Sempre que oiço que Hollywood quer fazer um filme sobre o automobilismo em geral e a Formula 1 em particular, fico sempre com os dois passos atrás, porque conheço a quantidade de projetos que não levaram a lado nenhum. Aliás, de todos os que soube, só o documentário sobre Ayrton Senna é que chegou ao grande ecrã, e tornou-se num êxito de bilheteira.
Mas agora parece que há um projeto a caminho: Ron Howard será o realizador de um filme sobre a temporada de 1976, que como sabem, ficou marcado pelo duelo entre James Hunt e Niki Lauda, e o acidente do piloto austriaco a 1 de agosto, em Nurburgring. E também o final chuvoso em Fuji, onde Lauda preferiu a vida ao título mundial e Hunt conseguiu o seu unico título da sua carreira. O título provisório desse filme é "Rush" e terá como argumentista o britânico Peter Morgan, que já escreveu, entre outros, "Frost/Nixon". As coisas já andam tão adiantadas que já se falam em atores escolhidos e que o inicio das filmagens poderão começar em janeiro de 2012.
Sei que Howard e Morgan andaram pelo "paddock" de Silverstone neste final de semana que passou, certamente para se ambientarem ou então falarem com alguém que viveu esses tempos. Sabendo bem que ambos são competentes naquilo que fazem e que normalmente os seus filmes são altamente considerados para os Oscares, comecei a pensar sobre aquilo que Hollywood costuma fazer acerca de filmes sobre este tema.
Raramente Hollywood toca nesse assunto, por vários motivos. Desde o desinteresse pelo assunto até a alguns obstáculos que o senhor que detêm as imagens da Formula 1, Bernie Ecclestone, coloca. Hoje sabe-se que os realizadores do documentário "Senna" demoraram quase dois anos para terem acesso às filmagens da FOM, mais tempo do que tiveram para obter a autorização à familia de Senna. Esses são os primeiros obstáculos. O segundo é a aceitação: sempre que o faz, os resultados são quase extremos. Ou se torna num culto, ou é lixo. Hollywood já fazia filmes de automobilismo desde os primeiros tempos, mas é apenas em 1966, com "Grand Prix", realizado por John Frankenheimer, que tem sucesso, pois foi o primeiro dos filmes feitos por alguém com propriedade. Alguns pilotos foram envolvidos, Phil Hill foi o consultor do filme, e no final rendeu três Oscares devido à sua filmografia original e a maneira como conseguiram colocar as câmaras no carro, antecedendo em vinte anos as câmaras "onboard".
Hollywood também teve atores que adoravam automobilismo, como Steve McQueen, James Dean e Paul Newman. O primeiro fez "Le Mans", outro filme de culto, mas pouco compreendido na altiura devido à escassez dos diálogos. Tão pouco compreendido que a sua produtora, a Solar Productions, foi à falência. Hoje em dia, estes atores já morreram, mas os automóveis fazem parte da lenda destes atores. E os dois filmes são apreciados frequentemente pelos fãs do automobilismo.
Mas sei também que existem maus filmes. Todos tem na cabeça o "Driven" de Sylvester Stallone, feito no final do século e ambientado na CART. O filme foi rejeitado nas bilheteiras e quem o vê agora o acha demasiado meloso e exagerado. E há muitos que quando ouvem os projetos que Hollywood tem para o automobilismo, lembram-se dos extremos: Grand Prix e Driven. Os documentários são um caso à parte, mas hoje em dia tornaram-se num modo rentável de fazer filmes.
Que a Formula 1 tem dezenas, senão centenas de histórias que merecem um filme, lá tem. E alguns são feitos de vez em quando. Agora resta saber como é que isto será feito. Já me fez sair do meu casulo cético, e criou uma certa expectativa dentro de mim. Veremos como isto vai acabar, mas o que não quero - e acho que os amantes de automobilismo não querem - é uma caricatura.
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