quinta-feira, 25 de junho de 2009

O homem do dia - Amedeé Gordini

O automobilismo é muito mais do que máquinas, circuitos e pilotos. Também existem os homens que, apaixonados pelo automobilismo, decidiram dedicar a sua vida aos seus aspectos técnicos, ajudando a criar, a partir do seu génio, máquinas e técnicas que para nós, hoje em dia nos parecem banais. E que provaram essa genialidade nas estradas e pistas de todo o mundo. E o homem que falo hoje, nasceu há precisamente 110 anos num país, a Itália, mas que se consagrou noutro, a França. Hoje é dia de falar de Amedeé Gordini.


Baptizado como Amadeo Gordini, nasceu em 23 de Junho de 1899 na cidade de Bazzano, no norte da Itália. Cedo ficou órfão de pai e mãe, sendo assim foi parar a uma instituição. Aos dez anos, foi conduzido pelas entidades a trabalhar como aprendiz de mecânico numa oficina da FIAT, onde conhece Edorardo Weber, que mais tarde funda a empresa de carburantes Weber. Por obra do destino tornaram-se amigos. Em 1913, com 14 anos de idade, vai para a Isotta Fraschini, sob a batuta de Alfieri Maserati, um dos irmãos que fundará, um ano depois, com os seus irmãos, a famosa empresa de carros desportivos. Mobilizado na I Guerra Mundial, foi trabalhar como mecânico no Exército na frente italiana.


Em 1918, após o final da Guerra, regressa ao seu trabalho na Isotta, mas começava a fazer preparações especiais em carros FIAT e os inscrevia em competições regionais. No início dos anos 20, muda-se para Mântua, onde trabalhou numa das mais famosas empresas automobilísticas e aeronáuticas da época: a Hispano-Suiza. Continua a preparar os seus carros para as competições e em 1925 faz uma viagem de negócios a Paris. Apaixona-se pela Cidade-Luz, e decide mudar-se para Sursenes, nos arredores da cidade. Decide pedir a nacionalidade francesa e até muda de nome: passa a ser Amedeé Gordini.


Começando com poucos recursos financeiros, mas muita imaginação e esforço fisico, preparou um de seus primeiros sucessos: o pequeno e eficaz Fiat Balilla 508 S. Com preparações devidas, no motor e nos carburadores, conseguiu aumentar a sua potencia de 20 para 36 cavalos. Inscreveu-o no Bol d'Or, e venceu na sua categoria. Também venceu na Bélgica no mítico circuito de Spa-Francorchamps e na França em Reims e em Miramas, na região da Provence.


As suas realizações desportivas chama a atenção de várias pessoas, entre os quais outro expatriado italiano, Henri Theodore Pigozzi, que tinha fundado a Société Industrielle de Mécanique et de Carrosserie Automobile, mas que ficou comercialmente conhecida pelas sua sigla: SIMCA. Tal como Gordini, Pigozzi também tinha trabalhado para a FIAT (tinha sido seu representante na França), e queria apresentar a sua nova marca nas pistas. Sendo assim, pediu a Gordini para ajudar a fundar e desenvolver um departamento de competição, sob sua direcção. Gordini aproveitou a oferta e em 1937 faz uma versão modificada do Simca 5.


Com um motor de 568 cc, Gordini modifica-o, dando-lhe mais cavalos, e inscreve-a nas 24 Horas de Le Mans, onde vence na sua categoria. Para além disso, leva-o para o Audódromo de Montlhery, nos arredores de Paris, onde bate o redorde mundial de maior distância, onde faz 4950 km em 48 horas. Esta performance faz com que lhe comecem a chamar de "Le Sorcier" (O Feiticeiro).


A II Guerra Mundial interrompe as actividades da SIMCA e da Gordini, mas quando esta termina, em 1945, Gordini regressa à competição, desta vez construindo chassis para a competição, nomeadamente os Grand Prix. quando a formula 1 começa, em 1950, constroi o Type 15, onde representa as cores francesas ao lado da Talbot-Lago. quando esta se retira, no final de 1950, a Gordini fica. Mas as tensões com Pigozzi e a Simca, relacionadas com a competição (Pigozzi não queria estar na Formula 1, Gordini sim), levaram a que a parceria fosse desfeita em 1951.


Assim sendo, continua em 1952, desta vez sozinho, e desenvolve o Type 16, que nesse ano consegue os melhores resultados de sempre na Formula 1: dois terceiros lugares, um para Robert Manzon e outro para Jean Behra. Também consegue acabar as 24 Horas de Le Mans no sexto posto, e o melhor na categoria de 2.5 litros. Isso tudo fez com que fosse condecorado no ano seguinte com a Legião de Honra.


