quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Speeder questiona... João Carlos Viana (jcspeedway)


O convidado que hoje trago aqui, trata-se de alguém que conheço virtualmente há algum tempo. O seu blog fala essencialmente sobre as corridas e pilotos do passado, mas não deixa de fazer algumas considerações sobre a actualidade da Formula 1. E fugindo sempre das notícias, o seu espaço é mais opinativo e mais reflectido, talvez fruto do seu trabalho como engenheiro mecânico. Mas João Carlos Viana, 26 anos, residente de Fortaleza, no Ceará, e confesso louco pelo Ceará Futebol Clube, é o homem por detrás do blog jcspeedway, que não se importa de escrever sobre a categoria que mais ama neste momento: a Formula 1.


1 – Olá João Carlos, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?

Escrevia no fórum do GPTotal, mas sentia que me faltava espaço lá, que precisava de mais espaço e então procurei na internet uma forma de me expressar e falar sobre o que quero acerca da F1. Foi aí que apareceu a ideia do blog e o resto é história.


2 – O nome que ele tem, foi planeado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?

Foi natural. Quase que um estalo! Acho o nome ‘speedway’ forte e quis juntar ao meu nome, como sou conhecido por alguns amigos. Acho que ficou legal.

3 – Antes de começares este blog, já tinhas participado em algum blogue ou site?

Como disse anteriormente, somente no fórum do GPTotal. Na medida em que comentários foram aparecendo no blog, fui conhecendo outros blog e, por consequência, outros blogueiros.

4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?

No dia 07 de fevereiro de 2007. Logo que criei o blog, postei e está lá no arquivo. Aos poucos fui melhorando para, hoje, seguir uma linha que mantenho até hoje. Já fui visitado por aproximadamente 20.000 pessoas de fevereiro deste ano para cá.

5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?

Hum... O que mais me orgulho são das biografias, pois faço uma pesquisa grande, que às vezes dura dias. Das biografias das quais se destacam, me lembro do Eddie Lawson, onde mergulhei no mundo da Motovelocidade dos anos 80 e foi um post bem explicativo sobre o tetracampeão mundial. Tem o de grandes pilotos, como Jim Clark e Elio de Angelis, que tem livros inteiros somente sobre a vida deles. Mas há de pilotos tinham tudo para serem campeões, como Jarno Saarinen e Stefan Bellof, que mesmo morrendo jovens, fizeram uma baita carreira e pude entender um pouco da essência deles. No entanto, um que me deixou orgulhoso nos últimos tempos foi do Mika Hakkinen. Pouco pesquisei sobre a bio do finlandês, pois muito do que ele tinha feito nas pistas estava na minha cabeça e pude escrever livre, leve e solto, me lembrando de bons tempos na minha vida... e o texto ficou muito bom!

6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?

Procuro falar muito sobre história da categoria. Procuro saber de corridas que ocorreram em datas fechadas e me lembrar delas. Tenho alguns resumos de temporada que me ajudam, fora o youtube. Hoje tenho mais prazer em escrever sobre a Formula 1 antiga do que a actual, que, mesmo com essa excepcional temporada de 2008, ainda me falta um algo mais.

7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?

Faço um tour: continental-circus, blogdocapelli, blog-do-ico, blogdogroo, Pandini e do Flávio Gomes. Esses são os diários, mas sempre que posso visito o do Sávio, do Rianov e etc...

8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?

Cara, a primeira lembrança que tenho na vida tem a ver com Formula 1. Quando tinha uns 3 ou 4 anos, estava brincando com meu pai no terraço do apartamento onde morava e ouvi o tema que a Rede Globo fazia para F1. Corri para casa para assistir! Não me lembro qual foi a corrida, mas isso me marcou muito. Também lembro chegando no colégio e vendo o noticiário do acidente do Piquet na Tamburello. De 1989 para cá, lembro de ter assistido todas as corridas, mesmo que não me lembre da corrida em si por completo.

9 – E qual foi aquela que mais te marcou?

Grande Prémio da Europa de 1997. Torci muito pelo Villeneuve naquele dia e após a pancada que levou do Schumacher, não consegui ficar parado, simplesmente assistindo a corrida. Fiquei de pé, torci, bebi água... não fiquei quieto até o canadense ser campeão. Gilles Villeneuve morreu apenas 20 dias depois de eu nascer e cresci ouvindo as histórias dele e por isso queria muito que o Jacques Villeneuve vencesse. Também me marcou o GP da França de 1999 e o GP Brasil deste ano. Não sei bem lhe explicar, mas algo na minha cabeça me dizia que aquela corrida seria diferente e não deu outra!

10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?

