A temporada de 1955 estava quente, com a Mercedes a ameaçar dominar a competição, como tinha feito na segunda metade de 1954. Para além disso existia a Lancia, que tinha investido forte na Formula 1, graças às ambições de um jovem Gianni Lancia, filho e herdeiro de Vincenzo Lancia, o fundador da marca. E tinha pilotos como Alberto Ascari e uma jovem esperança, Eugenio Castelloti. E a Ferrari... parecia que iria ficar para trás, com um carro envelhecido, a par da Maserati, que tivera Juan Manuel Fangio na sua equipa, antes de ele trocar o tridente pela estrela de três pontas, para ser o campeão.
Na Mercedes, Fangio. Na Lancia, Ascari. E na Ferrari... Trintignant. Quem?
Maurice Trintignant tinha, na altura, 37 anos. Com carreira quer antes, quer depois da guerra, tinha um apelido curioso. Quando em 1945, soube que se tinha marcado uma corrida no Bois de Boulogne, nos arredores de Paris, chamado "Coupe de la Liberation", Trintignant foi buscar no celeiro um Bugatti escondido dos olhares curiosos dos nazis ocupantes. Quando o seu escape explodiu, descobriu que tinha entupido com os dejectos deixados pelos ratos. Um dos seus concorrentes, Jean-Pierre Wimille, deu-lhe o carinhoso apelido de... "Le Petoulet" (A Caganita).
Não-participante da primeira corrida da história da Formula 1, o GP da Grã-Bretanha de 1950, a 13 de maio, correu na Simca-Gordini até 1954, onde foi para a Ferrari, conseguindo o seu primeiro pódio no GP da Bélgica, em Spa-Francochamps. Novo pódio, no Nurburgring, deu-lhe no final 17 pontos e o quarto lugar na geral, o ano em que conseguiria mais pontos.
Em 1955, tinha sido um dos sobreviventes do abrasador GP da Argentina, onde chegara ao fim na segunda posição... e na terceira (!), partilhando conduções com José Froilán González e Giuseppe (Nino) Farina para o segundo lugar, e Farina, mais Umberto Maglioli, para o terceiro. Numa corrida ganha por Fangio, que foi o único que não saiu do carro, nem trocou de pilotos.
No Mónaco, parecia que a concorrência iria ter alguma chance. Afinal de contas, era uma corrida urbana, nas ruas da prestigiada cidade-estado. Partindo de nono na grelha, aproveitou a corrida de atrito, onde a meio da corrida, Fangio tinha-se retirado com um problema de transmissão, e Stirling Moss ficou sem motor a 20 voltas do fim. Ascari herdou a liderança, mas distraiu-se na chicane do Porto e acabou... no mar Mediterrâneo, com o nariz partido. Com isso, Trintignant herdou a liderança e limitou-se a levar o carro até ao fim, conseguindo não só a vitória, como seria o primeiro francês a consegui-lo.
E porque falo hoje de Trintignant? Porque o número que usou nessa corrida, o 44, é o de Lewis Hamilton, e ele será o novo piloto da Ferrari a partir da temporada de 2025. E curiosamente, será um pouco mais velho que o francês, porque terá 40 anos na próxima temporada. E claro, a idade não significará nada porque... olhem para Fernando Alonso, que está a caminho dos 43 e continua a ser competitivo na Aston Martin. Afinal de contas, a idade poderá ser pouco mais que um número.
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