024, onde há uma pontuação para os primeiros dias, e outro para o final, ainda antes da Power Stage, que poderá confundir mais que esclarecer.
Em jeito de conclusão, e com o WRC numa espécie de crise de identidade, é provável que este posa entrar numa das temporadas mais competitivas da sua história. E tudo porque um rapaz decidiu tirar um tempo para manter a sua sanidade mental e o gosto pelo automobilismo.
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