Na madrugada desportiva, a noticia do momento é uma entrevista de Luca de Montezemolo a uma publicação alemã, onde diz mais uma vez que poderá repensar a permanência da Ferrari na categoria máxima do automobilismo, ameaçando até com o abandono da competição no final de 2012, quando terminar o Acordo da Concórdia. A razão dessa queixa, alegadamente, tem a ver com as modificações preconizadas pelos regulamentos a partir da temporada de 2013, nomeadamente os motores Turbo de quatro cilindros em linha.
"Parece-me que a Fórmula 1 está a ficar demasiado artificial, e por exemplo os volantes mais parecem um computador cheio de botões. Isso e várias outras coisas está a deixar os adeptos demasiado confusos e a afastá-los. Por tudo isto, vamos rever a nossa posição. O contrato com a FOM termina no final de 2012, pelo que até lá vamos discutir como proceder perante o quadro que nos é dado a conhecer. A Ferrari permanece na Fórmula 1 enquanto o desporto suportar e justificar o desenvolvimento de tecnologia na produção dos nossos carros, mas caso isso mude, então teremos de ponderar seriamente sair da Fórmula 1.", referiu à alemã Auto Bild.
Francamente, estas declarações são "conversa da treta". Toda a gente que conhece as manhas e meandros da Formula 1 tem de ler estas e outras declarações, quer sejam de Montezemolo, Jean Todt ou Bernie Ecclestone, com outra leitura. Não é entender à letra, mas sim qual é a sua agenda oculta. Sabemos todos que a Ferrari tem a tradição e o poder da Formula 1 atrás de si. Muitos não separam a Formula 1 da Ferrari, e a marca de Maranello pensa que se ameaçar retirar-se caso os regulamentos não sejam ajustados à sua maneira, a Formula 1 não sobreviverá. Mas Montezemolo também deverá saber que sem a Formula 1, a Ferrari não é nada. E depois... se ameçaça abandonar no final de 2012, porque dizê-lo em abril de 2011, dezanove meses antes de dezembro do ano que vêm? Dá muito tempo para chegar a uma espécie de acordo, não dá?
Em suma, não levem este aviso à letra. Montezemolo anda nisto desde 1973 e usa a velha tática que o Commendatore usava nos anos 60, 70 e 80, e ele não tirou os seus carros da Formula 1. Disse o mesmo em 2009, lembram-se? Contudo, tais declarações mas devem ser menosprezadas. Tem de se encarar esta entrevista como um aviso. Alguns podem considerar como chantagem, mas acredito mais que a Ferrari quer algo em troca. Luca de Montezemolo sabe jogar com a politica e tem a sua agenda própria. Como sabe que a Formula 1 e Ferrari andam de mão dada, quer moldar a Formula 1 à sua maneira. É simples.
Montezemolo, ao dar esta noticia nas primeiras páginas dos jornais e a ser o "soundbyte" do dia nos blogues e sites de automobilismo, alcança o seu objetivo: lançar a discussão sobre as regras de 2013, e claro, o novo Acordo de Concórdia. Como sabe que as regras sobre os motores não podem ser alteradas após a sua aprovação em dezembro do ano passado, quer agora reescrevê-las à sua maneira. Já o disse no inicio do ano: quer motores diferenciados dos outros, quer reescrever as regras a seu favor. É como o rapaz que é o dono da bola e que se perde o jogo, tira a bola e vai para casa.
Se queriam algum sinal de que 2012 será um ano complicado para a Formula 1 em termos politicos, ali está. E com a luta pelo poder e influência entre Jean Todt e Bernie Ecclestone em lume brando, quem tiver a Ferrari a seu lado, ganha.
Na foto do meio me assustei. Montezemolo está discursando teatralmente como hitler em algumas fotos.
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