Não é todos os dias que faço a biografia de alguém que não seja um piloto de Formula 1 (ou de outra categoria). Mas hoje é um dia especial, pois comemora-se neste dia o 101º aniversário natalício de um homem, que, parecendo que não, influenciou muito a industria automóvel na segunda metade do século XX, e também teve a quota-parte na história da Formula 1. Hoje falo de Sochiro Honda.
Nasceu a 17 de Novembro de 1906 na cidade de Hamamatsu, na provincia de Shizuoka, no centro do Japão. Filho de Gihei Honda, um ferreiro, e de Mika Honda, uma teceleira, aos 15 anos foi trabalhar para Tóquio, onde aprendeu o oficio de mecânico. A oficina onde trabalhou, a Art Shokai, preparava carros de corrida, e em 1923, ganhou o maior prémio do automobilismo naquele tempo, o Troféu do Imperador, como co-piloto de Shinichi Sakibahara. Em 1928, aos 22 anos, voltou para Hamamatsu para abrir uma oficina em seu nome.
Graças ao seu amor pela mecânica, transmitido pelo seu pai, e pela sua capacidade inventiva, no final da II Guerra Mundial aproveitou o facto de haver um excedente de material de guerra, e a necessidade dos japoneses para a mobilidade, num país em reconstrução, para construir em Setembro de 1948, a Honda Motor Co. Ltd. A empresa era dirigida a meias por Honda e Takeo Fujisawa, o seu mais fiel amigo. Honda encarregava-se da parte técnica, e Fujisawa da parte comercial. Nesse ano, colocaram no mercado uma mota de 98cc, ao que lhe deram o nome de "Dream". Foi o primeiro sucesso da empresa.
Durante os anos 50, aproveitando o crescimento do Japão, Honda e Fujisawa apostavam cada vez mais em coisas cada vez mais arrojadas, pois sabiam que era esse o caminho para o sucesso, embora muitas das vezes, o seu jeito para o risco os colocava muitas das vezes à beira da falência. Foi assim em 1959, quando decidiram ingressar na competição. no Mundial de Motociclos, mais concretamente no Man TT (a competição mais prestigiada de motociclismo, na Ilha de Man). Em 1961, as suas máquinas ganharam a competição, e pouco tempo depois, dominavam o panorama mundial, tendo ganho em 1966 o título mundial em todas as categorias de Moto GP (80cc, 125cc, 250cc, 350cc, 500cc).
O passo seguinte era o mais óbvio: a Formula 1. "Competir estava no nosso sangue", disse um dia Nobuhiko Kawamoto, presidente da Honda nos anos 80, após a reforma de Sochiro Honda. Em 1963, construiram um motor V12 de 1.5 litros, e no ano seguinte foram para a Formula 1, inscrevendo um carro para o americano Ronnie Bucknum, sem resultados de relevo.
Mas eles sabiam que estavam na Formula 1 para aprender, e no ano seguinte, com outro americano ao volante, Richie Ginther, ganharam o GP do México, a última prova do campeonato, e também a última prova na categoria de 1.5 litros. No ano seguinte, constroem um motor de 1000 cc para a Formula 2, que o instalam nos Brabham de "Black Jack" Brabham, onde ganha 11 corridas e torna-se no Campeão de Formula 2, no mesmo ano em que ganha o seu terceiro título mundial de Formula 1.
Em 1967, já com os motores de 3 Litros, contratam o campeão do mundo e ex-piloto de motociclismo John Surtees, que dá à Honda mais uma vitória, no Circuito de Monza, que iria ser a sua última como construtora durante 39 anos. Em 1968, lutam para ter melhores desempenhos, mas o acidente mortal de Jo Schlesser, no GP de França, em Rouen, faz com que eles abandonem a Formula 1 no final da época.
Entretanto, já se tinham aventurado nos automóveis, construindo o seu primeiro carro em 1963, e em 1972 estrearam o seu modelo mais famoso: o Civic. Foi esse modelo que os fez entrar no mercado americano, e numa altura em que eles sofriam os efeitos do choque petrolífero de 1973/74, a visão dos pequenos carros japoneses nas ruas e estradas americanas era um distinto contraste com os longos (e muito gastadores) carros "Made in USA", o que lhes deu um enorme sucesso.
Por esta altura, Honda era um homem realizado: para além da sua amada oficina, tinha outros "hobbys": pilotava aviões, esquiava, e voava de balão. Reformou-se em 1973, e tornou-se num dos conselheiros da empresa, enquanto trabalhava no departamento de investigação, a sua área favorita. Para além disso, estava ligado à Fundação Honda. O seu filho Hitoroshi fundou em 1972 a Mugen, que se dedica à transformação de motores e chassis da marca do seu pai.
Em 1983, quando a Formula 1 passou para os motores Turbo, a Honda achou que era a melhor chance para regressar à categoria máxima, somente como fornecedora de motores. Começou por baixo, através da equipa Spirit, e do piloto Stefan Johansson, para no final do ano passar a fornecer a Williams. Em menos de dois anos passou a ser uma equipa a bater, e em 1986 ganha o Mundial de Construtores, e no ano seguinte, através de Nelson Piquet, ganha o seu primeiro Mundial de Pilotos.
Nesse ano, passam a fornecer motores à Lotus, onde encontram um piloto que passaram a admirar, pela sua dedicação: Ayrton Senna. Foi graças a ele que a McLaren passou a ter motores Honda e se tornou numa força vencedora até 1992, ganhando quatro títulos mundiais à equipa, três dos quais atribuidos ao lendário piloto brasileiro.
Tudo isso Sochiro Honda ainda teve tempo de assitir. A 5 de Agosto de 1991, morre com 84 anos, vítima de uma insufuciência hepática. Foi uma vida cheia de empreendimentos bem sucedidos. No ano seguinte, a Honda retira-se da Formula 1, para voltar à activa em 2000, primeiro como fornecedora de motores, e em 2005 como equipa própria, após terem comprado a BAR (British American Racing). Em 2006, ganham, após 39 anos de ausência, um Grande Prémio de Formula 1, o da Hungria, através de outro britânico: Jenson Button.
Já agora: podem ver outra biografia, no Blog do Capelli, da qual me inspirei (e não copiei) para fazer esta. Boa parte das fotos que coloco aqui fui buscar lá, pois nesse aspecto, está muito bem feito.
Tirando o desastre ecológico de grandes proporções deste ano, certamente uma história muito grande e muito bonita da Honda...
ResponderEliminarLegal Speeder. Bom de ler. Um abraço.
ResponderEliminarSAVIOMACHADO
Muito obrigado pelo comentário e você também esta convidado para voltar quando quiser.
ResponderEliminarUm abraço e bom dia!
Parabéns por mais uma matéria bem feita. Na verdade não cabe em página de blog alguma a história deste homem, que na sua teimosia de fazer as coisas do seu jeito enfrentou a cultura e até o governo japonês. E passou por cima. Grande Soichiro.
ResponderEliminarSabia que era piloto também? Acabou desistindo quando sofreu um sério acidente, recendo um pedido da mulher (e um puxão de orelha do pai) de desistir do esporte.
Minha homenagem não foi tão extensa, mas tem um desafio de conhecimento no meu blog.
O Soichiro foi um exemplo de vida. Falando em Honda, essa semana o ex diretor esportivo da equipe japonese da F1 Gil de Ferran fez 40 anos, tá lá no blog.
ResponderEliminarAbração