quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O estranho caso dos cinquenta milhões

Ando a seguir desde há dois dias no blog do Joe Saward as noticias sobre um senhor chamado Gerhard Gribkowsky. E quem é ele? É um alemão, antigo funcionário do banco BayernLB, falido em 2008. E o que está a fazer agora? Está numa cadeia bávara, por casa de uma acusação de fraude e evasão fiscal, devido a cinquenta milhões de euros encontrados nas suas contas e no qual não conseguiu justificar devidamente à policia. E o que é que tem a ver com a Formula 1? Tudo, se recuarmos uns dez anos no tempo.

Lembram-se de um artigo que escrevi há umas três semanas a explicar como é que o Tio Bernie chegou ao que chegou, a deter metade da Formula 1 e a explorar como se fosse o seu quintal? Se sim, então devem-se recordar que em 2000, ele fez com Max Mosley o negócio do século, aquele acordo centenário onde a troco de 350 milhões de dólares, Bernie Ecclestone ficaria com os direitos da Formula 1 até ao século XXII.

A seguir, Ecclestone vendeu esses direitos á alemã Kirch, que era um dos magnatas das telecomunicações da altura. Mas a firma entrou em falência em 2002 e os direitos foram geridos por um banco local, o tal BayernLB.

O Tio Max, que recebeu os tais 350 milhões, disse que era um negócio salvador da Formula 1, mas a Comissão Europeia topou logo que isso era monopólio e exigiu investigar o negócio. Para os satisfazer, meteu esse dinheiro numa fundação criada para esse efeito com o objectivo de diminuir a sinistralidade rodoviária no mundo. E em compensação, o Tio Bernie lhes deu uma "mesada" que terminou no final de 2010. SE calhar se percebe agora a razão pelo qual Jean Todt quer mais dinheiro da FOM...

Quanto ao negócio, durante o tempo em que esteve nas mãos do banco, este nomeou um administrador para trabalhar em ligação com Ecclestone, através da "holding" SLEC. Quem? Gribkowsky. As coisas ficaram assim até 2005, quando a SLEC e a BayernLB venderam o negócio para a CVC Capital Partners. E deve ser aí que Gribkowsky ficou com os tais 50 milhões, como comissão de venda. Só que pela lei alemã, ele não poderia ter feito isso, porque era funcionário do banco e não consultor externo.

E o mais engraçado no meios disto tudo é que ele poderia ter-se safo se o banco não tivesse metido em negócios ruinosos na compra de outros bancos regionais na Austria e Eslovénia e entrado em falência no final de 2008. Quando foi interrogado pela policia alemã, no inicio desta semana, não conseguiu explicar a origem do dinheiro e foi detido.

A CVC já veio ontem à noite a terreiro com um comunicado oficial afirmando desconhecer o negócio e nada saber do dinheiro descoberto nos cofres de Gribkowsky. Bernie Ecclestone, sempre desbocado e com piada pronta para umas coisas, guarda um silêncio sepulcral sobre outras, como neste caso. A questão que se coloca é se isto é um caso local ou é apenas a ponta de um novelo maior, de dimensões e e impacto ainda desconhecidos. Os próximos desenvolvimentos dirão se a lama deitada agora no ventilador irá ou não atingir as camisas brancas do Tio Bernie e do Tio Max, e se os seus adversários como Ron Dennis ou Jean Todt irão usar isto para tentar desfazer os negócios feitos por ele, demolindo o império construido pelo octogenário "anãozinho tenebroso".

Mas uma coisa é certa: esta pode ser mais uma nuvem na tal tempestade que se avizinha e do qual tenho falado desde há algumas semanas para cá. E que à medida que vemos os detalhes dos negócios opacos que Ecclestone fez nos últimos dez anos, no sentido de se tornar o dono do dinheiro da Formula 1, começamos a dar razão aos que se queixam de que ele tem a parte de leão do negócio e o moldou à sua imagem. Resta saber qual foi a parte onde ele violou a lei...

1 comentário:

  1. Paulo, tenho pavor de imaginar que a F1 pode ruir por causa desse senhor de cabelo horrível...

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...