No inicio de 1981, o panorama dos ralis estava prestes a mudar. Algumas semanas antes, no canto sul da Europa, a Audi estreou discretamente um carro revolucionário, o Quattro, e todos tinham altas expectativas para saber qual dos seus pilotos iria triunfar, porque parecia que as quatro rodas motrizes iriam ser superiores ao resto do pelotão, que era vasto e variado, desde os Sunbeam Lotus até aos Opel Ascona 400, passando pelos velhos Lancia Stratos, Ford Escort RS 1800 ou os Fiat 131 Abarth.
Mas alguns estavam de olho a outro carro que também fazia a sua estreia nas estradas geladas dos Alpes franceses, o Renault 5 Turbo. O carro tinha sido estreado no verão passado, e o motor Turbo, com mais 120 cavalos de potência da versão mais... domesticada, parecia ser um "bicho", um "mutante" cheio de hormonas, pois o motor estava na traseira do carro e para o controlar naquelas estradas, só mesmo alguém com sensibilidade para fazê-lo.
Pois bem, a Renault parecia ter um bom piloto nessa parte: Jean Ragnotti. "Jeannot", com o seu nariz inconfundível, já tinha experiência em guiar em tudo que fosse quatro rodas e um volante da marca do losango, excepto a Formula 1, e aos 35 anos, Monte Carlo seria mais um rali que iria fazer ao serviço da sua marca de sempre, numa longa carreira.
Como seria de esperar, o primeiro líder foi Hannu Mikkola, no seu Quattro, mas quando saiu de estrada, o rali ficou decidido entre franceses: Jean-Luc Therier e Ragnotti. Só que Therier tinha um "pecado": conduzia um Porsche 911, também um carro de motor traseiro. Mas o pessoal queria ver um francês vencendo numa máquina francesa, e Therier, que liderava desde a especial 12, parecia não abrandar, ou então, que Ragnotti não o apanharia.
Então, tomaram o assunto nas suas próprias mãos: na 24ª especial, colocaram neve na estrada, apanhando Therier desprevenido e despistando-se, dando a liderança a Ragnotti, que não mais largou até final. Era verdade que a Renault marcava história, com o seu triunfo em Monte Carlo, o mais prestigiado dos ralis, mas observar que tinham sido os espectadores a decidir quem triunfaria, mostrava que o nacionalismo bacoco levou a melhor sobre o fair-play. E claro, manchou a importância histórica da ocasião.
O Renault 5 GT Turbo acabou por ganhar mais alguns ralis do campeonato do mundo, até 1986, altura em que terminou a era dos Grupo B. Foi um ator menor - a Renault nunca apostou a sério no Mundial de Ralis, pois os seus recursos tinham sido canalizados para a Formula 1 - mas marcou uma geração de seguidores, que ficaram fãs do carro e do piloto.
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