A longa qualificação do GP da Hungria de Formula 1... pode ainda não ter acabado. Isto porque o colégio de comissários da FIA decidiu chamar Nico Rosberg por causa de na sua volta mais rápida - aquela que lhe deu a pole-position - ele tinha passado por uma zona de banderias amarelas. A Mercedes defendeu-se, mostrando telemetria do carro do alemão, afirmando que levantou o pé o suficiente, mas depois disso, o seu companheiro de equipa, Lewis Hamilton, pediu ao colégio de comissários para que aclarassem a regra, porque segundo ele, Rosberg perdeu o minimo de tempo possivel.
"[A regra] precisa de ser clarificada agora", disse Hamilton na conferência de imprensa pós-qualificação. "Somos pilotos e precisamos entender a situação de bandeiras amarelas, porque, obviamente, da maneira [como a regra] está escrita não é, potencialmente, a forma como ela é interpretada, seja pelos comissários ou pelos pilotos. Então, mais esclarecimentos seria bom", continuou.
"Para mim, não havia nenhuma dúvida que eu tinha de levantar [o pé], porque Fernando estava no meu caminho. Talvez no caso de Nico, Fernando já tivesse saído dali, mas ainda havia bandeiras amostradas, logo, o cenário deveria ser diferente", concluiu.
Curiosamente, esta é a mesma regra - ou se preferirem, a mesma situação - que causou o acidente mortal de Jules Bianchi, há quase dois anos, em Suzuka. O piloto da Marussia estava a passar por uma zona de banderias amarelas duplas e até que abrandou, mas não o suficiente, para passar num local onde estava uma máquina a tirar o Sauber de Adrian Sutil. E no relatório da FIA, como todos sabem, a responsabilidade desse acidente coube não aos comissários por causa da má colocação do trator, mas sim ao piloto, porque não foi... suficientemente lento.
Claro que poderemos pensar que as regras são para todos e são imutáveis, mas na Formula 1, a ideia é sempre de dar a volta a elas. No Direito é assim: há a letra da lei, e depois é como nós a interpretamos. Tanto que depois de Hamilton reclamar, Nico Rosberg foi chamado aos comissários para esclarecer a situação. A parte chata é que foi... três horas depois da qualificação, e os comissários reagiram, não agiram, depois das queixas vindas de mais de um lado. E depois fazemos a pergunta: haverá "filhos" e "enteados"? A lei é igual para todos ou haverá uns mais iguais do que outros? É que se existir uma penalização, a polémica por si não desaparecerá, pois aparecerão aqueles que vão dizer que Rosberg foi penalizado porque Hamilton "fez queixinhas".
E o problema é esse: quando as pessoas de lei desenham as regras, dentro da Formula 1, as pessoas que trabalham no meio olham para elas como meio de as contornar. E é assim desde os tempos de Colin Chapman, na Lotus. As pessoas que vêm isto de fora não entendem. Consideram que as regras são leis imutáveis, do qual todos devem obedecer, sem excepção. Se vêm alguém a infringir a lei e safar-se por causa de algo que, mesmo sendo legal (as tais excepções à lei), vão achar tudo confuso e chegar à conclusão de que se cometeu uma injustiça, mesmo sendo legal. Para os que vemos tudo por fora, lei é lei, e se infringiu, tem de ser punido. E há pessoas que, num caso como este, acham que em situação de bandeiras amarelas, o piloto tem de travar o carro e reduzir a uma determinada velocidade.
Na minha opinião, isso não deveria ser assim. As regras devem ser clarificadas, é verdade, mas em tempos como estes, há um lado perigoso da coisa: é que não se podemos esquecer que há uma luta para um título mundial, e para algumas mentes, estas declarações de Hamilton podem ser vistas como manipulação a seu favor. E há quem pense nisso, como por exemplo o Luiz Fernando Ramos, o Ico, que diz na sua coluna que estes regulamentos começam a ser uma piada.
Enfim, veremos no que isto vai dar.
Post-Scriptum: Os comissários decidiram não aplicar qualquer penalização a Nico Rosberg, porque acham que ele abrandou o suficiente quando viu as bandeiras amarelas. Mas apesar do esclarecimento, haverá quem diga que ele infringiu a lei.
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