Faz esta sexta-feira cinco anos que Joaquim Moutinho deixou-nos, e como há uns dias, o meu texto sobre o Rali do Algarve de 1984 teve sucesso nas redes por aqui, acho que mais um texto sobre ele não fax mal algum. Mas tenho de falar de uma coisa: o rali de Portugal de 1986. E um pouco sobre o panorama português da altura. Em suma, é uma continuação de eventos passados.
Curiosidade à parte: o 037 tinha sido adquirido para andar no campeonato de Montanha de 1984, mas como andava bem nos ralis em asfalto, ele usou-o no rali de Portugal. Inscrito no Jolly Club, no final da primeira etapa acabou na... quarta posição, andando mais rápido que alguns carros oficiais. Contudo, sem peças sobressalentes, decidiu abandonar no inicio da segunda etapa.
Mas a Diabolique era fiel à Ford, e esta se arrastava com o seu Grupo B, então em desenvolvimento. E em 1985, eles sofreram, e Moutinho conseguiu, por fim, o seu título nacional. E claro, foi o melhor português no rali de Portugal, o "outro troféu" que naqueles tempos os pilotos locais almejavam. Mas no final de 1985, a Ford, por fim, tinha o seu carro: o RS200. O primeiro Grupo B real que os ralis portugueses iriam ver na estrada.
A temporada começou com uma desistência no Sopete, na Póvoa de Varzim, com um problema na caixa de velocidades. E no inicio de março, era o rali de Portugal. Na lista de inscritos, Moutinho era o 14, Santos o 15, e Carlos Bica - que mais tarde iria ganhar quatro campeonatos de ralis seguidos - era o 18, num Lancia 037.
A manhã do primeiro dia tinha três passagens triplas na Serra de Sintra: Lagoa Azul, Penina e Serra de Sintra. Os carros de fábrica ficavam com os dez primeiros lugares, com Moutinho a ser melhor, na 11ª posição, mas enquanto os carros de fábrica iam para a especial seguinte, Joaquim Santos tinha a sua chance de acelerar nas estreitas estradas de Sintra no seu novo Ford. Mas estava cheio de espectadores (as três especiais em Sintra poderiam atrair até meio milhão de pessoas!), que estavam perigosamente perto dos carros que passavam a mais de 120 km/hora, e quando Santos tentava desviar de um espectador, perdeu o controlo e entrou dentro de um grupo de espectadores. Três acabaram por morrer - uma mãe e a sua criança de 11 anos, mais um adolescente de 18 anos - e 33 feridos.
Os pilotos de fábrica, quando souberam do acidente, sabiam que era demais. Sabiam que era um perigo desde há anos, piorando com as edições mais recentes, e um acidente sério era uma questão de tempo. No final dessa especial, rumaram para o Hotel Estoril-Sol, centro do rali, reuniram-se e decidiram pelo boicote. O anuncio à imprensa foi feito por Henri Toivonen.
O rali prosseguiu, com os pilotos privados. Sem Joaquim Santos, Joaquim Moutinho tratou de controlar o avanço para Carlos Bica e rumou até ao final. Mas, traumatizados pelos eventos na Serra de Sintra, muito menos gente acompanhou aquilo que era um rali com quase nenhuns carros de Grupo B. No final, Moutinho entrava na história por ser o primeiro (e até agora, único) português a ganhar uma prova oficial do WRC. Um triunfo amputado, sem dúvida.
Ainda a curar as feridas, prosseguiu o duelo. Santos ganhou na Figueira da Foz, a primeira prova ganha por um Grupo B, Rota do Sol, Alto Tâmega e Algarve, mas Moutinho também ganhou quatro ralis e oi mais regular, sendo campeão. Apesar do seu carro pegar fogo nos Açores, depois de um capotanço, e dele sobrar a estrutura e pouco mais... mas ao contrário de Toivonen, na Córsega, ele saiu sem ferimentos.
No final da temporada, com o bicampeonato, Moutinho decidiu pendurar o capacete. Fica a homenagem a um dos melhores pilotos do seu tempo e os duelos que deu a um dos dominadores de um tempo nos ralis nacionais.
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