Pergunta complicada e só falto apanhar falando nisso! Quando o Senna morreu tinha acabado de completar 12 anos e não acompanhei a carreira de nenhum dos três com os olhos críticos que tenho hoje, mas eu pai jura de pés juntos que o Piquet era melhor do que Senna e conheço muita gente com a mesma opinião. Por isso, cravo no Piquet!

11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?

Coisa de dois meses atrás estava conversando com um italiano que visitava a fábrica onde trabalho e perguntei o que ele achava do Massa. Ele disse que mora vizinho a fábrica da Ferrari e me respondeu: “Se não vencer esse ano, Massa não vencerá nunca mais!” Não tenho tanta certeza nessa afirmativa, mas o Massa demorou muito para amadurecer e corre o risco de ter o mesmo fim de Barrichello. O tempo passou, o título não veio e agora é um piloto aposentado pelos outros.

12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?

Senna. Não na pilotagem, mas na forma com que a Globo quer fazer dele um herói nacional. Isso vem trazendo alguma antipatia para ele, mas acho o Massa um cara muita cabeça.

13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?

Com certeza! Hamilton é um piloto especial e via isso nele desde a GP2. Claro que não esperava um sucesso tão grande logo cedo, mas ele tem tudo para marcar uma era, juntamente com Vettel e Kubica. Se o Massa fosse campeão, me lembraria muito das vergonhosas punições em Spa e em Suzuka, apesar da óptima temporada do Felipe.


14 - Passando à actualidade: de repente, a Honda anuncia a sua retiradada Formula 1. Como sentiste isso?


Assim como os envolvidos... chocado! Nunca tinha visto uma equipe deF1 se acabar tão rápido quanto a Honda. O primeiro rumor da saída da equipe foi no dia do anúncio oficial!


15 - Caso Nick Fry e Ross Brawn encontrarem comprador nos próximostempos, achas que Jenson Button, e especialmente Rubens Barrichello, conseguem manter os seus lugares?

Button ficaria. Ele ainda tem muito cartaz na Formula 1 e o fato de seringlês ajuda. Sem ele, teríamos apenas Hamilton como britânico e issonão seria normal na Formula 1. Apesar dos pesares, Button ficaria, aocontrário de Barrichello. Quando Button encaçapou Rubens em 2006, senti que a passagem do Rubinho pela Honda seria breve e quedificilmente ele arranjaria outra equipe. E é o que está acontecendo...

16 - Max Mosley anunciou agora que fez um acordo com a Cosworth parafornecer motores ás equipas, a dez milhões de euros por ano. A FOTA (Formula One Teams Association) concordou em reduzir os custos. Achas que é este o caminho, uma Formula 1 com custos controlados?
A F1 sempre foi cara, desde os anos 50, mas o actual patamar é umabsurdo! Gastar centenas de milhões de dólares numa única temporadachega a ser irreal. Max "kick my ass, bitch!" Mosley tem seusdefeitos, mas nisso ele acertou, mas tomara que ele não se animedemais e coloque em prática algumas de suas abobrinhas.


17 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e porquê?

Michael Schumacher, sem sombra de dúvidas. O tamanho das façanhas que ele fez só poderá ser medido daqui a alguns anos. Acho que, quando Fangio se aposentou, ninguém na época percebeu a grandiosidade do que tinha feito o argentino, somente anos depois alguém se tocou e disse: “Puxa, o que Fangio fez foi impressionante!” O mesmo deverá ocorrer com Schumacher, mas não agora.

18 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?

MotoGP e F-Indy. A MotoGP passa por um momento mágico, com um fenómeno como Valentino Rossi e um monte de jovens talentosos louco para derrota-lo. A Indy cresceu muito com a junção entre IRL e Champ Car e a tendência é de crescimento. Também gosto do WRC, mas a categoria passar por uma crise preocupante.

19 – E achas que vale a pena falar sobre ele no teu blogue?

Falo sempre que possível sobre as categorias, seja na forma das corridas atuais, seja com biografias de pilotos históricos.

20 - Tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?

Nunca corri de kart, nem mesmo indoor. Quando tinha 17 anos, prestando o vestibular, procurei uma escola de pilotagem que tinha acabado de se formar no kartodromo local, mas o que tenho de altura (1,83m), não tenho de dinheiro. A inscrição era meio cara e, após passar na primeira fase da faculdade pública (UFC), minha mãe me disse “Passa na segunda fase, que te pago essa escola de pilotagem”, só que a segunda fase já estava em cima e não deu para me matar de estudar. Resultado foi que não passei numa faculdade pública, mas numa particular. E o sonho de se tornar piloto morreu ali.

21 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?

