Quando morre um famoso, este não vai sozinho. Depois de ontem ter ido embora desta vida o sueco Ingmar Bergman, hoje soube-se a noticia da morte de outro grande cineasta do século XX: o italiano Michelangelo Antonioni, aos 94 anos.
O realizador italiano morreu na noite de ontem na sua casa em Roma, ao lado da sua actual companheira, Enrica Fico. Segundo a agência italiana ANSA, o corpo vai estar em câmara ardente na Câmara Municipal de Roma, e o funeral irá realizar-se na quinta-feira na sua terra natal, na cidade de Ferrara.
Antonioni foi aclamado mundialmente com filmes que exploravam aquilo que, na sua opinião, representava a esterilidade emocional da sociedade moderna. Ficou também conhecido como o cineasta da incomunicabilidade, "mal-de-vivre" e do amor impossível. Contudo, os seus filmes eram muitas vezes difíceis de digerir para o público, mesmo que fossem perfeitamente encaixados num plano estético. Mas aos poucos, este se aproximou e compreendeu o seu estilo para contar uma história.
Nasceu a 29 de Setembro de 1912, no seio de uma família burguesa em Ferrara, no Norte de Itália. Estudou Economia e Comércio na Universidade de Bologna e em 1940 foi para Roma, onde ingressou no Centro Sperimentale di Cinematografia. Colaborou com a revista "Cinèma", considerada uma publicação de resistência ao regime fascista.
Em 1943 rodou o seu primeiro documentário “Gente del Po” e 1950 a primeira longa- metragem, “Cronaca di un amore”. Ganhou visibilidade com uma trilogia de que fizeram parte os filmes “A Aventura", em 1960, "A Noite", em 1961 e "O Eclipse" em 1962, todos interpretados por Mónica Vitti, a sua musa e actriz fetiche durante muitos anos. Em 1964 realiza o seu primeiro filme a cores, "O Deserto Vermelho", que lhe vai dar o prémio do Leão de Ouro na Bienal de Veneza.
Em 1967, ganha a Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo filme "Blow Up - História de um Fotógrafo"; e um prémio especial atribuído pelo júri do Festival de Cannes, pelo filme "Identificação de Uma Mulher", em 1982. Em 1995 foi homenageado com o Óscar de carreira e em 1997 recebeu o Leão de Ouro em Veneza, como reconhecimento pelo seu percurso de realizador.
Paralisado por um ataque cerebral em 1985, Antonioni foi homenageado pelo cinema italiano por ocasião dos seus 90 anos, numa cerimónia em Roma, em Setembro de 2002. Nestes últimos anos, muito afectado pela doença, refugiou-se num mundo de cor, tendo feito colagens que estiveram expostas em Roma em Outubro de 2006.
Para Paulo Branco, produtor português que trabalhou com Antonioni no inicio da sua carreira, o realizador italiano "era uma pessoa reservada, mas ao mesmo tempo com humor. Era um humor escondido que quando vinha ao de cima era muito curioso. Era alguém transmitia uma enorme confiança aos jovens. Quando era um jovem produtor não hesitou em trabalhar comigo. Havia nele uma enorme curiosidade em tudo o que se passava à volta nas outras artes. Tive uma experiência única de trabalho com ele.", comentou à rádio TSF.
Ars lunga, vita brevis.
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