quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

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Se estivesse vivo, Graham Hill faria hoje 95 anos. Um autêntico "matusalém" do automobilismo, numa altura em que as chances de morrer eram elevadas, a carreira do piloto britânico aconteceu entre 1958 e 1975, correndo na Cooper, BRM, Lotus, Brabham, Shadow, Lola, e acabando por andar no seu próprio chassis, a Hill. Deixou de correr depois de não ter conseguido a qualificação no GP do Mónaco de 1975, e despediu-se dos adeptos em Silverstone, em julho de 1975, quatro meses antes de sofrer o seu acidente fatal, quando o avião que pilotava caiu nos arredores de Londres, matando-o, mais quatro mecânicos, o projetista do GH2, Andy Smallman, e o piloto Tony Brise.

Mas numa carreira longa, e bem sucedida - é o único piloto com vitórias no Mónaco, Indianápolis e Le Mans - e em constante contacto com o perigo, Graham Hill iria ter, inevitavelmente, os seus acidentes. E foi o que aconteceu em 1969, no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen. Mas o que aconteceu depois foi um grande exemplo de tenacidade e amor pelo automobilismo, mesmo depois dos 40 anos. 

Naquele ano, depois do seu segundo campeonato, Hill ganhou pela quinta ocasião o GP do Mónaco. Mas tinha concorrência a sério com Jochen Rindt, e aos poucos, ele conseguiu ser melhor que ele. Tanto que Colin Chapman perguntou a Rob Walker se não o gostaria de o ter na sua equipa em 1970, a troco de mais alguns dos seus chassis. 

Mas ainda tinha uma temporada para acabar, e em Watkins Glen, era isso o que estava a fazer. Enquanto Rindt caminhava para a sua primeira vitória na Formula 1, Hill despistava-se na volta 88, depois de ter passado por cima de uma mancha de óleo. A principio, não ficara ferido, mas desapertou os cintos para poder empurrar o seu carro para regressar à pista. Numa descida, pensava que poderia fazer funcionar o seu carro de novo, mas o que não sabia era que sofrera um furo lento. O pneu explodiu a caminho das boxes, o carro capotou e ele foi cuspido, fraturando ambas as pernas. 

Se quiserem ler mais pormenores, sigam este link: eu já falei em 2019 sobre o seu acidente em Watkins Glen

Graham Hill, sempre otimista, afirmou, questionado sobre se tinha alguma mensagem para a sua mulher, Bette, ants de ir para o hospital: "Digam à minha mulher que não devo dançar por umas duas semanas". E ainda mantinha o bom humor. Semanas depois, na gala de entrega de prémios, uma transmissão em direto para a sua cama de hospital, em Londres - tinha sido transferido para o Reino Unido - disse: "não sei o que irão fazer depois, mas no meu caso, quando esta transmissão acabar, aparecerão duas senhoras muito simpáticas que irão lavar o meu rabo". 

Contudo, apesar do bom humor, tinha um desafio: mostrar que não estava acabado para a Formula 1. A nova temporada começaria a 1 de março, e iria correr pela Lotus, mas ao serviço de Rob Walker, já que Chapman deu o lugar vago a John Miles. Depois da recuperação, com uma cirurgia num dos joelhos para reduzir as fraturas, Hill passou para a reabilitação, e esta foi complicada: quando entrou no seu carro, em Kyalami, ele ainda andava de muletas, a sua mobilidade era reduzida, mas era capaz de acelerar e travar num carro que conhecia bem. Foi por causa disso que no final das qualificações, Hill era 19º em 23 carros inscritos.

A partir dali, Hill passou a usar toda a sua audácia e esperteza adquirida nesses anos todos na Formula 1, bem como o conhecimento do seu carro e a sua capacidade de resistência à dor para subir, volta após volta, na classificação. Com a paixão das corridas no sangue, e queria provar que tinha algo a dar. E conseguiu: no final, acabou na sexta posição, com uma volta de atraso sobre o vencedor, Jack Brabham, que tinha triunfado no seu carro... aos 44 anos de idade.

Até ao final da sua vida, Hill considerou que esta corrida foi uma das melhores da sua carreira, colocando ao nível de muitas das suas vitórias. Tirando a vitória em Le Mans, em 1972, com um Matra, ao lado de Henri Pescarolo, e uma vitória na Race of Champions, em Brands Hatch, em 1971, Graham Hill não conseguiu mais resultados de relevo, mas foi o seu amor pelo automobilismo que o fez continuar a correr quase até ao fim.  

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