domingo, 8 de setembro de 2024

A imagem do dia


Não há muita gente que tenha cuidado de três equipas na Formula 1, mas Alan Rees pertenceu a essa elite. Em 1971, abandonou a March e decidiu ajudar na Shadow, que nessa altura não tinha planos de correr nessa categoria. Mas com alguns britânicos a seu cargo, como Rees e o piloto Jackie Oliver, certamente, convenceriam o seu fundador e dono, Don Nichols, a tentar a sua sorte por lá. Afinal de contas, estavam na selvagem e rica Can-Am.

A equipa começou em 1968 como "Advanced Vehicle Systems". Nichols, um ex-soldado americano estacionado por muitos anos no Japão, onde trabalhou para a Bridgestone (e durante muito tempo passou a ideia de que tinha sido agente da CIA, mas na realidade, trabalhara no Exército na interceção de comunicações de rádio na China e Coreia do Norte), construiu chassis de aluminio, com componentes de titânio, e a ideia era de triunfar na competição. Mas os seus carros, pequenos e velozes, não eram páreo para os McLaren dominantes.

Contudo, em 1972, Rees iria estar ao lado de Nichols quando decidiram ir para a Formula 1. Contrataram Tony Southgate, ex-projetista da BRM, um dos pilotos era Jackie Oliver, ex-Lotus e BRM - o outro era o americano George Follmer - e em 1973, estavam na Formula 1, com bons resultados. 

Pulando cinco anos, em 1977, e a equipa estava a passar por momentos agridoces. Tinha ganho o GP da Áustria, com Alan Jones ao volante, cinco meses depois de Tom Pryce ter sofrido o seu acidente fatal (Jones foi o substituto de Pryce, a propósito) e tinham conseguido 23 pontos no campeonato. Contudo, havia uma rebelião dentro deles, com o propósito de o derrubar. Quando falhou, os principais dirigentes saíram para criar a sua própria equipa. Eram eles: Rees, Oliver - agora de capacete pendurado - Dave Wass e Southgate, ambos projetistas e designers, e o patrocinador, o italiano Franco Ambrósio. Os quatro formariam aquilo que iria ser a Arrows (o segundo R não pertence a ninguém, é apenas para soar melhor o nome).

E tinham de correr contra o relógio: a fundação fora em novembro de 1977, e a primeira corrida era em janeiro de 1978, na Argentina. 

O carro foi desenhado em pouco tempo, e Southgate tinha de usar os desenhos do Shadow DN9. O FA1 ficou pronto a tempo de correr no GP do Brasil, no final de janeiro - quase três meses depois da fundação - e apenas com Riccardo Patrese ao volante. E chegou a Jacarépaguá sem rodar um metro que seja porque no dia do "shakedown", em Silverstone... a pista tinha uma camada de 10 centímetros de neve!  

Na corrida seguinte, em Kyalami, tinham outro piloto, Rolf Stommelen, (devia ter sido Gunnar Nilsson, ex-Lotus, mas ele adoeceu com cancro) com o patrocínio da Warsteiner, uma marca de cerveja alemã. As tarefas estavam distribuídas, mas cedo, Ambrório, um dos sócios, teve problemas legais em Itália e abandonou o barco. Todos os outros ficaram por mais tempo, com Southgate a ir embora em 1980 para ser desenhador "freelance".

Nessa corrida... quase ganharam! A certa altura, na volta 27, Patrese ficou com o comando da corrida e com o passar das voltas, parecia que iria ganhar, mas na volta 63, o motor rebentou, deixando-o desamparado com a chance da sua primeira vitória na Formula 1 (ele iria ganhar ali, mas em 1983). Contudo, em junho, Patrese conseguiria algo parecido, com o seu primeiro pódio, um segundo lugar no GP da Suécia, apenas batido pelo Brabham "ventoinha" de Niki Lauda

Contudo, a Shadow protestou, procurando um erro dos seus rivais. E descobriu pelo chassis. O carro foi desenhado pela mesma pessoa, mas Southgate pensara que tinha feito como consultor da marca, e não como empregado. A Shadow afirmou ter sido o contrário, e foi a tribunal para protestar, alegando que o carro era um plágio seu. E a 31 de julho de 1978, em Londres, a Shadow... ganhou!

Resultado? Southgate teve de desenhar um carro novo em tempo recorde. Menos de 60 dias, e o A1 ficou pronto. E curiosamente, foi um carro de efeito-solo total, algo do qual não queriam experimentar, porque não estavam confiantes na ideia. Ali, conseguiram seis pontos entre o final de 1978 e o inicio de 1979, e tornou-se no primeiro carro da história da marca.

Rees, e sobretudo Oliver mantiveram a equipa a andar, e apesar de cinco pódios e uma pole-positon até 1981, não conseguiram ganhar qualquer corrida. A equipa foi vendida para a Footwork em 1990, e novamente vendida no final de 1993, mas quando regressou ao nome "Arrows", dos fundadores iniciais, apenas Oliver ficou, e este vendeu a equipa para Tom Walkinshaw, em 1996, reformando-se de vez. A equipa acabou a meio de 2002, depois de 394 Grandes Prémios, nove pódios, uma pole-position e 164 pontos.  

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