Mas todas estas honras não impulsionam os sucessos na pista. Apesar de lançar o Type 32 em 1954, os resultados são mediocres e em 1957, decide encerrar as suas actividades na Formula 1. Pouco depois, a Renault o contacta a pedir para tomar conta do seu departamento de competição, no sentido de fazer versões alimentadas dos seus modelos. Em 1958 pega no Renault Dauphine, de motor traseiro, acrescenta-lhe dois carburadores e mais oito cavalos ao original, e leva-o a competição, onde ganha o Rally de Monte Carlo e a Volta à Corsega daquele ano.


Em 1962, a Renault lança no Salão de Paris o Renault 8, um carro de três volumes sem maiores pretensões em termos de potência. Contudo, pediram a Amedeé Gordini para que o transformasse em um carro veloz, estável e acessível para quem desejasse emoções fortes ou quisesse se iniciar na competição automóvel. Assim sendo, em 1964 era lançado o R8 Gordini, e foi uma “pedrada no charco” naquele tempo. A versão com a cor azul França foi a preferida, pois tinha duas faixas finas, de cor branca, sobre todo o carro, do “capot” até a tampa traseira.


Para incentivar os jovens franceses a iniciar na competição, criou-se em 1966 a Taça R8 Gordini, que se realizava nos vários circuitos espalhados pela França (Charade, Reims, Rouen...), e permitou a iniciação automobilística de pilotos que marcaram as pistas e as classificativas de todo o mundo nas décadas de 70 e 80, espalhando o nome da França em todo o Mundo. Patrick Depailler, Jean-Pierre Jabouille, Michel Leclere e Jean-Pierre Jarier, nos automóveis, Jean Ragnotti, Jean-Luc Therier, Bernard Darniche, nos ralies, foram alguns dos que iniciaram ou desenvolveram a sua carreira competitiva neste modelo preparado pela Gordini.


Em 1969, a Renault compra de vez a Gordini e incopora-o no seu departamento de competição. No ano seguinte, lançam o Renault 12 Gordini, mas o impacto é menor do que no modelo anterior. Mas isso não o impede de alcançar mais sucessos. A partir de 1975, envolvem-se na Endurance, nomeadamente com o modelo Alpine A442, para tentar ganhar as 24 horas de Le Mans. Ao mesmo tempo que isso acontecia, começam sériamente a pensar usar o seu pequeno, mas potente motor V6 Turbo para a aventura da Formula 1. O projecto começa no final de 1975, e estreia-se no GP de Inglaterra de 1977, ás mãos de Jean-Pierre Jabouille. No ano seguinte, ás mãos de Didier Pironi e Jean-Pierre Jassaud, o A442 vence por fim as 24 Horas de Le Mans, alcançando o objectivo de ver um carro francês a vencer a mítica prova de resistência.


Tudo isso Amedeé Gordini ainda teve tempo de assistir, como um amante intenso de carros e das corridas. Gordini acabou por morrer a 25 de Maio de 1979 em Paris, aos 79 anos de idade, na cidade que escolheu viver, e no país que adoptou como pátria. A sua sepultura encontra-se no Cemitério de Montmartre. O local onde montou a sua oficina, em Sursennes, chama-se agora Place Amédée Gordini.


Fontes:

http://fr.wikipedia.org/wiki/Amédée_Gordini
http://autosport.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=as.stories/65810
http://autosport.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=as.stories/58272

3 comentários:

  1. Excelente post, Speeder. Trabalho bem minucioso.

    Outros aniversariantes famosos de hoje são o Johnny Herbert e o Patrick Tambay, que chegou aos 60 anos. Acabei de publicar um post sobre o piloto francês: http://migre.me/2PyI

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  2. Obrigado, Alex. Tava a ver que ninguém comentava... LOL!

    Tenho guardados no arquivo outras personagens como ele: Karl Abarth, Ferruchio Lamborghini... já publiquei as biografias do Ken Tyrrell, Colin Chapman, Guy Ligier e Alfred Neubauer, por exemplo. São bons exercícios.


    Sobre o Herbert e o Tambay, já tinha publicado biografias sobre eles. São dois bons segundos pilotos, que marcaram uma época e que tiveram oportunidade de vencer corridas. Principalmente o Herbert, que caso não tivesse acontecido aquele acidente em Brands Hatch, provavelmente teria sido melhor do que foi.

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  3. Òtimo texto, Paulo. Muito bom mesmo, parabéns. Me lembro de um pequeno Gordini na família, quando era pequeno....

    abraços

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...