Recordo o que andava a fazer neste dia, há vinte anos. Tinha acabado de chegar ao meu destino de férias após uma longa viagem e estava ansioso por ver o Grande Prémio, como sempre. Instalei-me na frente da televisão e olhava, relativamente despontado, que Nigel Mansell iria ganhar sem muito esforço o GP da Grã-Bretanha, numa Silverstone que passava pela sua primeira grande renovação desde a sua primeira corrida, em 1948. Totalmente renovada, mas o espirito de desafio se mantinha, muito antes do Tilke e os seus autódromos aborrecidos tomarem conta do assunto, no qual até Silverstone fora contagiado nesta última renovação, em 2010.
Se já não me sentia bem ver Mansell na frente de Ayrton Senna, pior fiquei quando vi Senna parado nos metros finais da corrida, devido a falta de combustivel do seu McLaren. Apesar de tudo, embora tenha perdido o pódio à vista da meta, deu para pontuar, no quarto posto, ficando à frente do seu compatriota Nelson Piquet. A liderança do campeonato tinha sido diminuida em sete pontos, mas ainda se pensava que Senna poderia controlar as coisas até ao fim e conseguir o ansiado tricampeonato.
Mas a cena daquele dia aconteceu depois da bandeira de xadrez. Mansell, ao ver Senna a pé, ao lado do seu carro, parou e ofereceu boleia para as boxes. Foi um gesto incrivel, e que mal sabiamos que ficaria na história. Não sei o que pensei nessa altura, se calhar achei que fora um gesto bonito, de "fair-play", magnamidade na hora da vitória ou apenas um gesto de respeito para com um adversário. Mas lá foi ele, nas cavalitas do FW14 do "brutânico", que agora estava na mó de cima, depois de um péssimo arranque e aquele gesto no Canadá - cómico, se não fosse trágico - no qual Nelson Piquet teve a vitória mais "orgásmica" de sempre.
Aquela cena ficou para a posteridade, de tal maneira que há modelos de miniaturas com Senna à boleia de Mansell no seu Williams FW14. Acho incrivel como tal gesto ficou na memória de tanta gente, especialmente nos que viveram naquele dia, quer ao vivo, quer especialmente na televisão. Às vezes, mais do que vitórias e derrotas, despistes e ultrapassagens, a história do automobilismo em geral e da Formula 1 em pormenor também é feito por estas coisas.
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