Às vezes me ponho no lugar dos pilotos, o que faria em determinada situação, o que falaria em determinada entrevista... Muitas vezes penso no que seria se tivesse a ideia de se tornar piloto quando era novo e começado a correr de kart cedo, mas não deu. É a vida, como disse McQueen.

22 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?

Anos 80. Tenho todos os resumos de 80 à 89 e sempre que posso vejo esses vídeos. Minha mãe pergunta se não me canso de ver a mesma coisa, mas o bom daquela época era a rivalidade, as brigas, principalmente fora das pistas. Outra coisa que reparo é a diferença entre as transmissões de TV actuais e de 25 ou 25 anos atrás. Contudo, também vejo que havia corridas chatas e enfadonhas nos “bons tempos”, como agora.


23 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?

Vi, revi, re-revi... A diferença é que não pude sentir o prazer de ver aquilo ao vivo. Muitas vezes nós assistimos momentos históricos da F1 já sabendo o que irá acontecer. Achamos bonitos, mas muitas vezes não sentimos a sensação do imprevisível, de ver algo que não sabemos o que irá acontecer. Esse sentimento eu tive no GP Brasil de 2008. Mas o que Arnoux e Villeneuve fizeram foi de deixar qualquer arrepiado!


24 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?

Sobre Gilles Villeneuve e a paixão que o seu nome trás a nós, sempre me recorda de uma entrevista de 1997, em Monza. Schumacher e Jacques Villeneuve brigavam palmo a palmo pelo título e o apresentador entrevistou um senhor de idade sobre quem que ele gostaria que vencesse o GP da Itália, tirando um piloto de Ferrari. “Villeneuve”, respondeu o senhor sem titubear. O apresentador ficou estupefacto com a resposta, dizendo que isso atrapalharia Schumacher e sua luta para tirar a Ferrari do longo jejum que vivia. O velho simplesmente respondeu “Eu sei disso, mas ele é filho de Gilles...” Nem precisa dizer mais nada.

25 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?

Antigamente era viciado em GP3 e passava horas e horas baixando patchs para jogar com os carros de 1984, 1986... Era legal ser fechado pelo Senna com a Lotus preta! Hoje estou jogando mais FIFA, mas estou a procura de um jogo de Formula 1!

26 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera?

Um dos prémios que tive foi ter sido convidado a dar essa entrevista. Mas ver um link do meu blog no seu, Speeder, do Pandini, do Ico, do Groo e de outros... Esse é o maior prémio que tive até agora!

27 - E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Umagrelha só de montadoras ou de "garagistas"?

Como era há dez, quinze anos atrás. As montadoras ficariam por trás dosgaragistas, num acordo parecido com a McLaren-Mercedes. A Williams jápassou por Honda, Renault e BMW e, bem ou mal, continua na activaapesar de ter sido abandonada pelas montadoras. Os garagistas só fazemcorrer e é isso que eles querem. As montadoras podem sair da Formula 1 após obalanço final das suas contas.

28 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?

Sinceramente... não! Acho o Di Grassi melhor, mas não muito. No momento em que escrevo, ele está em desvantagem para com Senna no vestibular da Honda, mas testes são testes... O automobilismo brasileiro vive uma crise extensa e de que demorará a se recuperar. Ter quinze, vinte pilotos nas categorias de base europeias demorará a acontecer de novo.

29 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?

Ultimamente está muito difícil até postar. Me acordo às 4 e meia da amanhã, encaro, só de viagens, 150 km diários e chego em casa por volta das sete da noite. Então, vou manter o blog como posso, escrevendo sobre histórias, corridas, algo extraordinários...

Já agora, se quiserem ver as entrevistas anteriores, carreguem nos respectivos links:

13 de Dezembro - Ron Groo (Blog do Groo)

7 comentários:

  1. Mais uma vez, muitíssimo obrigado Speeder, pela oportunidade!

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  2. Muítissimo obrigado pela oportunidade Speeder

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  3. Agora que acaba sua temporada de entrevistas, Speeder, gostaria de saber: você pretende responder às suas próprias perguntas? Estou curioso para conhecer as opiniões do entrevistador.

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  4. Hmmm... auto-entrevista? Eis uma perspectiva interessante. Nâo era uma má ideia, mas perfiro serem outros a fazer. Uma coisa dessas iria soar para muitos como algo super-egocêntrico.


    Posso é desafiar alguém a fazer uma entrevista a mim. Gostaria. E nem importava que usassem as minhas perguntas como base!

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  5. Seria com grande prazer que eu aceitaria o desafio! O que acha?

    Entre em contato comigo (blog.cadernos@hotmail.com ou medici. daniel@gmail.com) para combinarmos isso melhor, caso se interesse.

    (Sinta-se livre para nao publicar este comentário ;-) )

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...