Domingo iria ser um dia muito longo. Tão longo que alguns pilotos, no final de sábado, decidiram ajustar os seus despertadores para as 4:30 da manhã. As circunstâncias eram anormais: por causa da chuva constante, a qualificação fora adiada para domingo de manhã, a partir das 7:30, e depois dela, os pilotos andaram a reparar os carros para que pudessem estar prontos a tempo de correram.
Como se esperava, à hora da corrida, as nuvens pairavam, cinzentas e ameaçadoras, sobre a pista. A pista estava húmida, e alguns duvidavam que mesmo com toda esta antecipação, se esta corrida iria chegar até ao fim.
A grelha estava toda baralhada. E mesmo baralhada! Max Verstappen, por exemplo, era o terceiro a contar do fim, por causa da má posição na grelha e da penalização que tinha de cumprir. Pior que ele, só Nico Hulkenberg e Guanyou Zhou. Em contraste, Lando Norris, o piloto que caça Max no campeonato, é o poleman e tinha uma grande chance de apanhá-lo na classificação geral, com George Russell e... o Racing Bulls de Yuki Tsunoda.
E um ausente: Alexander Albon, que deveria partir de sexto. Carlos Sainz Jr iria partir das boxes.
Todos os pilotos arrancavam com os pneus verdes, os intermédios, apesar de não estar a cair naquele momento. A previsão meteorológica fala que choverá 20 minutos depois da partida, e Max terá, claro, de passar toda esta gente para chegar aos da frente, e nos pontos.
E logo na volta de apresentação... Lance Stroll saía da pista na curva 4, a Descida do Lago, caindo na gravilha. Resultado final? Primeira desistência da corrida, partida abortada e menos uma volta na contagem final. Mais alguns minutos para uma volta de apresentação, e as nuvens apareciam ameaçadoramente no céu, querendo despejar o seu conteúdo. Ao mesmo tempo, as bancadas cantavam, jubilantes. Não lhes interessava muito o que passava na pista, eles faziam a sua própria festa.
Nova volta de formação, tudo correu bem... e na partida, Russell conseguiu passar Norris, e enquanto não houve colisões entre eles, Max começou a passar piloto atrás de piloto, chegando a décimo no inicio da segunda volta. Em contraste, Pérez fez um pião e caiu para o fundo do pelotão. Logo na segunda volta, começou a cair pingos de chuva no terceiro sector, o da meta, mas isso não impediu dos pilotos acelerarem na pista. Tanto que Max era nono na quinta volta, passando Pierre Gasly.
Por esta altura, Norris já estawa na traseira de Russell, tanto passá-lo, com eles a afastarem de Tsunoda, o terceiro. Atrás, Max corria muito bem na chuva - quase um segundo mais rápido que boa parte do pelotão - e aproximava-se dos da frente. Na décima, passou Piastri e subiu para sétimo, e depois, passou Lawson. Entretanto, Hamilton despistou-se e foi apanhado por Franco Colapinto, que o atacou na travagem para o S de Senna. Quando o argentino passou, a multidão - parte dela argentina - entrou em delírio.
Agora, as coisas estavam mais calmas. Max estava trancado atrás de Charles Leclerc, em sexto, num comboio liderado por Yuki Tsunoda, com Esteban Ocon entre eles. Todos se defendiam nas suas posições, e Max via os da frente irem embora. Na frente, Russell tinha dificuldades em aguentar Norris na liderança, mas contava com as condições para manter o comando.
Max tentou atacar Leclerc na volta 23, mas o monegasco defendeu-se bem, na sua quinta posição. Charles Leclerc foi o primeiro a entrar nas boxes, na volta 25, mantendo intermédios, com Nico Hulkenberg a fazer o mesmo na volta seguinte. Na mesma altura, Norris atacava Russell na altura em que a chuva caia com mais força, e Nico Hulkenberg se despistava na curva 1, ficando preso por momentos. Era a volta 28, e o Safety Car Virtual entrava, e as boxes estavam agitadíssimas.
Acabado o Safety Car Virtual na volta 29, com Norris e Russell nas boxes, colocando intermédios, Max ficou na pista, acabando no comando. Tsunoda, Lawson e Pérez colocaram pneus para chuva total, porque por esta altura... era o dilúvio. Foi o suficiente para a entrada do Safety Car, imediatamente depois de Norris ter passado Russell na Reta Oposta. E no meio disto tudo, quem liderava? Esteban Ocon, no seu Alpine, com uma vantagem de sete segundos antes da entrada do Safety Car da Aston Martin. Era a 30ª volta.
Mas na volta 32, a bandeira vermelha. A razão? O Williams de Franco Colapinto bateu forte na subida para a reta da meta, e o carro ficou no meio da pista. Ainda não tinham chegado à metade da prova, o que até foi bom, quando muitos pensavam no pior.
Os minutos foram passados com os carros a esperar por uma melhoria das condições, que só aconteceram por volta das 14 horas locais. A chuva tinha deixado de cair, com os pilotos a falarem nas estratégias para o futuro, sobre se continuariam com os pneus de chuva ou os intermédios. E no meio disto tudo, descobriu-se que Hulkenberg regressou com ajuda, e iria ser desclassificado.
A corrida recomeçou na volta 34, com Ocon na frente da corrida... com Ollie Bearman e Guanyou Zhou a sairem de pista. Nessa volta, os pilotos tentaram ter aderência com pneus frios, e alguns tinham dificuldades nisso, como Norris - que perdeu o lugar para Russell - e Leclerc, que foi desafiado por Piastri, mas aguentou. E na frente, Ocon começava a afastar-se do pelotão.
Os pilotos lutaram por aderência, e as coisas estavam complicadas. Visibilidade reduzida, e na volta 40, nova entrada do Safety Car, por causa do despiste de Carlos Sainz Jr, que acabou nas barreiras. Todos juntos, esperando pela limpeza e recomeço. Que aconteceu na volta 43, com Ocon na frente de Max.
O recomeço aconteceu com... Max ao ataque. Passou Ocon e começou a ir embora, mostrando ousadia, e que ele tinha tudo para ganhar. Em contraste, Norris saiu de pista no S de Senna e caiu para sétimo, e Fernando Alonso foi pior: despistou-se e caiu para último. Nas voltas seguintes, Norris tentou recuperar o tempo perdido, no meio do mau tempo e da visibilidade reduzida, mas depois, descobriu-se que ele era bem mais lento em termos de tempo que Max, numa média de segundo e meio por volta. Na 56ª passagem pela meta, altura em que os pontos iriam ser recolhidos na totalidade, Max tinha quase 10 segundos de vantagem sobre Ocon.
A parte final mostrou Russell a tentar apanhar Pierre Gasly para chegar ao pódio, mas a realidade foi esta: apesar das lutas e diversas tentativas de ultrapassagem, nada aconteceu de especial. E na frente, dando um avanço de 13 segundos sobre a concorrência, Max Verstappen rumava à meta para um triunfo daqueles que ficam nos livros, e com toda a certeza, um título mundial que, se calhar, já era seu desde o inicio.
E assim também acabava um dia muito longo em Interlagos. A coisa boa é que depois disto, há uma pausa de duas semanas até Las Vegas, no regresso à America.